sábado, setembro 29, 2012

Pequeno dicionário de termos médicos - Foice do cérebro

Olhando exames de tomografia do crânio, o seu por exemplo, você deve ter reparado no nome "foice do cérebro". Mas o que é a foice cerebral?

O cérebro é formado por dois hemisférios, o direito e o esquerdo. Observe abaixo:

http://www.google.com.br/url?source=imglanding&ct=img&q=http://www.auladeanatomia.com/neurologia/hemisferios.jpg&sa=X&ei=nm9mULbSH4uC8QShroDYCA&ved=0CAoQ8wc&usg=AFQjCNHLoHgrylG6Yp3nOZCKqscvlVmwmw
Observe o nome Fissura Longitudinal. É justamente a entrada que marca o início da separação dos hemisférios, que no entanto nunca estão completamente separados, haja vista haver as comissuras, massas de substância branca (axônios e dendritos, sem corpos de neurônios) que unem os dois hemisférios, permitindo ao hemisfério direito saber o que se passa no esquerdo, e vice-versa (por culpa das comissuras, você pode, com os olhos fechados, pegar algo com a mão esquerda - a informação vai para o hemisfério direito - e dizer o que é - por que a linguagem, em mais de 95% das pessoas, localiza-se no hemisfério esquerdo - ou seja, um hemisfério sabe o que o outro está fazendo).

Observe as comissuras apontadas pelos números, sendo a maior o corpo caloso (leia sobre ele aqui):

http://www.google.com.br/url?source=imglanding&ct=img&q=http://www.fosjc.unesp.br/disciplina/anatomia/neuro/neuro3.jpg&sa=X&ei=v3FmUL_5A4Xm9AT-5oGwBw&ved=0CAkQ8wc&usg=AFQjCNFWD6vcK0fc6zP7p4hsc6h6mQqcqA


Há a comissura anterior, a posterior, a comissura talâmica e o corpo caloso, entre outras menores. 

http://www.google.com.br/url?source=imglanding&ct=img&q=http://www.auladeanatomia.com/neurologia/fibrasassociacao.jpg&sa=X&ei=E3JmUMfyMJOi8QTo84H4Ag&ved=0CAoQ8wc&usg=AFQjCNEBCVsdvk9Khy37UJF15IbM_heY_g
Acima estão a comissura anterior e o corpo caloso vistos como as fibras que os compõem.

Muito bem, mas o que é a foice do cérebro?

Bem, a foice é uma membrana grossa, semelhante à membrana que recobre o cérebro, a dura-máter, e que separa os dois hemisférios. Observe abaixo:

http://www.google.com.br/url?source=imglanding&ct=img&q=http://www.auladeanatomia.com/cardiovascular/seiosdaduramater.jpg&sa=X&ei=onJmUL7QCYnO9ATM6oDYDw&ved=0CAoQ8wc&usg=AFQjCNHH4-T1jkSpQ4_0O6vjAZ_53y9p1Q
A foice é a membrana grossa, esbranquiçada, justamente em forma de foice! Vista anatomicamente, lembra mesmo uma foice. Observe que as veias cerebrais passam e são recobertas pela camada fibrosa da foice do cérebro (leia sobre as veias do cérebro aqui).

Observe outra imagem da foice:

http://www.google.com.br/url?source=imglanding&ct=img&q=http://www.osteodoc.com/images/RTM.jpg&sa=X&ei=IXNmUL7jGoXM9QSIp4HAAw&ved=0CAkQ8wc&usg=AFQjCNGyGvfzP9z78rGKwypcWamTQjuk5g
Abaixo, e continuando-se com a foice, há a tenda do cerebelo (na figura, tentorium cerebelli), uma camada grossa que separa o cerebelo do resto do cérebro, mas falaremos mais disso depois. 

A foice pode apresentar calcificações, depósitos de cálcio, que podem ser vistos na tomografia de crânio, e que não representam doença nem problema grave.

http://www.google.com.br/url?source=imglanding&ct=img&q=http://www.gla.ac.uk/ibls/US/cal/brain/flax.jpg&sa=X&ei=nnNmUMOmLYWS9gT0i4CwBA&ved=0CAkQ8wc&usg=AFQjCNHWsb0mAdUOQb3AfdX4TYUl0GJzzQ
Nesta tomografia, a calcificação é a mancha branca no meio da figura.

Mas a foice do cérebro pode apresentar problemas, como infiltração por tumores, como o linfoma, mas isso é outra história. 


domingo, setembro 23, 2012

Pequeno dicionário de termos médicos - Glioblastoma Multiforme

Este artigo não discutirá aspectos de tratamento ou prognóstico da doença em questão. Dúvidas a respeito destes assuntos devem ser tirados com o médico que assiste o paciente.

Antes de definirmos o termo em questão, temos de falar rapidamente de tumores cerebrais. 

Os tumores cerebrais podem ser didaticamente divididos em primários ou secundários. 

Os tumores secundários, os mais comuns tumores do sistema nervoso central (SNC), constituem as metástases cerebrais, tumores de outras regiões do corpo, como mama, próstata, pulmão ou ovário, e que se depositam no cérebro. 

Já os tumores primários são lesões expansivas que se originam das próprias células neuronais, as células de suporte (as células da glia) (leia aqui) ou das células de revestimento cerebral, as meninges. Destes, o mais comum é o glioma, tumor que perfaz 65% do tumores primários em adultos, e que se originam das células de suporte (link). Há mais tumores, mas falaremos mais deles em outros posts. 

Os gliomas podem ser classificados pelo tipo celular que o constitui, pelo seu grau de diferenciação (ou seja, quão madura é a célula que constitui o tumor, e quanto menos madura, mais invasivo é o tumor) e pela localização. 

Por tipo celular:

1. Astrocitoma - São os tumores que se originam dos astrócitos, sendo o glioblastoma multiforme (GBM) o mais comum;
2. Oligodendroglioma - São tumores originados das células que produzem a capa de gordura que envolve os dendritos e axônios (a mielina), os oligodendrócitos;
3. Ependimoma - São os tumores que se originam das células que revestem os ventrículos cerebrais e o canal da medula. 
4. Mistos - Mais de um tipo celular

Pelo grau de diferenciação:

1. Gliomas de baixo grau de malignidade - Graus 1 e 2 da OMS;
2. Gliomas de alto grau de malignidade - Graus 3 e 4 da OMS (aqui localizam-se os astrocitomas anaplásicos e o GBM). 

Pela localização:

1. Supratentorial - Acima do cerebelo, a localização mais comum de tumores em adultos;
2. Infratentorial - Localizada geralmente no cerebelo, mais comumente vista em crianças.

O cérebro, como já comentado anteriormente (leia aqui e aqui), localiza-se em um compartimento rígido, o crânio. E lesões, mesmo histologicamente benignas, se crescerem de forma rápida e em locais inóspitos, fechados ou que possuem estruturas importantes em seu interior, podem se comportar de forma maligna. Assim, um tumor benigno de tronco cerebral pode causar mais danos que um tumor de crescimento relativamente rápido localizado na superfície do cérebro.

Mas agora, vamos falar do objetivo deste post, o Glioblastoma Multiforme (GBM).

Apesar de ser um tumor comum, sua incidência (quantidades de casos novos) é de somente 2 a 3 por 100,000 pessoas (link). Localiza-se em qualquer lobo cerebral, e é mais comum em pessoas acima dos 50 anos de idade. 

Pode produzir sintomas que dependem da localização e da velocidade de crescimento. Assim, os sintomas mais comuns são perda progressiva e severa de memória, mudança de personalidade, crises convulsivas, cefaleia (dor de cabeça), náuseas e vômitos, fraqueza de um lado do corpo (hemiparesia) ou diplopia (visão dupla). O tumor pode produzir sintomas precocemente, mas pode crescer de forma lenta e silenciosa, e levar a sintomas somente quando o tamanho do tumor estiver grande. Mas qualquer doença que leve a compressão lenta ou degeneração cerebral pode dar sintomas semelhantes, de forma que somente um exame de imagem (tomografia ou ressonância) podem dar o diagnóstico de forma mais precisa.

O GBM é mais comum em homens, e não parece haver uma predisposição genética estabelecida, mas talvez haja relação com radiação ionizante (daí o medo com os celulares, que ainda não parece ter fundamentos bem sólidos), e algumas infecções virais (nada com o que se preocupar!). Mas a maior parte é esporádica, ou seja, aparece sem relação real com absolutamente nada da história do paciente.

O seu diagnóstico, primeiro, deve ser precedido por um bom grau de suspeição, ou seja, o médico pensa na doença e solicita o exame que melhor dê o diagnóstico. 

Em termos de imagem, o que vemos é o que veríamos se olhássemos para o cérebro in vivo. Há grande quantidade de edema, inchaço local ao redor do tumor comprimindo as estruturas e giros cerebrais ao redor, sangramento, necrose (tecido morto, geralmente no interior do tumor causado por falta de sangue, isquemia) e massa tumoral. Estas características podem ser vistas na tomografia de crânio, ou ainda mais precisamente na ressonância magnética. Há realce com contraste.

Observe imagens de um cérebro normal abaixo:

http://www.mr-tip.com/exam_gifs/brain_mri_transversal_t1_001.jpg
Esta é uma imagem de um cérebro normal em uma ressonância magnética.



http://homepage.psy.utexas.edu/HomePage/Class/Psy308/Salinas/Disorders/NormalBrain.gif

Este é um cérebro in natura normal.

Observe abaixo um glioma de baixo grau de malignidade:

http://www.ukb.uni-bonn.de/42256BC8002B7FC1/vwLookupImagesforLoad/Tumor1.jpg/$FILE/Tumor1.jpg
O tumor localizado na parte direita da figura aparece esbranquiçado em uma imagem em ressonância magnética, sequência T2, demonstrando um conteúdo de água (edema e proteína) no tumor. Os tumores de baixo grau pode ser extensos, como abaixo:

http://imaging.ubmmedica.com/cancernetwork/cmhb13/13_23_Figure2.gif
Esta é uma ressonância de um glioma de baixo grau, um oligodendroglioma. A diferença para um GBM é que este tumor demorou bastante para chegar neste tamanho. Observe a imagem esbranquiçada gigante do lado esquerdo da figura, o tumor em si, comprimindo as estruturas ao redor, apagando os espaços de líquido (os ventrículos) ao redor, e causando desvio do cérebro.

Observe abaixo um GBM:


https://secure.health.utas.edu.au/intranet/cds/pathprac/Files/Cases/CNS/Case88/Pictures88/G1.jpg
Tumor de aspecto cístico, com realce ao contraste ao redor da massa (parece um abscesso cerebral, mas é um GBM).

http://anatpat.unicamp.br/Dsc32899++.jpg
Outro tumor tipo GBM com grande área de edema e desvio de linha média, produzindo uma hérnia, que é quando uma estrutura cerebral atravessa de um compartimento para outro. 

Outra figura abaixo de um GBM, mas dessa vez em um cérebro visto ao vivo, para você comparar com o cérebro normal in natura acima:

http://anatpat.unicamp.br/astromacro9++.jpg
O diagnóstico, muitas vezes, deve ser dado após uma amostra do tumor ser obtida de uma biópsia, uma cirurgia em geral de pequeno porte, e muitas vezes feita com a ajuda de aparelhos, ao que chamamos de cirurgia estereotáxica. Com a biópsia, que deve ser indicada por um neurocirurgião podendo ter o auxílio de um neurologista, pode-se conhecer o tipo celular do tumor, saber que tumor é aquele, e programar o melhor tratamento para ele. 

Mais informações, como prognóstico e tratamento, devem ser obtidas em consulta médica. 






quinta-feira, setembro 20, 2012

O medo pode ser "apagado" de nossos cérebros!

Notícia tirada do site ScienceDaily (leia aqui o original) e traduzida livremente.


O medo pode ser apagado do cérebro

Novas memórias emocionais podem ser apagadas do cérebro humano, de acordo com um estudo publicado na revista Science por pesquisadores da Universidade de Uppsala

Quando uma pessoa aprende algo, uma memória de longo prazo se forma com o auxílio de um processo de consolidação que se baseia na formação de proteínas. Quando lembramos algo, a memória se torna instável por um curto período de tempo e é então reestabilizada por outro processo de consolidação. Ou seja, podemos dizer que não lembramos exatamente o que aconteceu, mas ao invés, o que lembramos a última vez que pensamos sobre o que ocorreu. Pela ruptura do processo de reconsolidação que se segue após lembrarmo-nos de algo, nós podemos afetar o conteúdo da memória.

No estudo, os pesquisadores mostraram aos sujeitos da pesquisa uma figura emocionalmente neutra, e simultaneamente administraram um choque elétrico. Desta maneira, a figura começou a elicitar medo nas pessoas, ou seja, havia se formado uma memória de medo. A fim de ativar esta memória de medo, a figura era novamente mostrada, mas sem choque elétrico acompanhando. Para o grupo experimental, a reconsolidação foi rompida com o auxílio de apresentações repetidas da figura. Para um grupo controle (pessoas com média de idade semelhante ao grupo experimental, com as mesmas características demográficas que o grupo experimental, mas que não participam de todo o experimento), o processo de reconsolidação completou-se antes que os pesquisadores mostrassem repetidamente a mesma figura.

No grupo experimental, onde não foi permitida a reconsolidação da memória de medo, o medo que eles associavam à figura sumiu, ou seja, a ruptura do processo de reconsolidação tornou a memória de medo neutra, e não mais causava medo. Ao mesmo tempo, usando um aparelho de ressonância megnética, os pesquisadores conseguiram mostrar que os traços daquela memória também sumiram da parte do cérebro que normalmente armazena as memórias de medo, o grupo de núcleos conhecido como amígdala, localizados no lobo temporal.

O autor sugere que este estudo pode, no futuro, permitir melhorar métodos de tratamento de doenças psiquiátricas que têm o medo como base, como a ansiedade, o transtorno de estresse pós-traumático, as fobias e os ataques de pânico.

quarta-feira, setembro 19, 2012

O envelhecimento cerebral

Notícia tirada do site da Newcastle University (leia aqui o original em inglês) e traduzida livremente.

Cientistas descobrem como o cérebro envelhece

Pesquisadores da Universidade Newcastle revelaram os mecanismos pelos quais os neurônios, as células cerebrais transmissoras de informação, envelhecem, o que pode abrir caminho para o melhor entendimento de doenças que acompanham o envelhecimento cerebral, como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson. 

O processo de envelhecimento tem suas raízes profundamente dentro das células e moléculas que constituem nosso corpo. Cientistas já haviam identificado as vias moleculares que reagem a dano celular e que dão origem à capacidade de divisão celular, conhecidas como senescência (envelhecimento) celular.

No entanto, em células incapazes de se dividirem, como os neurônios, pouco foi entendido sobre este processo de envelhecimento. Mas os pesquisadores demonstraram que estas células seguem o mesmo caminho das outras, o que desafia o conhecimento prévio sobre envelhecimento celular e abre novas áreas para serem exploradas em termos de tratamentos para condições como demências, doenças do neurônio motor e perda auditiva relacionada à idade. 

Os cientistas descobriram em colônias de ratos senis que o envelhecimento neuronal segue exatamente as mesmas regras do envelhecimento das células de suporte do tecido conjuntivo (o tecido que faz parte da malha de sustentação de todos os órgãos exceto o cérebro), o fibroblasto. São os fibroblastos que se dividem na pele, por exemplo, para auxiliar na cicatrização de feridas. 

As respostas ao dano no DNA provocado pelo envelhecimento essencialmente reprogramam os fibroblastos senis para que produzam e secretem um conjunto de substâncias perigosas, incluindo radicais livres de oxigênio e moléculas inflamatórias, o que faz as células senis, velhas, produzirem dano às células boas na sua vizinhança. Isso é o que se pensava ocorrer somente nas células que se dividem com facilidade, o que não é o caso dos neurônios, mas a pesquisa demonstra que os neurônios sofrem estas mesmas alterações.

Mas agora, o objetivo da pesquisa é extrapolar estes resultados de envelhecimento neuronal aos humanos, e verificar se estes mecanismos explicam, por exemplo, a perda cognitiva e quadros demenciais em humanos. 

terça-feira, setembro 18, 2012

Os lobos cerebrais

O cérebro é constituído didaticamente por 5 lobos, ou seja, regiões que se especializaram, durante a evolução, em funções diferentes. 

Observe o cérebro abaixo com seus lobos:

https://encrypted-tbn2.google.com/images?q=tbn:ANd9GcTwoGzk1kZ8XZzmfentXssZ30lhKA1KM13zAymh4zoxOlRUtnOP
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0e/Insula_and_poles_of_brain_lobes.png
A figura acima mostra os lobos superficiais, que são vistos sem precisarmos abrir o cérebro:

Em amarelo, o lobo FRONTAL; em rosa, o lobo PARIETAL; em verde, o lobo TEMPORAL; em azul, o lobo OCCIPITAL; e profundamente no lobo temporal, em vermelho na figura de baixo, há o lobo da ÍNSULA.

Cada região, ou lobo, possui funções específicas, sabendo-se entretanto que o cérebro somente funciona de forma correta com a integração de todas as funções e de todas as regiões, haja vista haver regiões chamadas primárias, onde as sensações e funções são primariamente recebidas e produzidas, respectivamente, e as regiões secundárias e terciárias, onde as informações são organizadas e interpretadas.

Assim, sabemos que o córtex visual primário localiza-se no lobo occipital. Ou seja, as informações visuais são recebidas inicialmente ali. No entanto, são necessárias outras regiões, especialmente dos córtices (você sabia que o plural de córtex é córtices?) temporal e parietal, para que a informação visual grosseira seja processada, e informações como cor, forma, textura, distância do objeto, movimento e velocidade do objeto, reconhecimento do objeto e associações com emoções ou estado de espírito sejam feitas. 

Isso ocorre com todas as outras áreas, e iremos falar de cada uma separadamente. 

quinta-feira, setembro 13, 2012

Pequeno dicionário de termos médicos - Anosmia

Anosmia é o termo usado para nos referirmos à perda ou diminuição grave da sensação de olfato. Outros termos são hiposmia (diminuição do olfato), cacosmia (odores desagradáveis produzidos por doença da mucosa nasal, geralmente) e hiperosmia (aumento da sensação de olfato, raramente descrita, mas que pode ocorrer de forma genética [rara], ambiental [uso de algumas drogas, como anfetaminas, em casos de uso de uma droga chamada de metotrexate - link], ou em alguns casos de enxaqueca)

Como foi visto no post anterior sobre olfação, os cheiros e odores são "sentidos" pelo nervo olfatório, localizado na mucosa nasal, e transmitidos ao cérebro onde o estímulo será identificado, analisado e interpretado como odor, agradável ou não.

Mas para chegar ao cérebro, tem de haver contato das moléculas suspensas no ar com as terminações nervosas do nervo. Observe novamente abaixo:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/20/Olfactory_system.svg/340px-Olfactory_system.svg.png
As células coloridas no box à direita são as células da mucosa nasal que recebem os odores e trocam informações com as células localizadas na estrutura amarelada, o bulbo olfatório, que acaba levando as informações ao cérebro.

A hiposmia ou anosmia pode ocorrer em várias situações, algumas comuns, outras mais raras.

A causa mais comum é o resfriado comum ou a sinusite, que leva à inflamação da mucosa nasal, fazendo com que as moléculas do ar cheguem com mais dificuldade às terminações olfatórias que ficam soltas na mucosa. Como resultado, pouco estímulo há à mucosa olfatória, e percebe-se pouco cheiro. 

https://encrypted-tbn3.google.com/images?q=tbn:ANd9GcR6o6NsPXywGElivXlr8nIRLIckVJy_TMAUl4ta9fXYRnHJDiqH3g
A destruição das terminações nervosas pode levar também à hiposmia ou anosmia. As terminações, antes de saírem para a mucosa nasal, atravessam uma placa óssea, a placa do etmoide. Observe abaixo o osso etmoide:

https://encrypted-tbn3.google.com/images?q=tbn:ANd9GcT1Z-tK0taRaFHqkJCAnPMwKoAm7ZMndtCuIZBGg1YtUUsKKWUC
O osso etmoide é esse osso colorido de cor rosa na figura acima. As terminações olfativas passam através dessa placa. Observe abaixo:

http://ars.els-cdn.com/content/image/1-s2.0-S0074769606480049-gr9.jpg
Observe as terminações em amarelo entrando pela placa do etmoide na parte mais alta da figura acima. 

Logo, situações que levem a destruição óssea podem levar a perda ou diminuição de olfato, como traumas cranianos com fraturas ou tumores que cresçam na região, como meningiomas. Observe abaixo:

http://www.arquivosdeorl.org.br/conteudo/imagesFORL/13-03-17-fig01.jpg
A figura acima, de uma tomografia de crânio e face, demonstra uma massa grande localizada bem no centro da imagem, distorcendo as estruturas ao redor. A destruição das estruturas nasais pode bem causar alterações do olfato neste caso.

E uma causa recentemente descoberta como relacionada à perda do olfato é a doença de Parkinson, que pode levar a alterações do olfato anos antes dos sintomas motores. É interessante observar que muitas vezes o paciente não se queixa de sintomas, e a perda e olfato aparece em exames determinados para encontrá-los, geralmente exames de consultório usando canetas com cheiro ou papeis com cheiro, solicitando-se ao paciente que identifique os odores sentidos. A sensibilidade deste teste é tão grande que através dele, sabemos que quase todos os pacientes com doença de Parkinson apresentam alterações do olfato em algum momento da doença.

Mas não se preocupe. Lembre-se que a perda do olfato na doença de Parkinson é constante, enquanto que a maior parte das causas (inflamações e infecções nasais) dão alterações do olfato que vão e voltam, e estas são as causas mais comuns de anosmia/hiposmia, podendo inclusive dar cacosmia (quem com sinusite bacteriana aguda já não ficou com um cheiro de podre no nariz?).

Algumas epilepsias podem produzir sensações de cheiro, sem que realmente existam odores no meio. Isso ocorre por que estas crises acontecem em uma área do cérebro chamada de hipocampo, mais precisamente o uncus, relacionada ao sistema límbico (leia mais aqui), e que mantém contato íntimo com o córtex e as vias olfatórias. Geralmente os odores são desagradáveis, como cheiro de borracha queimada (segundo alguns pacientes), e logo vem uma crise epiléptica. A essas crises, chamamos de crises uncinadas.

Use estas informações como curiosidade, como mais algo do seu corpo que você acabou de saber. Não use estas informações para dar diagnósticos nem em si mesmo e muito menos nas outras pessoas. Lembre-se que, na presença de sintomas, deve-se consultar sempre o médico. Ele é o único que pode dar um diagnóstico e receitar um tratamento para seus sintomas. 

A relação estreita entre estresse e memória

Artigo tirado do site NeuroscienceNews.com (link) e traduzido livremente:


Estresse destrói as vias que mantém as memórias de curto prazo unidas

O estresse ha muito tempo tem sido considerado o inimigo da atenção, prejudicando a focalização da atenção e danificando substancialmente a memória operacional, a memória utilizada para armazenar informações novas e que serão utilizadas em curto prazo. É esta memória operacional que trabalha as informações recebidas diariamente, nos mantém ativos e produtivos. 
Um grupo de psicólogos da Universidade de Wisconsin-Madison observou neurônios individuais trabalhando, e demonstraram como o estresse pode danificar a mente, e como os neurônios de uma área do cérebro chamada de córtex pré-frontal ajudam a "lembrar" as informações. 
Veja o córtex pré-frontal abaixo:
http://neurosciencenews.com/neuroscience_images/prefrontal-cortex-public.jpg
A memória operacional é flexível e de curto prazo, e permite ao cérebro carregar uma grande quantidade de informações a mão a fim de realizar atividades simples e complexas. Sem ela, você esqueceria a primeira metade desta frase ao começar a ler a segunda parte. O córtex pré-frontal é vital para a memória operacional. Esta parte do cérebro não é importante para ouvir, ler e entender, falar, manter as memórias de longo prazo, como as de sua infância, ou mais recentes como o que você leu no jornal ontem. Mas sem ele, você seria incapaz de manter uma atividade ou modular bem suas emoções, você se distrairia facilmente e seria mais impulsivo.
Os neurônios desta região do cérebro armazenam informações por curtos períodos de tempo, podem apagar a informação se não mais necessária, e armazenar algo completamente novo. 
Por isso, por conta desta característica destas células, a informação nelas armazenada torna-se vulnerável ao estresse. Os neurônios necessitam auto-estimular-se a cada segundo para manter as inúmeras informações armazenadas, sob o risco de perdê-las. 
No estudo citado acima, uma carga de estresse, no caso um barulho alto, na presença de ratos de laboratório andando dentro de um labirinto desenhado para testar justamente a memória operacional, fez com que muitos neurônios sofressem interferência e esquecessem de se auto-estimular - ou seja, o que ele estava fazendo antes. 
Sob estresse, os neurônios ficam ainda mais ativos, mas sem reter a informação necessária para completar o trabalho, no caso acima terminar o labirinto. Ao invés, os neurônios acabam reagindo a outros estímulos, menos úteis. 
Os registros eletrográficos dos neurônios pré-frontais nos ratos do estudo demonstraram que estes neurônios são incapazes de reter informações-chave para manter ações encadeadas. Os neurônios, ao invés, estavam frenéticos, reagindo a distrações como barulhos e odores na sala. 
A literatura, de acordo com os autores, demonstra que o estresse desempenha um papel em mais da metade dos acidentes de trabalho, e muitas pessoas têm de trabalhar sob o que os autores considerariam uma grande carga de estresse. A distração que acaba ocorrendo o faz inicialmente a nível celular, simulando o que ocorre conosco a nível macroscópico. 
Ou seja, controlar o estresse é fundamental para manter sua memória ativa. 





Pequeno dicionário de termos médicos - O olfato

Este post relaciona-se e complementa/atualiza o post anterior sobre olfato - leia aqui.

O olfato é o sentido que nos permite conhecer e reconhecer as coisas pelo seu cheiro, odor. 

O olfato é determinado por neurônios localizados no bulbo olfatório, extensão do primeiro nervo craniano (o nervo olfatório) e que adentra a parte da frente do cérebro vindo do nariz (mais precisamente acima da mucosa nasal). Observe abaixo o nervo olfatório com o bulbo olfatório:

http://www.daviddarling.info/images/olfactory_nerve.jpg
O nervo está em amarelo. Observe que a parte alargada, o bulbo, possui filetes que se ligam a ele (na verdade, por ser este um nervo sensitivo, e não motor, estes filetes, as terminações olfatórias, entram no bulbo, ou seja, os nervos sensitivos saem da periferia [aqui, a cavidade nasal] e entram no cérebro, e os nervos motores saem do cérebro e vão para a periferia). Estas terminações possuem receptores (moléculas que ficam na superfície celular) e reconhecem outras moléculas, substâncias que criam um estímulo que será sentido como cheiro, levando informações destas moléculas ao cérebro, que interpreta a sensação como odor, cheiro.

Observe abaixo:

http://images.flatworldknowledge.com/stangor/stangor-fig04_020.jpg
Nesta figura, podemos ver à esquerda as moléculas de odor (odor molecules) saindo de uma rosa e adentrando a cavidade nasal, tocando as terminações nervosas do bulbo olfatório (olfactory bulb) que se conecta ao nervo olfatório (olfactory nerve). À direita vemos o bulbo olfatório em um esquema ultramicroscópico. No quadro abaixo à direita, o ar com moléculas que produzem odor aproxima-se de receptores nas células dos nervos, estimulando-os através de sinais elétricos, que são enviados a outros nervos e transmitidos ao cérebro, que irá reconhecê-los como odor e associá-los a outras sensações.

Interessante saber que o olfato é o sentido mais acurado em algumas espécies, como cães, onde possui funções de acasalamento (reconhecer uma fêmea no cio através do olfato), reconhecimento de território e de outros indivíduos da mesma espécie e de espécies diferentes, além de sentido de proteção e sobrevivência. Mas em nós, humanos, o olfato é muito mais do que somente uma função, digamos, instintiva.

No homem, o olfato proporciona prazer ao sentir um cheiro agradável. Ou nojo, ao sentir um cheiro desagradável, o que nos ajuda, inclusive, na auto-preservação (imagine uma pessoa sem olfato não conseguindo reconhecer se um alimento está podre ou não). Fora isso, o olfato relaciona-se a memórias e emoções, boas ou ruins, ao prazer na hora de alimentar-se e auxilia no romance, fora outras cositas más.

O conhecimento da associação do olfato com memórias não é novo, mas o porquê disso somente recentemente foi descoberto, e o conhecimento continua se expandindo.

O motivo é a interrelação entre as vias do olfato e uma via cerebral responsável pelas emoções, memória e pelo medo/angústia, o sistema límbico (leia sobre ele aqui). O sistema límbico é um conjunto de vias e núcleos cerebrais que tem como responsabilidade a memória dita explícita, a memória consciente, adquirida pela informação de si e do mundo, além das emoções tanto positivas como negativas. O sistema olfatório tem associação íntima com estas vias, e sinais produzidos e transmitidos via bulbo olfatório chegam ao córtex cerebral localizado logo acima de seu nariz, o córtex olfatório, e a outras vias mais próximas, como o córtex entorrinal e o hipocampo. Ali, associações entre sinapses acabam ocorrendo, levando à superficialização de memórias que, por circunstâncias, acabaram se associando a certos tipos de odores.

Você pode, por exemplo, sentir um cheiro de um perfume e lembrar de um amor de sua infância ou adolescência. Ou um odor qualquer pode fazê-lo reviver na cabeça, através de memórias e lembranças, situações que para você foram tristes ou desesperadoras. Como Marcel Proust cita em seu longo mas excelente "Em Busca do Tempo Perdido" (Link), o autor fala que o cheiro das madeleines (bolinhos franceses) molhadas no chá o faz lembrar de sua cidade e de sua infância, e assim inicia sua história (link).

Observe abaixo a relação entre o nervo olfatório e o sistema límbico:

http://www.yalescientific.org/wp-content/uploads/2011/05/fulllengths-olfaction-2.jpg
Ou seja, o olfato é um sentido muito mais valioso do que podemos pensar, e sua perda pode sr algo inestimável.

Aliás, falaremos dessa perda no próximo post, sobre a anosmia. 



sábado, setembro 08, 2012

O que é a vitamina D?

Antes de mais nada, gostaria de enfatizar que este artigo não se propõe a propagar os benefícios da Vitamina D e muito menos o seu uso pela população. Caso você queira conhecer mais e usar a vitamina, procure seu médico.

Em primeiro lugar, o que é uma vitamina?

De acordo com o Free Dictionary (leia aqui), vitamina é qualquer composto orgânico lipo ou hidrossolúvel (explicarei estes temos logo) essencial em minúsculas concentrações para o crescimento normal e atividade do corpo, e obtido naturalmente de plantas e animais. 

Orgânico significa que o composto é formado por um esqueleto de átomos de carbono (diferente dos compostos inorgânicos, formados por ligações entre sais, ácidos e bases). Lipossolúvel é um composto que se dissolve facilmente em meio gorduroso, enquanto hidrossolúvel é o composto que se dissolve facilmente em água. 

Há as vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e as hidrossolúveis (as principais sendo as do complexo B, como a B1, B2, B3, B5, B6, B9, B12, ácido fólico e outras).

Já a vitamina D é mais do que uma vitamina, já que além de participar de processos corporais essenciais, ainda modula outras atividades, inclusive atividades ligadas ao nosso código genético. Fora isso, uma vitamina é um composto essencial ou seja, não existe no corpo e necessita ser adquirido pela alimentação. A vitamina D pode ser adquirida pela alimentação, ou mais comumente, pela transformação do composto 7-dehidrocolesterol, que existe naturalmente na pele dos animais (nós inclusive), em colecalciferol (vitamina D3 ativa) quando a pele está sob exposição aos raios ultravioleta do sol, o que a transforma em uma substância diferente de outras vitaminas.

Há várias formas de vitamina D (D1, D2, ..., D5), mas a forma organicamente ativa é a 1,25-dihidróxi-colecaciferol ou 1,25-(OH)2-D3 (Ufa!). Observe a molécula abaixo:

http://img.alibaba.com/photo/104928028/1_alpha_25_Dihydroxy_Vitamin_D3_d6_26_26_26_27_27_27_d6_.jpg
De acordo com o estudo de Castro L, publicado nos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia em 2011 (leia aqui), a vitamina D em sua forma ativa (acima) não somente participa da regulação do metabolismo do cálcio nos dentes e ossos, mas também modula cerca de 3% do genoma humano (modular significa controlar, mas sem modificar). Ou seja, a vitamina D mexe com sua carga genética.

Mas como, você pode perguntar. Afinal de contas, a carga genética uma vez criada não pode ser modificada assim facilmente, certo? Mudanças assim demoram anos, séculos, para acontecer. Mas aí é que está o pulo do gato!

Nosso genoma não é todo lido. Sim, nosso DNA é formado por duas hélices de nucleotídeos, que devem ser lidos para formar proteínas. É assim que nosso DNA funciona. O DNA é transcrito em proteínas, e são estas que vão fazer o corpo funcionar. 

Observe abaixo:

https://encrypted-tbn1.google.com/images?q=tbn:ANd9GcQUQa6qE7IvR_IH08Xrk4R2Y4Z71-DbCaLIGyKzgLroqyw1BWIQ
Mas ocorre que nem todo o nosso DNA é "lido". Algumas partes dele podem ser mais ou menos expressas por conta do que chamamos de fatores epigenéticos, ou seja, moléculas que estão ligadas ao DNA, ou reações químicas que ocorrem nestas moléculas, e que modificam o modo como ele é lido.

Entre os vários fatores epigenéticos, há as histonas, moléculas que se enrolam nas fitas de DNA, escondendo ou mostrando partes dele para a leitura em proteínas. As histonas podem sofrer reações químicas, modificando sua estrutura e sua função. Ou partes do DNA, as partes mais iniciais de uma sequência, podem sofrer também reações que fazem com que aquela sequência iniciada ali seja ou não seja lida. Ou seja, há possibilidades de modificações genéticas reais em vida. E a vitamina D participa disso. 

Observe uma fita de DNA com histonas abaixo:

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM6cqBC7oDdfPDwh4SRT6_AniKUTdqOpTbfm1qIpL1HYPTxsJBHFITFD4nkiYp3k0NF3l7l2-fLk-NEhyphenhyphenoPnJDG0SJwgnRVT5A5IvheJ01iy3k5b7x99SwdekcKjTB41CWJ_LEYrP6ChM/s1600/estrutura+do+dna+-+cromossomos+fig1.jpg
Voltando, a vitamina D pode afetar seu crescimento (claro, na fase de crescimento, o que significa que uma criança desnutrida, claro, cresce menos), manutenção da homeostase, ou seja, do perfeito controle corporal,   além da diferenciação celular (transformação das células tronco, as células primordiais, em células especializadas como células da pele, fígado, neurônios, dos ossos, etc.), controle da apoptose celular (apoptose é a morte celular programada, quando uma célula com DNA defeituoso se suicida para preservar o corpo; o câncer é justamente um conjunto de células com DNA defeituoso que não possui o mecanismo de apoptose celular, e cresce indiscriminadamente), regulação do sistema imunológico, do sistema cardiovascular, do sistema musculoesquelético, além do metabolismo da insulina (o hormônio pancreático que possui sua função defeituosa nos diabéticos) Fonte

Ou seja, a vitamina D é mais do que propriamente uma vitamina, e é um composto essencial para sua vida, em todos os sentidos.

Nos próximos posts sobre nutrição, iremos discutir os vários papéis que a vitamina D parece exercer sobre o sistema nervoso. Não falaremos de suas funções sobre o metabolismo do cálcio, ossos e dentes por que isso foge ao assunto do blog. 


sexta-feira, setembro 07, 2012

Dez dicas para melhorar a memória


As 10 melhores dicas de como melhorar a memória, do site www.meddybear.net, e aqui em tradução livre e com comentários.

O cérebro humano é um aparelho (se é que podemos chamá-lo assim) maravilhoso, sendo capaz de armazenar memórias de longo e curto prazo. Mas para manter seu cérebro saudável, você tem que mantê-lo ativo, ou seja, exercitá-lo todos os dias (alguém um dia disse que o cérebro é como um músculo, o que na prática não é verdade, mas como os músculos temos de mantê-lo em atividade todos os dias). E aqui vão algumas dicas para melhorar sua memória e a saúde do seu cérebro:

1. Foco - O maior boost que você pode dar ao seu cérebro quando se trata de memória, é manter o foco, a atenção, o que em teoria é óbvio, já que se não soubermos o que estamos fazendo, não nos lembraremos disso depois. Certifique-se de que sua atenção está completamente voltada para o que você quer aprender ou lembrar (é, estudar pensando na colega de classe ou no XBOX não ajuda em nada!). Evite distrações enquanto estuda ou lê, como TV, e-mails, celulares, internet, facebook! E esta é uma das maiores causas das famosas idas ao quarto ou cozinha e "o que é que eu ia fazer aqui mesmo?" ou "onde eu guardei minha chave?". Você não se lembra provavelmente por que não estava atento ao problema na hora.

2. Descanse - Durma, descanse, relaxe e tenha sua diversão. Ninguém, e nenhum aparelho trabalha cansado. Uma mente cansada não consegue focalizar a atenção, e voltamos ao problema 1. De acordo com a National Sleep Foundation, um adulto deve dormir de 7 a 9 horas por dia.

3. Beba água - Hidratação é importante para que nosso corpos funcionem de forma apropriada, inclusive nossos cérebros. Bebe água, 2 litros por dia, e evite bebidas doces, como refrigerantes.

4. Coma alimentos que nutram seu cérebro - Coma coisas que possuam antioxidantes, como abacate, castanhas, castanha do pará, nozes, frutas vermelhas como mirtilo ou morango, salmão, brócolis, semente de linhaça.

5. Use acrônimos - Quando você tentar memorizar algo, una as iniciais das palavras que você quer lembrar em uma ou mais palavras de fácil memorização, ou seja, um acrônimo. Quem não se lembra da primeira coluna da tabela periódica - Li, Na, K, Rb, Cs, Fr - Linak Roubou César na França?

6. Jogue - Um cérebro ativo é um cérebro feliz (:))). Jogue jogos que o façam pensar, como palavras cruzadas ou Sudoku.

7. Leia ou diga o que quer lembrar em voz alta - O ato de verbalizar o que se quer lembrar faz com que o estímulo (memória) seja recebido por mais de um sentido, o que o fixa mais rigidamente no cérebro.

8. Faça exercícios diários - Isso ajuda a aumentar o fluxo sanguíneo cerebral, o que leva a maior poder da sua caixinha de pensamento (ou seja, poeticamente o cérebro). Faça atividade aeróbica. Estudos mostram que a prática de exercícios aeróbicos leva a uma melhor performance em testes neuropsicológicos.

9. Mastigue chiclete - Estudos mostram que o ato de marcar chiclete auxilia na manutenção da atenção (Por que, ninguém sabe!). E isso ocorre com chicletes com ou sem açúcar. Mas mascar muito chiclete pode dar gastrite, então cuidado e vá com calma.

10. Limite a quantidade de tempo que você passa lendo ou estudando - Tempos curtos, mas concentrados, de estudo são melhores que longos tempos de estudo para a memória. Leia por 15 a 20 minutos, e depois leia novamente o que você leu. Isso ajuda a fixar a memória.


terça-feira, setembro 04, 2012

Quantos neurônios há no nosso cérebro?

Notícia tirada do site do The Guardian e traduzida livremente - leia mais aqui.


Quantos neurônios há no nosso cérebro? A resposta estimada era de 100 bilhões, até há algumas semanas. Mas a resposta parece ser um pouco menos que isso.
De acordo com a pesquisadora brasileira Dra. Suzana Herculano-Houzel, do Rio de Janeiro, ninguém sabia exatamente de onde o número de 100 bilhões havia saído, e como se havia chegado a ele. A pesquisadora chegou a um número mais concreto a partir de um trabalho de pesquisa impressionante. O seu grupo coletou cérebros de cadáveres adultos masculinos com as idades de 50, 41, 54 e 71 anos, e que haviam falecido de doenças não neurológicas. Todos haviam doado seus cérebros para pesquisa. O grupo de pesquisadores transformou o que a Dra. Suzana chama de "sopa de cérebro".
O método envolve dissolver as membranas celulares dentro do cérebro, e criar uma mistura homogênea de todo o conjunto, uma massa. Pega-se então uma amostra desta sopa, conta-se o número de corpos celulares de neurônios (claro que há as outras células não neuronais, as células da glia, descritas em tópico neste blog), e extrapola-se este número para se ter o número completo. 
Este método é mais vantajoso que o mais conhecido, ou seja, contar o número de neurônios em uma parte isolada de um cérebro e a partir daí extrapolar o número completo de neurônios (que tem lá seus problemas, já que o número de neurônios não é o mesmo de uma região do cérebro para outra, além de que em algumas regiões cerebrais, os neurônios estão bem mais unidos e agrupados que em outras, dificultando a contagem).  
Mas qual é o número? Em média, de acordo com Dra. Suzana, o cérebro humano possui 86 bilhões de neurônios, 14 bilhões a menos do que se pensava. Mas para quem pensa que é uma pequena diferença, 14 bilhões é o número de neurônios que há no cérebro de um babuíno, ou quase metade do número de neurônios do cérebro de um gorila. 
Mas então, o que faz nosso cérebro especial? De acordo com a Dra. Suzana, nós temos uma quantidade de células cerebrais muito maior que outras espécies de primatas, o que é energeticamente muito caro para nosso corpo (estima-se que cerca de 20 2 5% de nossa energia total é gasta para manter nosso cérebro funcionando).
Mas, na humilde opinião do escritor deste blog, não é somente o número de neurônios que importa, mas as conexões que eles fazem uns com os outros que nos tornam também quem somos. 




Pequeno dicionário de termos médicos - Leucoencefalomalácia

Lá vai mais um palavrão médico - leucoencefalomalácia. Este é um termo comumente achado em laudos de tomografia e ressonância magnética, e na boca dos neurologistas. Mas não é difícil de entender.

Leuco vem do grego, λευκος, ou seja, branco. Encéfalo vem do grego, εγκεφαλος, ou seja, encéfalo. E malácia vem, ufa, do grego μαλακία, que quer dizer debilidade, amolecimento. Ao pé da letra, leucoencefalomalácia quer dizer, tecnicamente, amolecimento do tecido cerebral, tanto de substância branca como cinzenta.

A leucoencefalomalácia nada mais do que do que tecido cerebral danificado, em geral por um derrame (AVC), um trauma cerebral ou outra lesão que leve a cicatrização de tecidos cerebrais. E geralmente nos leva a pensar em lesões antigas, que já ocorreram há bastante tempo. São, portanto, lesões cicatriciais.

Observe abaixo:

https://encrypted-tbn1.google.com/images?q=tbn:ANd9GcSt9NCZMvNQMG1S6ago3b6LhAKhdljz6TmxMRa6F809x0j1w6fJ
Este é um cérebro de verdade. No lado direito da figura, há uma região como um buraco que se estende da superfície à profundidade do cérebro. Este é um exemplo de encefalomalácia. Aqui há perda de tecido cerebral.

Na imagem de tomografia, a encefalomalácia aparece como uma região escura, ou seja, de baixa densidade,  sendo que os ventrículos, os espaços de líquido normais do cérebro, do mesmo lado podem aparecer maiores, e os sulcos da superfície cerebral podem aparecer mais alargados próximos à área de encefalomalácia.

Observe abaixo um exemplo de encefalomalácia visto em uma tomografia:

http://www.lasse.med.br/mat_didatico/lasse1/textos/eliana01_arquivos/image003.jpg
Observe os ventrículos do lado direito, á esquerda da figura, pequenos, e os do lado esquerdo, do lado direito da figura, adjacentes à região lesada e bem grandes. Esta lesão ocorreu pode conta de um grande derrame.

Nem todas as áreas de encefalomalácia são grandes, e há pequenas áreas, como a abaixo:

http://www.scielo.br/img/revistas/ramb/v56n4/09f3.jpg
Na figura da esquerda, há uma área mais escura à direita da figura. Esta área de encefalomalácia, pequena, foi causada por uma lesão pela neurocisticercose (ou o bichinho da carne de porco).