Sonambulismo é um transtorno do sono caracterizado como uma parassonia, ou seja, eventos físicos ou experiências que ocorrem durante o sono ou logo ao despertar. Há várias formas de parassonias, sendo um sonambulismo uma delas.
Casos de sonambulismo já eram de conhecimento de Hipócrates, pai da medicina, na Grécia do século V antes de Cristo e pelo filósofo naturalista Aristóteles no século IV antes de Cristo. O médico latino Galeno, no século III da era cristã (cujo pensamento dominou a medicina medieval) escreveu sobre uma experiência própria de sonambulismo. Na literatura, Lady MacBeth, da obra MacBeth de Shakespeare, anda e fala durante o sono.
O entendimento do sonambulismo como um fenômeno físico veio somente em meados do século XX, quando descobriu-se as fases Não REM (NREM) e REM (Rapid Eye Movements, ou Movimentos Rápidos dos Olhos) do sono. Nas últimas duas décadas, tem-se descoberto mais sobre a fisiopatologia do sonambulismo e sobre seu tratamento. Na nova classificação dos transtornos do sono de 2005, o sonambulismo é definido como um transtorno do despertar, pelas suas características ao exame de eletroencefalograma.
O sonambulismo caracteriza-se pelo caminhar durante o sono, com dificuldade de se acordar o paciente, confusão mental após o despertar de um episódio de sonambulismo, amnésia (perda de memória) para o evento, comportamentos de rotina que ocorrem em momentos inapropriados durante o sono (sair de casa de madrugada enquanto dormindo, vestir-se para ir trabalhar durante o sono), comportamentos inapropriados ou sem sentido (ocorrendo durante o sono), ou mesmo comportamento perigoso (como sair à rua enquanto se dorme).
O sonambulismo geralmente se inicia nas primeiras horas da noite. O paciente pode andar sem problema através da casa, ultrapassado obstáculos, e os seus olhos podem estar abertos (o que pode ser inclusive assustador a quem o assiste). Um paciente com sonambulismo pode apresentar este episódio uma vez a cada alguns anos a várias noites seguidas. Um adulto sonâmbulo foi uma criança sonâmbula, já que estes problemas são mais comuns em crianças. Os episódios podem durar de minutos a horas.
Pacientes portadores de sonambulismo podem apresentar outras doenças, como síndrome da apneia do sono e sono fragmentado (sono entrecortado) por vários fatores. Em geral, é mais comum entre os 4 e 12 anos de idade, e a maior parte resolve completamente com o adiantar da idade. Há história familiar em uma boa parte dos casos, e gêmeos monozigóticos (verdadeiros) têm mais chance de compartilhar o traço que gêmeos dizigóticos.
Mas raramente o sonambulismo pode aparecer em adultos, em geral naqueles portadores de doenças que fragmentam o sono (como a apneia do sono) e no uso de algumas medicações. Uma parte dos pacientes adultos mantêm relação com a síndrome das pernas inquietas (leia mais sobre isso aqui).
O grande problema que os familiares encontram no paciente que apresenta sonambulismo é como impedi-lo de se machucar. A primeira coisa que se deve fazer é levar o paciente ao neurologista, para que, através de uma história clínica, descubra-se se há algum fator que precipite as crises de sonambulismo, ou alguma condição clínica ou medicação em uso que esteja causado o problema. Caso haja, este precipitante (ou precipitantes) deve ser eliminado.
Trancar a casa, guardar a chave do carro, e outras medidas para evitar que o paciente cause danos a outros ou a si próprio podem ser tomadas, mas a ajuda de um profissional (neurologista) é sempre indicada.
O diagnóstico é clínico, através da história contada pelos familiares/amigos. O entendimento completo do sono do paciente, sua hora de dormir e de acordar, como é seu sono (em bloco ou fragmentado), quantas vezes o paciente acorda de noite, se há episódios de insônia, se há uso de medicações ou se há outras doenças ou condições associadas, como apneia do sono ou pernas inquietas, são informações vitais ao bom entendimento e ao tratamento da condição. O relato de familiares ou do cônjuge deve ser tomado, pois é muito importante já que o próprio paciente não consegue retratar todo o episódio.
O uso de exames pode ser indicado pelo médico que atende o paciente, como a polissonografia.
O curso da condição é em geral benigno, sendo os episódios temporários. Em crianças, tipicamente os eventos somem ao final da adolescência.
Em relação ao tratamento, deve ser discutido com um neurologista em consulta. Mas adianto que uma boa noite de sono, em local escuro e calmo, espontâneo e em bloco, é um bom começo para um bom tratamento.