segunda-feira, junho 13, 2011

A objetividade do diagnóstico em neurologia

O diagnóstico em medicina é uma arte, por que exige não só o conhecimento geral da especialidade a qual se pratica, inclusive as doenças mais raras, como um conhecimento de cada paciente, pois como é conhecido no velho bordão, cada caso é um caso.

Cada paciente tem uma história para contar, e deveras dois pacientes com o mesmo diagnóstico podem ter quadros completamente diferentes na dependência de vários fatores:

1. Os mesmos sintomas podem ser mais ou menos valorizados por cada paciente, e se o médico não participa de forma ativa da consulta, deixando somente o paciente queixar-se sem questioná-lo, pode deixar passar algum sintoma que o auxilie no diagnóstico;
2. A doença nem sempre se manifesta da mesma maneira em todos os pacientes. Por exemplo, uma gripe pode se manifestar como febre, dor de garganta e secreção nasal em um paciente, e como mal-estar, perda de apetite, febre e dores generalizadas em outro paciente.
3. Uma mesma doença pode variar em apresentação dependendo da idade do paciente. Em idosos, por exemplo, uma meningite bacteriana pode se manifestar como confusão aguda e sonolência, com nuca rígida, e em adultos como febre, rigidez nucal, fotofobia (dificuldade de olhar para a luz) e febre.
4. A base genética do paciente pode determinar o comportamento da doença em cada paciente.
5. As doenças que o paciente pode ter podem confundir o diagnóstico de uma nova doença, como por exemplo um infarto do miocárdio em um paciente diabético grave, que pode não apresentar a dor de peito característica, e somente um mal-estar epigástrico (na boca do estômago) ou falta de ar.

Ou seja, há vários motivos pelos quais uma mesma doença pode se manifestar de formas diversas, e isso exige do médico um conhecimento geral da medicina e de sua especialidade. Já há casos em que o diagnóstico é menos direto, pois a doença é mais rara ou menos conhecida, e se o médico não tem o conhecimento desta doença ou nunca leu a seu respeito, terá menos chances de diagnosticá-la. Logo, quanto mais um médico lê, estuda, compra livros, assina revistas médicas e vai a simpósios e congressos, mantendo contato com líderes de sua área, melhor para seus pacientes.

Quanto mais o médico estuda e vasculha a história do paciente, mais chances ele terá de fazer seu diagnóstico, e menos exames laboratoriais serão solicitados. Pedir muitos exames nem sempre é bom, pois muitos exames podem dar informações conflitantes, sugerindo vários diagnósticos diferentes (quem determina o diagnóstico são os sintomas do paciente, e não os resultados dos exames). E se o médico não consegue fazer um diagnóstico inicial com base no que ele ouve do paciente e vê em seu exame clínico (exame geral e neurológico), dificilmente ele conseguirá chegar a um diagnóstico com base em exames, pois não saberá quais exames pedir. Pedir vários exames leva a confusão. O médico deve pedir os exames necessários para cada caso. E quem não sabe o que procura, não saberá interpretar o que encontra (parafraseando o famoso médico anglo-canadense, pai da Clínica Médica, William Osler).

Há pacientes que medem o quanto um médico é bom pela maior quantidade de exames que solicita. Pois eu, como médico, digo que é exatamente o contrário. O melhor médico é aquele que faz o diagnóstico correto com o mínimo de exames possível. E isso é ser objetivo no diagnóstico.

Logo, valorize seu médico. Ele estuda pra ajudá-lo, ele compra livros (que são muito caros), assina revistas médicas, vai a congressos dentro e fora de seu país de origem, lê muito para o ajudar, para ter conhecimento da maior parte das doenças que podem acometer seus pacientes e dos exames certos para solicitar.