Já vimos a estrutura dos órgão que controlam o equilíbrio do corpo. Vimos algo sobre o utrículo, o sáculo, as otocônias e os canais semicirculares no post anterior. Vimos, pelas figuras, que há três canais semicirculares. Um horizontal, um anterior, e um posterior. Cada um está em um plano diferente, ou seja, eles não estão organizados um atrás do outro, mas um em ângulo reto com o outro (cerca de 90 graus entre um e outro), formando uma figura tridimensional.
As otocônias, como vimos, estão grudadas na gelatina do sáculo e do utrículo. Mas em certas situações, como na VPPB, elas podem se deslocar e sair de seu local normal. Isso pode ocorrer espontaneamente, sem causa aparente (idiopático) em idosos principalmente mas em jovens também, após trauma craniano, após viagens a grandes altitudes, após mergulhos, após idas a parques de diversões.
Nestes casos, as otocônias se deslocam, e vão parar dentro de um canal semicircular, na maior parte das vezes no posterior. E é aí que o bicho pega!
Como vimos, os canais semicirculares são preenchidos por um líquido, chamado de endolinfa. É ele que, através de sua inércia, faz os cílios na ampola do canal virarem de um lado para outro, e assim dizem ao cérebro se a cabeça está rodando para a direita ou para a esquerda, e em que plano a cabeça está rodando. Faça uma experiência simples em casa e veja isso ocorrer. Pegue um tubo flexível e transparente, e coloque água nele até encher. Tampe uma das saídas, e a outra coloque um pedaço de pano com alguns fios soltos, simulando cílios. Agora, simplesmente vire o tubo para um lado ou para o outro, devagar, e você verá que os fios vão ora para um lado, ora para o outro. Pois é, na sua cabeça, também há muita física e matemática em jogo, e você não sabia disso, né?
Os cílios quando estimulados a se mover indicam ao cérebro se a cabeça vai para um lado ou outro. Bem, eu quando criança costumava brincar de girar. Algo bem simples, e nada caro. Só ficava em pé no gramado de casa e girava fortemente para um lado. Se você for idoso, hipertenso, diabético, tiver dornça nos ossos, cardiopatia ou tontura grave, NÃO faça isso! Quando eu parava, as coisas ao meu redor continuavam a se mover, e eu geralmente caia para o lado contrário ao qual girava. Isso ocorre por que eu estava estimulando de forma inercial os cílios, e quando eu parei de me mover, a endolinfa continuava em movimento, e mesmo parado, o labirinto mandava um estímulo ao cérebro dizendo que eu estava girando, ainda! E vinha a tontura, uma má comunicação entre o exterior e o interior.
Agora que você aprendeu mais um pouco, imagine dentro daquele tubo que você construiu cheio de água, uma pedra dentro dele. Ao invés de o líquido se mover de forma leve e suave de um lado para o outro, vai haver um turbilhonamento, por que há algo dentro do líquido, bem mais dendo e pesado. E quando o líquido se mover, o turbilhão vai fazer os cílios irem ora para um lado, ora para o outro, ou entrar em conflito. É isso que ocorre na VPPB, a labirintopatia (doença do labirinto) mais comum, e a causa mais comum de tontura periférica por doença do labirinto.
E para fazer este turbilhão ocorrer, não precisa de muito. Se a otocônia estiver lá dentro do canal, basta olhar para cima, ou virar na cama de um lado para outro. E lá vem a tontura, forte, intensa, de início rápido, com náuseas, vômitos, mal-estar, palidez, e durando segundos. Mal começa, já acaba. Mas quando a otocônia se prende na ampola do canal é outra história, a ser contada depois.
Quem faz o diagnóstico disso? Tanto o otorrinolaringologista como o neurologista! E é um diagnóstico muito fácil de fazer. Ao virar o paciente para um lado ou outro, além da tontura, o médico vai ver um balançar do olho para baixo, para o lado do ouvido com o porblema, que é o nistagmo. Esta é a causa da oscilopsia, a ilusão de algo está se movendo, mas sem estar realmente se movendo.
E o tratamento disso? Não precisa de remédios. Bastam algumas manobras que médicos especializados sabem fazer para colocar a pedrina de volta no seu local. Simples. E como esta doença pode retornar em cerca de metade dos casos, o paciente próprio pode aprender a colocar a otocônia de volta. É só o médico ensinar.
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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista