Bem, em post anterior, você descobriu um músculo do seu corpo que, eu acredito, mais de 80% dos que visualizam a página não sabiam que existia, o músculo piriforme (link).
Pois hoje vamos falar de uma síndrome miofascial (síndrome em que há inflamação muscular com nódulos dolorosos) deste músculo, a síndrome do piriforme.
Leia o post sobre o músculo piriforme, acima, antes de ler este aqui (sério!).
A síndrome do piriforme é uma causa frequente de dor lombar com irradiação para a perna de um lado. Cerca de 30 a 45% das pessoas entre 18 e 55 anos de idade apresentam dor lombar em algum momento de suas vidas, e a síndrome do piriforme é uma destas causas, sendo 6 vezes mais comum em mulheres, e afetando, em média, 6% dos pacientes com dor lombar simulando dor ciática.
A síndrome foi descrita em 1928 (ou seja, é mais velha que quase tudo mundo aqui!), e muitos pacientes com dor lombar foram operados (de graça!), sendo que eles tinham uma condição não cirúrgica, a síndrome do piriforme.
O principal sintoma da síndrome é dor, muitas vezes de localização imprecisa, mas mais frequentemente localiazada no quadril, no cóccix (aquele ossinho que fica lá no final da bunda), nas nádegas, na virilha ou mesmo, e simulando uma dor no nervo ciático, indo até o calcanhar. O que diferencia esta doença de uma hérnia de disco causando uma lesão do nervo ciático é uma história clínica bem feita e o exame local e neurológico. O grande problema é que, se você vir a figura do músculo no post sobre o músculo piriforme, você vai ver que o nervo ciático passa por dentro do músculo piriforme, sendo que a lesão do nervo, aqui, é mais química do que mecânica (é mais inflamação do que compressão do nervo pelo músculo), o que explica o motivo pelo qual a inflamação/contração dolorosa deste músculo pode causar uma dor semelhante à lesão do nervo ciático.
A síndrome do piriforme tem diversas causas, sendo as mais frequentes alterações posturais, inflamações devido a problemas na marcha (o piriforme auxilia a estabilizar a perna durante o andar), traumas à região glútea, ou espasmos do músculo. Motoristas de caminhão, tenistas e pessoas que andam de bicicleta por longas distâncias estão em maior risco de ter a doença.
Não se conhece exatamente os motivos pelos quais o músculo inflama, mas é possível que a liberação de substâncias inflamatórias e alterações das plaquetas, células do sangue que auxiliam na coagulação, façam parte da reação química da inflamação.
Os sintomas da síndrome do piriforme são variados:
1. Dor crônica nas nádegas, especialmente quando se irradia para a perna e piora ao andar ou se agachar. Essa dor pode imitar uma dor por lesão do nervo ciático.
2. Dor no local ao defecar
3. Dor que se irradia para os lábios maiores da vagina em mulheres ou saco escrotal nos homens
4. Dor ao manter relações sexuais (na mulher)
5. Dor (nas nádegas ou lombar) ao se levantar da cama
6. Dor que piora quando a pessoa junta as coxas e roda a coxa para dentro
7. Dificuldade em sentar ou manter-se sentado por dor nas nádegas
No exame físico, algo que diferencia a síndrome do piriforme de uma compressão do ciático é a falta de déficits, ou seja, o paciente com síndrome do piriforme não tem formigamentos ou dormências no pé, a força está normal e os reflexos estão normais, e estes sinais podem estar alterados quando o nervo ciático está lesado. Isso é visto pelo neurologista na consulta. O paciente pode ter como sinal único dor e hipersensibilidade na região glútea, que pode ser reproduzida fletindo a coxa, aproximando uma coxa da outra, e rodando a coxa para dentro, quando alongamos (estiramos) o músculo piriforme.
Apesar da síndrome ser relativamente comum, ela é diagnóstico de exclusão, ou seja, temos de afastar as causas mais comuns de dor lombar antes de considerar a síndrome do piriforme. Há várias doenças que devem ser consideradas como possíveis diagnósticos em pacientes com uma dor lombar que se irradia para a perna ou para a virilha, e o neurologista experiente saberá examinar o paciente e pedir os exames necessários para confirmar o diagnóstico.
Não há exames que façam o diagnóstico da síndrome do piriforme, apesar de que a ressonância magnética pode (eu disse pode) demonstrar inflamação e aumento do músculo. Na verdade, os exames servem para descartar outras causas, como uma hérnia de disco.
O tratamento envolve aplicação de substâncias para diminuir a contração muscular, como a toxina botulínica, fisioterapia, uso de medicações a critério do médico que examina o paciente, e terapia ocupacional.
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Médico Neurologista