Esta postagem não é exatamente sobre neurologia, mas há algo neste sentido.
A pandemia atual de SARS-CoV-2, o famoso novo coronavírus, tem levado pacientes a desistirem de ir ao pronto-socorro, mesmo em situações urgentes e dramáticas, e histórias tristes de pacientes que faleceram em casa, vítimas de infartos do miocárdio, embolias pulmonares ou tiveram um AVC não trombolisado a tempo, estão abundando no meio médico, e mesmo nos ambientes leigos.
Pacientes meus me ligam perguntando o que fazer em situação de urgência, e na verdade, uma ligação ou uma "teleconsulta" por Whatsapp ou qualquer aplicativo não conseguirá dimensionar o problema que o paciente pode estar apresentando, caso seja algo muito grave e de início recente ou agudo. É necessária visita ao pronto-socorro em situações de urgência, mesmo sob a pandemia, usando as precauções necessárias, como máscaras e álcool gel. Quase todos os hospitais, privados e públicos, estão fazendo separação dos doentes em ambientes diferentes para evitar infecções nos que lá chegam por outros motivos além de quadros gripais graves ou problemas respiratórios. Os funcionários dos hospitais estão utilizando materiais e equipamentos para evitar contaminação dos pacientes, e sendo orientados sobre as medidas a serem tomadas para isso. Assim, a pergunta que fica é, quando eu devo ir ao pronto-socorro por outro motivo que não a síndrome respiratória característica da pandemia?
A orientação é o paciente procurar o pronto-socorro se estiver com sintomas que sugiram doenças graves, especialmente se ele se enquadrar em grupos de risco.
Assim, pacientes com dor no peito e falta de ar, sugestivos de infarto do miocárdio ou embolia pulmonar, especialmente se forem hipertensos, de meia idade, fumantes, diabéticos, sedentários e/ou obesos; sintomas sugestivos de derrame, como perda visual súbita, alteração de fala ou liguagem, perda de força, perda de sensibilidade, incoordenação, especialmente em pacientes obesos, hipertensos, diabéticos, fumantes, sedentários, mas lembrar que não são somente estes pacientes que podem apresentar derrames; crises graves de doenças crônicas, como crises de falta de ar em DPOC e asma, crises de hipoglicemia com desmaio em pacientes diabéticos, crises epilépticas, as famosas convulsões, especialmente se durarem mais de 5 minutos e se o paciente não estiver sendo tratado ou tiver parado o tratamento; dor de cabeça súbita, a pior da vida, que pode sugerir ruptura de aneurisma cerebral; sangramentos, como sangramento vaginal, uretral ou retal, especialmente se forem de grande quantidade e vierem com mal-estar, palidez, desmaio; dores abdominais novas, intensas, com parada de eliminação de gases e fezes, especialmente se vierem com vômitos e dificuldade para comer; dor ocular súbita com perda visual; e várias outras situações nas quais ajuda urgente ou emergencial é indicada. Lembrar também que falta de ar, a famosa dispneia, e febre não são somente sintomas de coronavírus, mas pneumonias bacterianas, tuberculose, empiema pleural, e outras doenças também podem causar estes sintomas. Aqui cabem outras possibilidades, como fraturas domésticas, quedas em casa com trauma craniano e sonolência, especialmente em idosos, o que sugere hematomas intracerebrais, e outras situações.
Os hospitais devem receber pacientes em situações de urgência e emergência, mesmo nesta pandemia, pois as outras doenças continuam a ocorrer. Não espere piorar ou algo pior ocorrer se você achar que necessita ir a médico por seus sintomas. Lembre-se que há coisas tão ruins quanto, ou mesmo piores, que o coronavírus.
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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista