Antes de mais nada, gostaria de enfatizar que este artigo não se propõe a propagar os benefícios da Vitamina D e muito menos o seu uso pela população. Caso você queira conhecer mais e usar a vitamina, procure seu médico.
Em primeiro lugar, o que é uma vitamina?
Em primeiro lugar, o que é uma vitamina?
De acordo com o Free Dictionary (leia aqui), vitamina é qualquer composto orgânico lipo ou hidrossolúvel (explicarei estes temos logo) essencial em minúsculas concentrações para o crescimento normal e atividade do corpo, e obtido naturalmente de plantas e animais.
Orgânico significa que o composto é formado por um esqueleto de átomos de carbono (diferente dos compostos inorgânicos, formados por ligações entre sais, ácidos e bases). Lipossolúvel é um composto que se dissolve facilmente em meio gorduroso, enquanto hidrossolúvel é o composto que se dissolve facilmente em água.
Há as vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e as hidrossolúveis (as principais sendo as do complexo B, como a B1, B2, B3, B5, B6, B9, B12, ácido fólico e outras).
Já a vitamina D é mais do que uma vitamina, já que além de participar de processos corporais essenciais, ainda modula outras atividades, inclusive atividades ligadas ao nosso código genético. Fora isso, uma vitamina é um composto essencial ou seja, não existe no corpo e necessita ser adquirido pela alimentação. A vitamina D pode ser adquirida pela alimentação, ou mais comumente, pela transformação do composto 7-dehidrocolesterol, que existe naturalmente na pele dos animais (nós inclusive), em colecalciferol (vitamina D3 ativa) quando a pele está sob exposição aos raios ultravioleta do sol, o que a transforma em uma substância diferente de outras vitaminas.
Há várias formas de vitamina D (D1, D2, ..., D5), mas a forma organicamente ativa é a 1,25-dihidróxi-colecaciferol ou 1,25-(OH)2-D3 (Ufa!). Observe a molécula abaixo:
http://img.alibaba.com/photo/104928028/1_alpha_25_Dihydroxy_Vitamin_D3_d6_26_26_26_27_27_27_d6_.jpg |
De acordo com o estudo de Castro L, publicado nos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia em 2011 (leia aqui), a vitamina D em sua forma ativa (acima) não somente participa da regulação do metabolismo do cálcio nos dentes e ossos, mas também modula cerca de 3% do genoma humano (modular significa controlar, mas sem modificar). Ou seja, a vitamina D mexe com sua carga genética.
Mas como, você pode perguntar. Afinal de contas, a carga genética uma vez criada não pode ser modificada assim facilmente, certo? Mudanças assim demoram anos, séculos, para acontecer. Mas aí é que está o pulo do gato!
Nosso genoma não é todo lido. Sim, nosso DNA é formado por duas hélices de nucleotídeos, que devem ser lidos para formar proteínas. É assim que nosso DNA funciona. O DNA é transcrito em proteínas, e são estas que vão fazer o corpo funcionar.
Observe abaixo:
https://encrypted-tbn1.google.com/images?q=tbn:ANd9GcQUQa6qE7IvR_IH08Xrk4R2Y4Z71-DbCaLIGyKzgLroqyw1BWIQ |
Mas ocorre que nem todo o nosso DNA é "lido". Algumas partes dele podem ser mais ou menos expressas por conta do que chamamos de fatores epigenéticos, ou seja, moléculas que estão ligadas ao DNA, ou reações químicas que ocorrem nestas moléculas, e que modificam o modo como ele é lido.
Entre os vários fatores epigenéticos, há as histonas, moléculas que se enrolam nas fitas de DNA, escondendo ou mostrando partes dele para a leitura em proteínas. As histonas podem sofrer reações químicas, modificando sua estrutura e sua função. Ou partes do DNA, as partes mais iniciais de uma sequência, podem sofrer também reações que fazem com que aquela sequência iniciada ali seja ou não seja lida. Ou seja, há possibilidades de modificações genéticas reais em vida. E a vitamina D participa disso.
Observe uma fita de DNA com histonas abaixo:
Voltando, a vitamina D pode afetar seu crescimento (claro, na fase de crescimento, o que significa que uma criança desnutrida, claro, cresce menos), manutenção da homeostase, ou seja, do perfeito controle corporal, além da diferenciação celular (transformação das células tronco, as células primordiais, em células especializadas como células da pele, fígado, neurônios, dos ossos, etc.), controle da apoptose celular (apoptose é a morte celular programada, quando uma célula com DNA defeituoso se suicida para preservar o corpo; o câncer é justamente um conjunto de células com DNA defeituoso que não possui o mecanismo de apoptose celular, e cresce indiscriminadamente), regulação do sistema imunológico, do sistema cardiovascular, do sistema musculoesquelético, além do metabolismo da insulina (o hormônio pancreático que possui sua função defeituosa nos diabéticos) Fonte
Ou seja, a vitamina D é mais do que propriamente uma vitamina, e é um composto essencial para sua vida, em todos os sentidos.
Nos próximos posts sobre nutrição, iremos discutir os vários papéis que a vitamina D parece exercer sobre o sistema nervoso. Não falaremos de suas funções sobre o metabolismo do cálcio, ossos e dentes por que isso foge ao assunto do blog.
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Médico Neurologista