Antes de mais nada, deixo os pacientes e acompanhantes orientados de que o tratamento de qualquer doença somente deve ser feito por médico competente, e nunca, mas nunca, use qualquer medicação sem orientação médica.
O tratamento da fibromialgia deve ser direcionado à diminuição da dor, melhora da fadiga, da insônia e dos problemas de memória associados com ela.
O tratamento inicial consiste em:
1. Educar o paciente a respeito do que é a doença , o que podemos fazer para amenizar as dores, orientações para uma boa noite de sono, e a importância do tratamento das comorbidades, ou seja, da depressão, ansiedade e da insônia.
2. Iniciar um programa de atividades físicas regulares, condicionamento aeróbico, alongamento e fortalecimento muscular, tudo após orientação cardiológica e ortopédica.
3. Uso de medicações, em especial de uma medicação só, para os sintomas que não melhoram com as medidas acima.
Muitos pacientes permanecem com os sintomas mesmo após a instituição regular das medidas descritas acima, e nestes pacientes, pode-se usar uma medicação única em doses toleradas (claro, as doses começam baixas, e vão sendo gradualmente aumentadas à medida que os sintomas não apresentam melhora e os pacientes tolerem). Os pacientes em uso de medicações não devem parar as medidas descritas acima.
Alguns pacientes necessitam de mais de uma medicação, e de avaliações de médicos de outras especialidades, como fisiatria, reumatologista e psiquiatria, e profissionais de outras áreas, como psicólogos e terapeitas ocupacionais.
Várias são as medicações usadas no tratamento da fibromialgia, pertencentes a várias classes diferentes. Como cada classe age em um sistema diferente dentro do cérebro, o uso de mais de uma medicação visa a associar diferentes mecanismos de ação para conseguir melhores resultados.
Entre as medicações usadas, podemos citar:
1. Antidepressivos, como os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina e nortriptilina), os inibidores recaptação de serotonina (fluoxetina, paroxetina, citalopram) e os inibidores de recaptação dual de serotonina e noradrenalina (venlafaxina, duloxetina).
2. Anticonvulsivantes, como a pregabalina e a gabapentina.
E você pode perguntar: Mas o que tem um anticonvulsivante a ver com fibromialgia. Afinal de contas, eu nunca tive convulsão?
Bem, os anticonvulsivantes não servem só para tratar convulsões, mas têm vários mecanismos de ação, alguns ainda pouco conhecidos, e essas medicações podem agir em locais de produção de dor ou de hiperexcitabilidade cortical no cérebro, ajudando a controlar a dor.
Entre as terapias não medicamentosas, a psicoterapia feita por psiquiatra ou psicólogo pode ser muito útil para aqueles pacientes com pouca melhora com medicações e atividade física. Por isso, se seu médico encaminhar você ao psiquiatra ou psicólogo, pode ser que isso seja uma maneira de melhorar ainda mais seu problema, e a sugestão do blog Neuroinformação é que você siga a orientação do seu médico e vá aos especialistas indicados.
Uma outra coisa. Falamos no post anterior sobre fibromialgia que muitos pacientes podem ter doenças que simulam a fibromialgia, e muitas vezes o tratamento não dá certo por que o paciente não tem fibromialgia, mas outra doença que deve ser diagosticada, e tratada de forma diferente. Nestes casos, seu médico poerá pedir exame sou encaminhar você a outros especialistas que o ajudarão a fazer seu diagnóstico.
Outra coisa. Nunca esqueça de tomar suas medicações, na hora certa! A falta de aderência ao tratamento pode ser uma das causas de falha no tratamento. Se você não acha que deve tomar tal medicação, ao invés de parar de tomar, discuta isso com o seu médico, que é a pessoa mais indicada para dizer se o remédio é bom para você, a dose certa, e quais as altenativas caso haja efeitos colaterais ou falta de melhora. E sempre discuta os efeitos colaterais com o médico antes de tomar a medicação, para que você não tenha surpresas.
O uso de analgésicos e anti-inflamatórios na fibromialgia deve ser discutido com o médico que trata o paciente. Não acho que seja prudente discutir isso aqui, em ambiente virtual, pois estas são medicações de venda liberada no Brasil (com exceção dos analgésicos opióides como a codeína e o tramadol), e cujo uso indiscriminado pode levar a efeitos colaterais, por vezes graves. Só use essas medicações sob orientação médica.
E a acupuntura, funciona? Uma revisão sistemática de 2013 de acupuntura em fibromialgia, envolvendo 395 pacientes (um número razoável, apesar da alta frequência da doença), avaliando 9 estudos diferentes, demonstrou melhorana dor e na rigidez com a acupuntura em relação ao tratamento padrão, algo que não foi visto em outro estudo avaliando 100 pacientes menos. Também, parece que a melhora foi maior com o uso de eletroacupuntura. Os benefícios da acupuntura podem durar pouco (menos de 6 meses).
Já a esstimulação magnética transcraniana, uma técnica recente mas já bem estudada, foi avaliada em dois estudos, um com 32 pacientes e outro com 20 pacientes, com melhora significativa na dor e na depressão, mas mais estudos são necessários, com mais pacientes, para termos certeza do real benefício dessa técnica.
Por último, o uso de vitamina D parece melhorar a dor com base em um único estudo com 30 mulheres com fibromialgia com níveis de baixos a moderados de vitamina D no sangue. Mas novamente, mais estudos com muito mais pacientes são necessários para sabermos se a vitamina D realmente é útil no tratamento da fibromialgia.
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Médico Neurologista