terça-feira, setembro 04, 2012

Quantos neurônios há no nosso cérebro?

Notícia tirada do site do The Guardian e traduzida livremente - leia mais aqui.


Quantos neurônios há no nosso cérebro? A resposta estimada era de 100 bilhões, até há algumas semanas. Mas a resposta parece ser um pouco menos que isso.
De acordo com a pesquisadora brasileira Dra. Suzana Herculano-Houzel, do Rio de Janeiro, ninguém sabia exatamente de onde o número de 100 bilhões havia saído, e como se havia chegado a ele. A pesquisadora chegou a um número mais concreto a partir de um trabalho de pesquisa impressionante. O seu grupo coletou cérebros de cadáveres adultos masculinos com as idades de 50, 41, 54 e 71 anos, e que haviam falecido de doenças não neurológicas. Todos haviam doado seus cérebros para pesquisa. O grupo de pesquisadores transformou o que a Dra. Suzana chama de "sopa de cérebro".
O método envolve dissolver as membranas celulares dentro do cérebro, e criar uma mistura homogênea de todo o conjunto, uma massa. Pega-se então uma amostra desta sopa, conta-se o número de corpos celulares de neurônios (claro que há as outras células não neuronais, as células da glia, descritas em tópico neste blog), e extrapola-se este número para se ter o número completo. 
Este método é mais vantajoso que o mais conhecido, ou seja, contar o número de neurônios em uma parte isolada de um cérebro e a partir daí extrapolar o número completo de neurônios (que tem lá seus problemas, já que o número de neurônios não é o mesmo de uma região do cérebro para outra, além de que em algumas regiões cerebrais, os neurônios estão bem mais unidos e agrupados que em outras, dificultando a contagem).  
Mas qual é o número? Em média, de acordo com Dra. Suzana, o cérebro humano possui 86 bilhões de neurônios, 14 bilhões a menos do que se pensava. Mas para quem pensa que é uma pequena diferença, 14 bilhões é o número de neurônios que há no cérebro de um babuíno, ou quase metade do número de neurônios do cérebro de um gorila. 
Mas então, o que faz nosso cérebro especial? De acordo com a Dra. Suzana, nós temos uma quantidade de células cerebrais muito maior que outras espécies de primatas, o que é energeticamente muito caro para nosso corpo (estima-se que cerca de 20 2 5% de nossa energia total é gasta para manter nosso cérebro funcionando).
Mas, na humilde opinião do escritor deste blog, não é somente o número de neurônios que importa, mas as conexões que eles fazem uns com os outros que nos tornam também quem somos. 




Pequeno dicionário de termos médicos - Leucoencefalomalácia

Lá vai mais um palavrão médico - leucoencefalomalácia. Este é um termo comumente achado em laudos de tomografia e ressonância magnética, e na boca dos neurologistas. Mas não é difícil de entender.

Leuco vem do grego, λευκος, ou seja, branco. Encéfalo vem do grego, εγκεφαλος, ou seja, encéfalo. E malácia vem, ufa, do grego μαλακία, que quer dizer debilidade, amolecimento. Ao pé da letra, leucoencefalomalácia quer dizer, tecnicamente, amolecimento do tecido cerebral, tanto de substância branca como cinzenta.

A leucoencefalomalácia nada mais do que do que tecido cerebral danificado, em geral por um derrame (AVC), um trauma cerebral ou outra lesão que leve a cicatrização de tecidos cerebrais. E geralmente nos leva a pensar em lesões antigas, que já ocorreram há bastante tempo. São, portanto, lesões cicatriciais.

Observe abaixo:

https://encrypted-tbn1.google.com/images?q=tbn:ANd9GcSt9NCZMvNQMG1S6ago3b6LhAKhdljz6TmxMRa6F809x0j1w6fJ
Este é um cérebro de verdade. No lado direito da figura, há uma região como um buraco que se estende da superfície à profundidade do cérebro. Este é um exemplo de encefalomalácia. Aqui há perda de tecido cerebral.

Na imagem de tomografia, a encefalomalácia aparece como uma região escura, ou seja, de baixa densidade,  sendo que os ventrículos, os espaços de líquido normais do cérebro, do mesmo lado podem aparecer maiores, e os sulcos da superfície cerebral podem aparecer mais alargados próximos à área de encefalomalácia.

Observe abaixo um exemplo de encefalomalácia visto em uma tomografia:

http://www.lasse.med.br/mat_didatico/lasse1/textos/eliana01_arquivos/image003.jpg
Observe os ventrículos do lado direito, á esquerda da figura, pequenos, e os do lado esquerdo, do lado direito da figura, adjacentes à região lesada e bem grandes. Esta lesão ocorreu pode conta de um grande derrame.

Nem todas as áreas de encefalomalácia são grandes, e há pequenas áreas, como a abaixo:

http://www.scielo.br/img/revistas/ramb/v56n4/09f3.jpg
Na figura da esquerda, há uma área mais escura à direita da figura. Esta área de encefalomalácia, pequena, foi causada por uma lesão pela neurocisticercose (ou o bichinho da carne de porco).