Paralisia pseudobulbar é uma síndrome, ou seja, um conjunto de sinais e sintomas cujas causas podem ser variadas. Paralisia é um termo, aqui, errôneo, mas que serve para a definição, indicando uma fraqueza ou incapacidade de realizar certas atividades. Neste caso, as atividades são, principalmente, a fala e a deglutição. Assim, na paralisia pseudobulbar, há dificuldade com a fala (disartria) e dificuldade de engolir com engasgos frequentes (disfagia). Mas há outros sintomas e sinais que podem ocorrer nestes casos.
Bem, pseudobulbar significa que a paralisia engana a quem examina, pois quem examina e não conhece a situação pode acreditar que a doença se encontra no bulbo (medula oblonga), o que não é verdade. Aliás, o termo pseudo, do grego, significa falso, que engana. Logo, pseudobulbar significa que parece, mas não é, no bulbo. E o que o bulbo tem a ver com isso?
O bulbo ou medula oblonga (como aprendemos na escola) é a última parte do tronco cerebral, e que faz a união do encéfalo com a medula espinhal (em inglês, bulbo é chamado de medulla). No bulbo, estão localizados núcleos para várias funções cerebrais, todos compactados e conectados com centros mais altos. Aqui há os centros para a fala, para a deglutição, para a movimentação da língua, centros integrativos de choro e riso (sério!), o centro respiratório, o núcleo do nervo trigêmeo passa também por ele, etc... Observe o bulbo abaixo:
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Abaixo, um corte do bulbo, mostrando como as estruturas dentro dele ficam todas compactadas, próximas umas às outras:
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Logo, uma dificuldade para falar, para engolir e engasgos pode ser facilmente localizada no bulbo.
Observe a figura acima. Veja na parte mais baixa da figura o nome PYRAMIS. Estes são os famosos tratos corticospinhais ou tratos piramidais, que transmitem informação de motricidade para os músculos e que descem para a medula espinhal. Mas qual a importância dele aqui?
Bem, antes de falar da importância dele, por que mesmo que chamamos a síndrome de paralisia pseudobulbar? Por que achamos que a lesão está no bulbo, mas não está. E onde, então, ela está?
As lesões que causam paralisia pseudobulbar se encontram, na verdade, bem mais acima, no próprio cérebro. Múltiplos derrames, múltiplas lesões cerebrais, hematomas subdurais, atrofia cerebral grave, demência avançada (como doença de Alzheimer), múltiplas lesões de esclerose múltipla, certas doenças como a paralisia supranuclear progressiva (PSP, sobre a qual poderemos falar em outro post) e outras situações é que causam a paralisia pseudobulbar. E o que isso tem a ver com o bulbo??
Daí, temos que falar rapidamente de uma via que desce do cérebro, pelo tronco cerebral, para os vários núcleos do tronco, o trato corticonuclear.
Observe abaixo:
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Este é seu trato corticonuclear. Através desta via importantíssima, o cérebro consegue inervar todos os núcleos motores do tronco cerebral, fornecendo não somente inervação como levando nossa vontade a eles. Por conta desse trato, podemos sorrir de forma espontânea e voluntária, mexer a língua, mastigar ou parar de mastigar quando queremos, mexer conforme nossa vontade nossos olhos, etc... É esse trato que une os núcleos do tronco cerebral ao cérebro, e logo, à nossa consciência.
Mas nas doenças que falamos no parágrafo anterior, as doenças do cérebro que causam a paralisia pseudobulbar, há lesão desta via, e logo, perda da inervação e núcleos importantes, especialmente os do bulbo, que nos ajudam a falar e a engolir. Logo, na paralisia pseudobulbar, há fraqueza e disfunção de vias próprias do bulbo, não por lesão do bulbo, mas por lesão desta via cortinuclear que vem de cima e inerva o bulbo. Por isso o termo pseudobulbar.
Na paralisia bulbar verdadeira, há atrofia (perda de massa) e hipotonia (perda da força em repouso, amolecimento) da língua, de um lado ou de ambos; há paralisia do palato (quando o paciente abre a boca e fala aaaaaaaaaaaaaaah, aquele sininho que fica lá no final da boca, a úvula, ou não levanta ou se mexe somente para um lado).
Estas coisas não acontecem na paralisia pseudobulbar, e neste caso, o paciente pode ficar, ao invés, com incapacidade de colocar a lígua para fora, não por fraqueza, mas por, digamos, incapacidade de saber como fazê-lo (chamamos de apraxia), incapacidade de abrir a boca pelo mesmo motivo (não consegue fazer de modo voluntário, conforme a vontade, mas o faz de forma reflexa), reflexos de face exaltados, há dificuldade para andar e desequilíbrio, podendo haver quedas.
Mas há duas outras coisas que acontecem na paralisia pseudobulbar que não acontecem na paralisia bulbar verdadeira. O paciente tem choro ou riso imotivados, ou seja, o paciente chora, de repente, de forma explosiva, sem motivo para chorar, e para de chorar como se nada tivesse acontecido. Ou ri, mais raramente, sem motivo, explosivamente, e para como se não tivesse havido nada.
Bem, é isso que temos para falar sobre paralisia pseudobulbar. Quaisquer dúvidas, podem acessar o blog no Facebook (https://www.facebook.com/pages/Neuroinforma%C3%A7%C3%A3o/251541844877993) e fazer suas colocações e perguntas.
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Médico Neurologista