Notícia tirada do site Medscape e traduzida livremente
O sal de cozinha pode ser a peça que faltava para explicar o que está desencadeando o recente aumento no número de casos de esclerose múltipla (EM) e outras doenças auto-imunes.
A incidência de EM tem aumentado de maneira consistente nos últimos 50 anos. E paralelamente, a dieta dos países ocidentais tem incluído uma quantidade cada vez maior de sal. Embora nenhum estudo tenha achado uma ligação direta entre alto consumo de sal de cozinha e aumento na incidência de EM, um estudo recente publicado em 2009 na famosa revista Nature por pesquisadores da Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha, sugeriu que o consumo excessivo de sal pode afetar a atividade do sistema imunológico.
Agora, três novos estudos publicados em 06 de março último na mesma revista nature fornecem mais evidências de um papel causal do sal na EM.
Ou seja, o sal já era o principal vilão na causa da hipertensão arterial. Agora, também encontra-se, talvez, na base da EM. Mais um motivo para evitá-lo, não? Mas bem, voltemos ao texto.
O estudo, no entanto, é preliminar, e ainda não é prova de que o sal está envolvido na EM, já que vários outros fatores ambientais e genéticos (como discutido em outros posts) desempenham papéis importantes também.
O primeiro estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de Yale, nos EUA, mostrou que níveis de sal maiores que os fisiológicos aumentavam grandemente a produção de uma proteína inflamatória chamada interleucina 17 (IL17) por linfócitos, que tem se associado a doenças auto-imunes.
Além disso, o estudo demonstra que adicionar sal à dieta de camundongos induzia a produção desta IL17, e que camundongos alimentados com dieta rica em sal desenvolviam uma forma mais grave de EM animal conhecida como encefalomielite autoimune experimental (EAE). Ou seja, apesar de haver a necessidade de mais estudos, parece haver potencial para que o sal da dieta influencie a incidência ou mesmo a gravidade da EM.
Um segundo estudo liderado por pesquisadores da Harvard Medical School nos EUA demonstrou o papel de uma proteína envolvida no metabolismo da água e de eletrólitos (sódio, potássio, cloro) nas células (leia mais aqui para os interessados em se aprofundar na leitura), a Serum Glucocorticoid Kinase 1 (SGK1), em fazer com que o sal desencadeie resposta auto-imune.
Os autores demonstram que um aumento modesto na concentração de sal induzia a molécula SGK1 e promovia a expressão de outra interleucina, a IL23, que reforça e potencializa uma resposta inflamatória conhecida como Th17. Ou seja, o consumo aumentado de sal indiretamente aumenta a resposta auto-imune. Fora que este estudo reforça a tese apresentada pelo estudo anterior.
O terceiro estudo, liderado por pesquisadores também de Harvard, nos EUA, identificou 39 fatores de regulação imune, que regulam a resposta inflamatória Th17.
Sabe-se que o sal na dieta é um dos muitos fatores que influenciam as células T helper (linfócitos ou células de defesa e regulação imune do corpo), além de moléculas inflamatórias (as citoquinas), dieta, metabolismo, entre outros. Ainda é prematuro afirmar que o sal da dieta influencia doenças auto-imunes em humanos. Mas estes estudos devem incitar mais estudos, desta vez clínicos (em humanos), sobre a relação entre dieta e auto-imunidade, que deverão começar logo.
Alguns dados sugerem que o sal da dieta não somente poderia ser um fator de risco para o desenvolvimento de EM, mas que a manipulação do sal a dieta poderia regular a severidade da mesma quando já instalada.
Mais estudos necessitam ser feitos, e logo estarão à disposição para tirarmos nossas conclusões.
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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista