A relação cérebro, comportamento e cognição tem
muitas implicações para a neuropsicologia, norteando dessa forma alguns dogmas
centrais sobre as teorias psicológicas que surgiram entre os séculos 19 e 20, ...e assim a neuropsicologia tem uma história de
progressão, que durou séculos.
Os primeiros
registros que associavam o cérebro aos processos mentais, ocorreram no Antigo
Egito, entre 3.000 e 4.000 a.c.
O
egiptólogo Edwin Smith, ao descobrir um papiro datado em 1.700 a.c, deixou
clara a associação entre alterações na expressão da linguagem, após uma lesão
na região da cabeça.
Na
Biblia cristã, no livro de Daniel, capitulo 4, versículo 2, encontra-se outra
associação entre o sonho e a região da cabeça; porém grande parte das
civilizações antigas, defendiam o coração como sede da alma, e consequentemente
a associação com os processos mentais.
Importantes
filósofos gregos como Aristótoles por exemplo, defendiam tal ideia. Este
filósofo acreditava que o coração se associava a processos mentais, processos
anímicos, onde o cérebro teria como função o papel de radiador, esfriando a temperatura do
sangue. Tal hipótese deixava claro o desprezo dos gregos e egípcios pelo cérebro, o que
ficava evidente no processo de mumificação, pois dentro desse processo o cérebro
era uma das poucas regiões que era retirada e descartada, considerado assim na
vida após a morte, como totalmente descartável.
Hipócrates
[460 - 370 a.c] por sua vez defendia a associação entre cérebro, comportamento
e processos mentais, sendo esses normais ou patológicos.
Portanto,
se por um lado nos dias atuais, a hipótese cerebral se apresenta como algo óbvio, por outro lado a hipótese
cardíaca ainda marca sensivelmente nossa cultura, pois esta é impregnada pela
visão cardiocêntrica. Assim sendo, na medida em que a hipótese cardíaca se
consolidou, surge uma nova questão: se a mente está no cérebro, onde está no
cérebro a mente?
Surge
então a hipótese ventricular, defendida por Galeno, onde um de seus principais
adeptos era a própria Igreja, que tentava resolver o grande problema de
localizar a alma no corpo. Nemésio por exemplo, bispo de Emésia, na atual Siria, foi um dos que mais defenderam esta hipótese.
Durante
a Idade Média e o Renascimento, a hipótese ventricular continuou a influenciar
o pensamento, evidenciando-se nos modelos propostos por Descartes e da
Vinci.
Mais
tarde, a partir de estudos da anatomia e neuropatologia, deu-se a superação da hipótese ventricular,
surgindo então uma nova questão: se o
que importa é o tecido cerebral, e não os ventrículos, como este tecido
cerebral atua no controle do
comportamento e da cognição?
Os pioneiros
em tentar localizar funções cognitivo-comportamentais em centros cerebrais
específicos, foram os neuroanatomistas Gall
[1757 - 1828] e Spurzheim
[1776 - 1832]; porém os primórdios da neuropsicologia foram atribuídos a Broca e
a Wernicke. Entretanto, o termo neuropsicologia em si só foi usado no século
seguinte, através de Sir Willian Osler
[1849 - 1919], o famoso clínico geral anglo-canadense, em uma de suas conferências em 1913, apesar de o mesmo não ter dado uma
definição formal do que seria a neuropsicologia, já que isso só se daria na segunda metade do século
20.
A
neuropsicologia só surgiu no Brasil a partir da integração de esforços
interdisciplinares, envolvendo médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas
ocupacionais, assim como outros profissionais, e entre os pioneiros
neuropsicólogos brasileiros destaca-se o nome da psicóloga Cândida Helena Pires Camargo, fundadora de um
dos primeiros serviços de neuropsicologia em uma universidade brasileira, no
Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo. Além disso, em 1989, foi
fundada a Sociedade Brasileira de Neuropsicologia.
Concluindo,
pode-se afirmar que a neuropsicologia é uma disciplina científica recente,
ainda com muitos desafios em nosso contexto, onde o que mais se destaca é o
desenvolvimento de uma mentalidade interdiscipinar entre os diferentes
profissionais que atuam na área, mentalidade esta capaz de superar as posturas
corporativistas, tão nocivas a prática da neuropsicologia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista