Há os nervos sensitivos, os nervos motores, e os mistos, que combinam fibras sensitivas e motoras, podendo haver fibras autonômicas, ou seja, que transmitem sensações e motricidade dos órgãos internos (leia mais sobre o sistema nervoso autônomo aqui). Vamos falar primeiro dos nervos sensitivos.
Como já falado muito neste blog, o cérebro comunica-se com o meio externo através de ramificações que entram e saem da medula espinhal, canal de comunicação do cérebro com o resto do corpo. Estas ramificações são justamente os nervos periféricos. Há vários tipos de nervos pois há várias espécies de sensações. Há sensações de dor, calor, frio, tato leve, tato profundo, pressão, vibração, sensação de posição do corpo no espaço.
Estas sensações são sentidas na periferia do corpo ou nos tendões/músculos (no caso da vibração e da posição do corpo no espaço), e são transmitidas, mais rapidamente ou mais lentamente (dependendo do tipo de nervo que a transmite) ao cérebro.
Cada sensação tem suas variações. Por exemplo, vamos levar em conta a dor. Imagine uma cólica, dor mal localizada, que você demonstra passando a mão em todo o abdome. Essa dor é sentida nos órgãos internos, e trafega em nervos com pouca camada de mielina (leia mais aqui para entender isso melhor). Daí a dor ser mal localizada, difusa. Já a dor de um corte com uma agulha é fina, e bem localizada. Você sabe exatamente onde foi a lesão. Essa dor trafega em fibras mais mielinizadas, e portanto trafega com velocidade maior em direção ao cérebro.
Da mesma maneira, o calor e o frio têm suas variações, e dependendo da intensidade de ambos, podem ser sentidos como calor ou frio, ou como dor se forem sentidas temperaturas extremas. No entanto, tanto as sensações de temperatura como dor trafegam em fibras mal mielinizadas, e portanto não são tão bem localizadas.
Já as sensações de tato fino, como o reconhecer algo na mão com o tato, vibração e posição no espaço trafegam a velocidades enormes de cerca de 400 Km/h (isso mesmo). São sensações finas, rápidas e precisas.
Fora isso, os nervos motores saem do cérebro, e inervando os músculos permitem a movimentação do corpo. São nervos grossos e densamente mielinizados.
Os nervos autonômicos são finos, pobremente mielinizados. Suas sensações provêm dos órgãos internos, como coração pulmões, intestinos e bexiga, e servem para controlar a função destes órgãos. Já a motricidade dos órgãos, como dos intestinos, ureteres, estômago e esôfago, que não estão sob nosso comando, está também a cargo de fibras autonômicas.
Mas voltando ao assunto inicial, o que é a neuropatia periférica?
É a doença destes nervos que transmitem sensações de dor, calor, tato, vibração e posição, fornecem inervação autonômica e motora. E a doença destes nervos leva a vários sintomas, dependendo do tipo de nervo lesado, se é sensitivo puro (neuropatia sensorial), motor puro (neuropatia motora) ou misto (neuropatia sensitivo-motora), dependendo da distribuição dos nervos lesados, se são lesados todos os nervos de uma extremidade, geralmente começando pelas pernas (polineuropatia), se são lesados nervos diferentes em várias partes do corpo (mononeuropatia múltipla) ou se é lesado um único nervo (mononeuropatia). Depende ainda do tipo de sensação afetada (neuropatia de pequenas fibras, quando há prejuízo da dor e temperatura somente ou principalmente; neuropatia de grandes fibras, quando há prejuízo mais do tato fino, posição, vibração e motricidade; e neuropatia mista, quando há acometimento de ambos os tipos de fibras).
O interessante é que estes sintomas são o principal aliado do médico na pesquisa das causas de neuropatias.
Há neuropatias somente de pequenas fibras, somente de grandes fibras, somente sensitiva, ou motoras. Há neuropatias que começam pelas pernas (as mais frequentes) e as que começam pelos braços. E há neuropatias que acometem somente um nervo em uma localização específica, ou acometem mais de um nervo em várias distribuições. Há ainda neuropatias que afetam somente a bainha de mielina e não afetam o nervo em si (desmielinizantes), afetam mais o nervo que a bainha de mielina (axonais) e as neuropatias que afetam ambos mielina e nervo (axonais e desmielinizantes). E aqui também, podemos provar que há doenças que levam mais a neuropatias desmielinizantes, mais neuropatias axonais, e mais neuropatias mistas.
O médico, ao tirar a história completa da doença do paciente, e ao fazer o exame com o martelinho, o diapasão para testar a vibração, e o uso de algodão ou gazes para testar a sensibilidade de cada parte do corpo, tenta descobrir a causa mais provável da neuropatia para chegar ao melhor tratamento.
E a eletromiografia ou EMG (leia mais sobre ela aqui)? Serve justamente para auxiliar o médico na pesquisa destas causas de neuropatia. A EMG, através do uso de eletrodos que dão choquinhos leves, e o uso de agulhas que penetram nos músculos, auxilia a determinar:
1. Se neuropatia é sensitiva, motora ou mista
2. Se a neuropatia é de grandes ou de pequenas fibras
3. Se a neuropatia é mais evidente nas pernas ou braços
4. Se a neuropatia é axonal, desmielinizante ou mista
5. A localização dos nervos afetados
Ou seja, a EMG auxilia o médico no seu tratamento, funcionando como um exame clínico melhorado.
Nos próximos posts, falaremos mais das neuropatias periféricas, suas causas e seus tratamentos.