sábado, junho 15, 2013

Quantas medicações antiepilépticas há?

Aviso aos navegantes que este artigo não se propõe a sugerir tratamento ou propor automedicação, em hipótese alguma. Propõe-se somente a mostrar e a fazer entender as drogas antiepilépticas usadas até hoje no mercado Brasileiro.

As mais antigas foram descobertas por acaso, no uso para outras doenças. 

O fenobarbital é a medicação antiepiléptica a mais tempo no mercado, mas era usado antes como sedativo, medicação para insônia. Foi descoberto em 1902, e começou a ser vendido em 1912, mas foi deixado de lado no tratamento da insônia em 1962, quando os famosos benzodiazepínicos foram introduzidos no mercado (como o diazepam).

A primidona, uma medicação relacionada ao fenobarbital, até hoje é usada como alternativa no tratamento do tremor essencial. Mas tem pouca eficácia como antiepiléptico.

A carbamazepina, uma droga também bastante antiga, descoberta em 1953, foi inicialmente usada, e até hoje ainda é usada, para tratar neuralgia trigeminal. A carbamazepina ainda é usada hoje em dia para tratamento de alguns transtornos psiquiátricos.

A fenitoína foi a segunda droga antiepiléptica a ser descoberta, em 1908. Começou a ser usada como antiepiléptico, no entanto, quase 30 anos antes do fenobarbital, em 1938. 

Antes destas drogas mencionadas acima, usava-se para tratamento das crises epilépticas os brometos, sais compostos de um metal (o mais famoso deles sendo o potássio) e bromo. Os brometos foram introduzidos no século XIX para o tratamento de epilepsia até a chegada da fenitoína e do fenobarbital. Em 1975, pararam de ser comercializados por seus efeitos tóxicos (interessante que esta droga ainda é usada hoje para tratamento de epilepsia em cães).

O ácido valpróico é a medicação antiepiléptica mais antiga, tendo sido descoberta em 1882, sendo um análogo do ácido valérico, encontrado na valeriana. No entanto, suas propriedades anticonvulsivantes (ainda hoje usadas) somente foram descobertas em 1962, por acaso (era usado como veículo, substância para facilitar a absorção de outras substâncias, de certas medicações tidas como antiepilépticas). O ácido valpróico ainda hoje é usado também no tratamento profilático de enxaqueca. 

A etossuximida é uma medicação mais nova, e sua indicação principal são as crises de ausência típica em crianças, pois tem um perfil de efeitos colaterais bem melhor que o ácido valpróico, a segunda linha de tratamento nestes casos.

Há muitas outras medicações para epilepsia, e que diferentemente das citadas acima, que foram descobertas por acaso, foram desenvolvidas para este fim, e cujo mecanismo de ação é parcialmente ou totalmente conhecido.

Assim, temos:

1. A oxcarbazepina, um análogo da carbamazepina
2. A fosfenitoína, um análogo da fenitoína com menos efeitos colaterais
3. A lamotrigina
4. O topiramato
5. O divalproato de sódio, um análogo do ácido valpróico usado mais como profilático de enxaqueca
6. O piracetam, pouco usado como antiepiléptico por conta de sua baixa eficácia
7. O levetiracetam, ainda não disponível no Brasil
8. O clobazam, um benzodiazepínico com excelentes propriedades antiepilépticas
9. A vigabatrina, que devido ao seu perfil severo de efeitos colaterais, é usado principalmente na síndrome de West e na síndrome de Lennox-Gastaut
10. O felbamato
11. A tiagabina
12. A gabapentina, mais usada no tratamento da dor e como terceira linha no tratamento do tremor essencial
13. A pregabalina, mais usada no tratamento da dor neuropática
14. A acetazolamida, medicação descoberta em 1953, e que possui indicações específicas em epilepsia

Outros tratamentos como a dieta cetogênica e a estimulação vagal, sobre os quais poderemos posteriormente, são meios não medicamentosos de tratamento antiepiléptico, usados no entanto nas formas refratárias ou graves de epilepsia. 

Os vários tipos de crises epilépticas focais

Quem não conhece e quando ouve falar de crise epiléptica, pensa logo na famosa crise tônico-clônica generalizada, a chamada convulsão, com abalos generalizados, perda de consciência, saída de saliva e de urina e confusão após. Mas estas formas de crises são apenas uma dos vários tipos diferentes de crises epilépticas que uma pessoa pode sofrer. Sim, nosso cérebro é bastante versátil.

Cada região do cérebro cuida, mais ou menos, de uma ou várias funções. Assim, o lobo frontal é responsável pelas funções executivas, como planejamento, atenção, abstração, memória operacional (aquela que usamos para lembrar uma coisa por alguns minutos, e esquecemos após), e outras funções. Mas no lobo frontal, há também as funções motoras do corpo, e várias outras funções, como o comportamento e a linguagem.

O lobo parietal esquerdo relaciona-se com a linguagem e com a sensibilidade do lado direito do corpo; já o lobo parietal direito relaciona-se com funções mais complexas, como a capacidade de se localizar no espaço (orientação visuoespacial), além das chamadas funções sensoriais superiores, como a capacidade de reconhecer uma parte do corpo como própria, a capacidade de discriminar dois pontos ao mesmo tempo em uma superfície do corpo, a capacidade de reconhecer letras e números escritos na mão esquerda, a capacidade de reconhecer coisas colocadas na mão esquerda, a capacidade de determinar qual objeto é mais pesado quando colocados nas mãos, etc.

O lobo temporal relaciona-se com a memória, mas mais que isso, relaciona-se com a olfação (sim, seu lobo temporal tem a ver com a capacidade de sentir e discriminar cheiros e odores), com experiências e emoções relacionadas a elas, e mesmo com a audição (uma parte externa do lobo temporal recebe informações das vias auditivas e vestibulares, ou seja, relacionadas com o labirinto).

Já o lobo occipital relaciona-se com a visão e todas as suas complexidades. 

Assim, uma crise epiléptica que se inicia no lobo occipital pode ser caracterizada por manchas, objetos, cores e luzes coloridas no campo visual; mas também outras coisas mais bizarras, como de repente ver as coisas maiores ou menores (respectivamente, macropsia e micropsia), ver as coisas em câmera lenta, ver as imagens distorcidas, e outras alterações mais complexas.

Crises do lobo temporal podem dar sensações olfativas anormais, como cheiro de esgoto ou borracha queimada, podem produzir sensações de sair do próprio corpo, de visitar mundos diferentes, podem produzir êxtase (vide Dostoievsky), podem criar sensações de medo ou prazer extremos, ou podem produzir as famosas crises parciais complexas, onde há alteração sem perda de consciência com olhar parado e movimentos automáticos de partes do corpo. Outras crises do lobo temporal podem constituir-se de tontura, zumbido ou mesmo alucinações auditivas (estas crises são raras).

Crises frontais podem produzir as mesmas crises parciais complexas, mas podem levar a alterações comportamentais, crises de movimentação anormal ou abalos localizados em um braço, perna ou rosto (do lado contrário ao foco), crises de virada (crises versivas) do olho e/ou cabeça para qualquer lado, ou crises de posturas anormais de membros. Pode haver também alterações de linguagem se o foco está à esquerda.

Crises parietais podem produzir alterações de linguagem se o foco é à esquerda, ou sensações estranhas de um lado do corpo (contrário à lesão), crises versivas ou outras formas de crise.

As crises descritas acima são as crises focais, parciais, originadas de focos em cada um destes lobos, e que geralmente permanecem nestes locais. Claro que muitas destas crises podem evoluir para uma crise generalizada, a convulsão, a que chamamos de crises parciais com generalização secundária.