Notícia tirada do site Medscape e traduzida livremente para o blog.
Os benefícios da estimulação cerebral profunda (DBS ) (leia mais aqui) em distonia podem durar mesmo após o desligamento do aparelho.
Dois pacientes com distonia primária (sem causa definida) generalizada (ou seja, das pernas e pelo menos o tronco, membros superiores e/ou região cervical e craniana) tratados com sucesso com estimulação cerebral profunda (DBS - Deep Brain Stimulation, em inglês) bilateral dos globos pálidos, continuaram a ter alívio de seus sintomas mesmo depois de mais de 2 meses após seus aparelhos terem sido desligados "sem querer".
A DBS é considerada um tratamento sintomático, com os sintomas retornando horas a dias após o aparelho ter sido desligado, podendo estes sintomas ser, inclusive, mais intensos que os anteriores à cirurgia. Mas estes dois pacientes jovens continuaram a ter benefício clínico apesar da interrupção da terapia for 2 meses (ou mais). E quando os sintomas retornaram, estavam mais leves que antes da DBS.
O caso foi publicado na edição de fevereiro da famosa revista Movement Disorders.
O primeiro paciente era um jovem de 11 anos portador da mutação mais comum de distonia generalizada, a DYT1 (ou doença de Oppenheimer), tendo sido operado à idade de 15 anos. Após 5 anos da cirurgia, descobriu-se que o aparelho estava há 3 meses desligado, mas o paciente estava bem, sem sintomas. Duas semanas depois, alguns movimentos mais leves do ombro esquerdo voltaram, e o aparelho foi completamente religado, Ele está há 7 anos bem, sem sintomas (segundo o artigo).
O segundo paciente, DYT1 negativo, foi operado quando tinha 18 anos de idade. Dezenove meses após a cirurgia, alguns movimentos leves voltaram, e descobriu-se que o seu estimulador esquerdo estava desligado há cerca de 7 meses, e o direito há cerca de 2 meses. A reativação dos eletrodos acabou com os movimentos.
Talvez, de acordo com o autor do estudo, idade precoce, curta duração da doença, tempo de uso do DBS e baixa energia de estimulação sejam fatores que auxiliem na manutenção dos benefícios motores apesar da interrupção prolongada do DBS.
O que o artigo ajuda a elucidar é o benefício motor persistente na distonia apesar da interrupção da terapia. Outros pesquisadores têm observado os mesmos fenômenos, de melhora temporária da distonia após desligamento ou término da bateria do aparelho. Ou seja, isso pode falar a favor de um remodelamento cerebral, de neuroplasticidade (de modificação nas ligações neuronais) em resposta à eletricidade do aparelho.
Outros casos semelhantes foram publicados na famosa revista Brain em 2011.
Isso pode significar que a cirurgia de DBS pode "remodelar" o cérebro, e auxiliar a melhorar a distonia? Não sabemos ainda, mas talvez a cirurgia para distonia primária deva ser feita mais cedo do que se pensa.
Se você tem distonia primária, discuta isso com seu neurologista.
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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista