Vamos definir demência primeiro. Damos o nome de demência ou quadro demencial a qualquer desordem que leve a perda de funções adquiridas na esfera cognitiva, isto é, nas funções mentais superiores. Ou seja, qualquer desordem que leve a perda progressiva de funções como linguagem, pensamento abstrato, cálculo, orientação visual e espacial, memória, funções executivas, etc.
Demências podem ser causadas por várias doenças, de modo que temos as demência primárias (ou seja, aquelas que têm cunho genético ou idiopático, sem causa definida) ou secundárias (as com causa definida ou provável), e estas secundárias podem ser divididas em curáveis e não curáveis. As primárias, pelo seu caráter progressivo e degenerativo, não são curáveis. Dentre as primárias, temos a doença de Alzheimer, a doença por corpos de Lewy e a demência fronto-temporal e sua variantes.
Dentre as secundárias, temos a demência causada por traumas cerebrais, a demência causada por derrames (também chamada de demência vascular, a demência secundária mais comum), causada por meningites crônicas ou lesões inflamatórias cerebrais, causadas por hematomas cerebrais, por sífilis (sífilis terciária cerebral), pela AIDS, por várias outras doenças infecciosas, pelo lúpus eritematoso e outras doenças reumáticas, causada por tumores cerebrais, e entre outras causas, a causada pelo uso crônico de álcool.
O uso crônico de álcool, logo, pode causar demência. Desde que não haja um fator que piore de forma aguda a demência, como um trauma cerebral, um sangramento cerebral grave, infecções cerebrais, ou um delirium sobreposto (Veja o que é isso aqui), a demência geralmente evolui de forma lenta e progressiva, ao longo de meses a anos.
Observamos perda de memória progressiva, além de agressividade ocasional que pode piorar, alterações de personalidade juntamente com outras complicações psiquiátricas que podem acompanhar a demência. Alterações de funções executivas são comuns - funções executivas são as funções exercidas pela parte mais anterior do cérebro, o lobo frontal, e são as responsáveis por nós mesmos e nosso comportamento, ou seja, são as funções que nos caracterizam como seres humanos (Leia mais aqui). Entre as funções executivas, temos a atenção, a capacidade de mudar e manter a atenção, a abstração, a seleção de comportamento adequado a seguir em uma dada situação, a flexibilidade mental (a capacidade de fazer uma atividade de várias maneiras diferentes), formas de memória como a memória operacional (a memória que se usa para guardar nomes e números por um período curto de tempo), entre outras.
Uma vez instalada a perda de funções, ela pode evoluir progressivamente ou estabilizar, na dependência, dentre outras coisas, da parada do uso de álcool, do controle de outros fatores de risco tratáveis como obesidade, pressão alta, diabetes e colesterol elevado além do fumo, e do tratamento para a demência.
A parada do uso deve ser controlada e seguida por um especislista, geralmente um psiquiatra. As complicações do uso do álcool, além da demênciam, devem ser diagnosticadas e tratadas.
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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista