terça-feira, agosto 28, 2012

O que é botulismo?

Recentemente, a mídia divulgou a ocorrência de um surto de botulismo devido a alimentos contaminados com a toxina da bactéria chamada Clostridium botulinum. Mas você sabe o que é botulismo?

Botulismo é uma doença produzida pela toxina da bactéria Clostridium botulinum. Foi descoberta e caracterizada pela primeira vez em 1897, na Bélgica, por Émile Pierre-Marie Van Ermengem, um bacteriologista belga (leia mais aqui). A bactéria, a que nos referiremos a partir de agora somente por CB, é um organismo grande, em forma de bastão, que predomina no solo e na água. Este micro-organismo é capaz de produzir esporos, ou seja, uma forma que resiste às condições do tempo, podendo permanecer vivo mesmo em ambientes inóspitos ou temperaturas altas, até cerca de 120 graus Celsius (a temperatura de ebulição, ou seja, de formação de vapor, da água é de 100 graus Celsius). É um organismo anaeróbio restrito, ou seja, não vive em meio rico em oxigênio, e sob estas condições acaba ficando sob a forma de esporo, inativa.

Abaixo uma figura que fala por si só.


http://notrickszone.com/wp-content/uploads/2011/05/botulism.jpg


Adquire-se a bactéria CB através da ingestão de alimentos mal conservados ou enlatados/processados de forma inapropriada ou contaminada. Mais raramente a toxina pode contaminar uma pessoa através de  feridas abertas contaminadas com a bactéria, como ocorre com o tétano (que aliás é causado por uma bactéria parente da CB, a Clostridium tetani). A bactéria produz uma neurotoxina (uma toxina, ou substância nociva ao corpo, que age no sistema nervoso), a toxina botulínica, isso mesmo, a mesma usada para tratamentos de rugas e doenças neurológicas, mas neste caso em diluições muito, mas muito minúsculas que não fazem mal. Esta toxina é extremamente potente, e doses de 0.05 a 0.1 micrograma (1 micrograma é 1 miligrama dividido por mil) podem ser suficientes para matar uma pessoa.

O botulismo pode ocorrer em crianças abaixo de 1 anos de idade, podendo estar associado ao consumo por elas de mel. Isso mesmo, mel. Sugere-se que não se alimente crianças abaixo de 1 ano de idade com mel, pela ineficácia do trato intestinal da criança até essa idade de lidar com a bactéria caso a ingira (leia mais sobre isso aqui).

Já na circulação, a toxina botulínica, ou BnT, segue em direção às sinapses entre os nervos e os músculos, ou sinapses motoras.

Observe uma sinapse motora abaixo:


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBUoHY0Kxjt9XxW8bBEPLAjpK0pDNQz31OkC9HlyCprdVca9IULmfUsx2CUMks9ISNFhoNo6HFR0VwPguWeIc6uDarIznHnGccO6lTaZz8tgJAD-ELHhsfV2NLZ4Gu2TWHToI0MEbofvyL/s1600/sinapse2.jpg
Observe à direita da figura que existe uma fenda entre o axônio motor, que é parte do neurônio, o nervo, e o músculo abaixo. Esta é a fenda sináptica, onde é liberada a acetilcolina, presente nas bolhinhas ou vesículas sinápticas. Estas vesículas necessitam de moléculas que ancorem-nas à membrana para liberação na fenda sináptica e ação do outro lado, no músculo. E há várias proteínas que fazem isso. Observe mais abaixo:


http://i100.photobucket.com/albums/m32/maxaug/nervoso3.gif
Esta é outra sinapse vista em corte lateral. Todos os neurônios se comunicam assim entre si e entre eles e músculos e glândulas.


http://128.241.192.41/images/hyperhidrosis004.gif
Observe que a vesícula contendo acetilcolina é ancorada por um grupo de moléculas (proteínas) localizadas à esquerda com os nomes de Synaptobrevin (sinaptobrevina), SNAP-25 e Syntaxin (sintaxina), que realizam a ligação entre a vesícula e a membrana do neurônios, que acabam por se fundir e liberar a acetilcolina (ou outro neurotransmissor) na fenda sináptica. Sem isso, sem essa interação entre a acetilcolina e o músculo, não há a contração muscular, e o músculo fica fraco, hipotônico (sem tônus, sem força, mole) e inútil.

Mas o que a BnT faz? A BnT destrói estas vesículas de ancoragem, justamente elas. E estas proteínas demoram para ser restauradas.

Qual o quadro clínico do botulismo?

O botulismo produz paralisia muscular progressiva, de cima para baixo (começando pelo rosto), podendo haver paralisia diafragmática com parada respiratória, e paralisia dos músculos dos braços e pernas. Pode haver também boca seca e diminuição do suor, por que a toxina age também nas glândulas que produzem a saliva e o suor.

Geralmente a doença começa de 2 a 36 horas após a ingestão da toxina. Iniciam-se visão dupla, borramento visual, queda da pálpebra e paralisia facial bilateral. Logo advêm dificuldade para falar (disartria) e para engolir (disfagia). A fraqueza acaba por descer para os membros e em casos severos, para os músculos da respiração. A doença pode ser leve, com sintomas mínimos, ou graves, necessitando de internação em serviço de emergência ou UTI, e intubação (colocação do tubo pela boca para auxiliar na respiração). O paciente permanece ciente e consciente de tudo ao menos que seja sedado.

Outros sintomas como constipação, boca seca, queda de pressão ao ficar em pé (hipotensão postural), alterações urinária como retenção urinária, podem ocorrer. Náuseas, vômitos e diarreia podem ocorrer no começo da doença.

A recuperação é prolongada, podendo durar semanas a meses, mas completa, geralmente sem sequelas. O que ocorre é quer as terminações nervosas inativadas pela toxina necessitam ser repostas por terminações novas, que demandam tempo, além de que as proteínas inativadas também de se ser produzidas de novo.

O diagnóstico é clínico, e geralmente é bastante típico. Mas algumas doenças podem se parecer com o botulismo, como a síndrome de Guillain-Barrè (leia aqui), a miastenia gravis (leia mais aqui), especialmente quando os sintomas são leves, ou uma doença chamada de paralisia pela picada de carrapato, um quadro causado pela picada e permanência de certos tipos de carrapatos na pele.

Mas há exames para o diagnóstico? Sim!

O exame de eletroneuromiografia (saiba mais sobre esse exame aqui) pode demonstrar alterações nos padrões de ativação dos nervos que sugerem, na dependência do quadro clínico e de outros exames, o diagnóstico de botulismo, ou seja, este exame sozinho não dá o diagnóstico.

Deve-se detectar a toxina em amostras de soro do paciente, fezes ou ferida contaminada. Este é o melhor método de diagnóstico, mas é um exame que deve ser feito tão logo o paciente chegue ao hospital com a suspeita diagnóstica.

O tratamento deve ser sempre feito em hospital, podendo haver a necessidade de suporte de UTI, além do uso da antitoxina, uma substância que inativa a toxina ainda em circulação. A toxina já presente nos nervos não pode mais ser inativada pela antitoxina.

Mas o que fazer para evitar o botulismo?

De acordo com o site Brasil Escola:


1. Não adquirir nem ingerir alimentos cuja lata ou tampa se apresentem estufadas ou enferrujadas;


2. Não adquirir nem ingerir alimentos cujo conteúdo líquido se apresente turvo;


3. Não adquirir nem ingerir alimentos cujo vidro se apresente turvo;


4. Só consumir mel de procedência conhecida;


5. Ferver alimentos enlatados antes do consumo, principalmente o palmito, já que este é um dos alimentos mais relacionados aos casos de botulismo (a toxina é destruída à temperatura de 65 a 80º C por 30 minutos; ou à 100 º C por 5 minutos).


Além disso, no site How Stuff Works (leia mais aqui), pode-se conhecer mais como prevenir botulismo por contaminação de feridas:


6. Limpe qualquer ferimento com anti-séptico e verifique se não há sinais de infecção. Como a toxina botulínica cresce apenas na ausência do oxigênio, é muito importante manter as feridas limpas e sem tecido morto. Em caso de dúvida, procure um médico imediatamente. 







domingo, agosto 19, 2012

Pequeno dicionário de termos médicos - Neurônio motor inferior

Já vimos o que são neurônios (leia aqui). Vimos que são as células principais do sistema nervoso. Mas eles não existem somente no cérebro, e a medula é cheia de neurônios, localizados na substância cinzenta medular. Os neurônios medulares recebem e transmitem as informações da periferia, repassando as informações de fora do corpo para o cérebro, e de dentro do cérebro para os músculos, a fim de realizarmos os movimentos. Há neurônios motores, sensitivos e presentes em uma porção da medula, chamada de coluna intermédio-lateral, responsáveis pelas funções autonômicas do corpo (leia mais sobre isso aqui).

Observe a medula em um corte horizontal (ou axial, de frente para trás). Na substância cinzenta, os neurônios sensitivos estão na porção mais posterior, ou corno posterior, e os neurônios motores no corno anterior da medula:

https://encrypted-tbn1.google.com/images?q=tbn:ANd9GcQm24v8UioHAAvzOsZKhRw3L4pnROFMzuZzxY_2dBQi8pII9Qm15Q
Mais ainda, a substância cinzenta é dividida em lâminas, camadas de grupos neuronais, sendo que cada camada, ou lâmina de Rexed, é responsável por certas funções ou conecta-se a certas fibras que sobem ou descem pela substância branca. 

Observe mais abaixo as lâminas de Rexed do lado direito da figura:

http://thebrain.mcgill.ca/flash/a/a_03/a_03_cl/a_03_cl_dou/a_03_cl_dou_1d.jpg

Do lado esquerdo há alguns grupos de neurônios específicos, sendo os de coloração púrpura sensitivos, os de coloração esverdeada autonômicos, e os de coloração avermelhada motores.

Os grupos de neurônios mais anteriores, localizados no corno ou ponta anterior da medula (os de coloração avermelhada da figura acima) são os que se conectam aos músculos através dos nervos motores. Estes grupos neuronais recebem informações dos neurônios localizados na substância cinzenta do cérebro, o córtex cerebral. Lá localizam-se os chamados primeiros neurônios, ou neurônios motores superiores.

Na medula, há os segundos neurônios, ou neurônios motores inferiores. Destes neurônios saem os nervos motores que vão diretamente para os músculos.

A degeneração lenta destes neurônios pode levar a fraqueza muscular, perda de massa muscular (atrofia) e fasciculações (movimentos de fibras musculares isoladas como teclas de piano sendo tocadas). Entre algumas enfermidades, duas doenças podem causar este tipo de problema:

1. A paralisia infantil, ou poliomielite, uma infecção dos neurônios por um vírus de contágio intestinal, já erradicado no Brasil;

2. A ELA, ou esclerose lateral amiotrófica, sobre a qual falaremos a seguir.

sexta-feira, agosto 17, 2012

Trombose Venosa Cerebral

Artigo escrito pelo neurologista Dr. Diego Zanotti Salarini, e cedido gentilmente para publicação neste blog. 


Olá amigos, levante a mão quantas vezes algum leitor aqui do blog já não pensou que tinha um “aneurisma cerebral” quando apresentou uma dor de cabeça intensa? Poucos sabem que o aneurisma cerebral ocorre em 5-10% da população geral e poucos tem sintomas (cerca de 15/100000 habitantes – 0,015% da população). O que poucos sabem que a trombose venosa cerebral é outra possível causa de dor de cabeça, além de vários outros sintomas, e é tão importante quanto os aneurismas.

A trombose venosa cerebral (ou TVC) é uma doença que acomete o sistema de drenagem sanguíneo do encéfalo, as veias cerebrais e os seios venosos (leia mais aqui). 

Primeiramente vamos explorar o conceito de trombose. Trombose é um mecanismo do nosso organismo que visa a parada de perdas sanguíneas para fora dos vasos, logo é um mecanismo protetor, mas com alguns fatores externos (medicamentos, tabagismo, trauma, alterações genéticas, doenças reumatológicas, etc), ela pode ocorrer espontaneamente em qualquer parte do organismo onde existam veias – pernas, pulmão, coração, cérebro, pele, órgãos reprodutivos). Como resultado final plaquetas e hemácias (os glóbulos vermelhos) ficam aprisionados em uma rede de fibrina (a proteína que facilita a agregação do coágulo) e formam o trombo (ou coágulo), que pode ter um componente mais rico em plaqueta e fibrina (trombo branco) ou hemácias (trombo vermelho).

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Com toda essa explicação e os posts anteriores conseguimos entender que realmente é uma condição possivelmente séria. Agora vamos entender o mecanismo dos seus sintomas. Imagine uma caixa d´água: a água vai enchendo a caixa e a casa vai consumindo a água, mantendo um mecanismo de equilíbrio nesse processo. Quando o enchimento fica prejudicado falta água na caixa e a casa fica sem abastecimento (igualzinho o que ocorre em um AVC isquêmico– se faltar em alguns cômodos – ou um infarto cardíaco com síncope (leia aqui p que é síncope) – quando falta água na casa toda).

Agora vamos imaginar outro cenário: o abastecimento está correto porém a saída da caixa está comprometida (ou o entupimento dos canos ou o cano quebrou), o que irá acontecer? A caixa vai ter água transbordando, ocorre a maior sujeira no sótão e o bombeiro encanador vai ser chamado para consertar. Isso é exatamente o que ocorre na TVC, porém temos um agravante, o crânio é uma caixa fechada e não tem como extravasar o sangue (Leia aqui e aqui), logo ocorre a primeira manifestação clínica, a Hipertensão Intracraniana. Com o aumento da pressão intracraniana o cérebro é “espremido” e, como ele é ancorado nas meninges (leia aqui sobre as meninges), ocorre seu repuxamento e gera a dor de cabeça característica dessa condição, piora com o deitar, contínua, progressiva, melhora com o ficar de pé, por toda a cabeça e de leve a moderada intensidade no seu início.

http://www.jped.com.br/conteudo/99-75-S279/fig01.gif

A cefaléia é decorrente da trombose dos seios venosos cerebrais, porém temos outros vasos venosos no encéfalo, as veias corticais, que drenam o sangue diretamente do córtex cerebral. Se ocorrer trombose nesses locais o que ocorre é um AVC, dessa forma outros sintomas possíveis são: fraqueza em um lado do corpo, crises convulsivas, baixa da capacidade visual.

O diagnóstico é feito através de uma boa história clinica, explorando bem as características da dor de cabeça e o exame neurológico, incluindo o exame de fundo de olho que é de extrema utilidade.

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A figura acima demonstra um caso de papiledema, ou seja, inchaço da retina, alteração no exame de fundo de olho que nos ajuda a determinar se há ou não aumento da pressão intracraniana

Os exames de tomografia de crânio e ressonância magnética nos auxiliam no diagnóstico, confirmando a suspeita ou mostrando outro possível problema. Observe abaixo um caso de um exame de tomografia de crânio demonstrando um caso de trombose venosa cerebral. A seta branca demonstra a veia trombosada, ou seja, preenchida pelo coágulo ou trombo:






 O principal da trombose venosa cerebral é saber que ela é prevenível em muitos casos. E quais as causas prováveis de TVC:

   1. Tabagismo – o fumo libera várias substâncias que nem sabemos enumerar todas e causa lesão do endotélio (o revestimento interno dos vasos sangíneos). Dessa forma desencadeia mecanismos de trombose.

   2. Uso de anticoncepcionais – infelizmente o estrogênio e o progestágeno que existem nas pílulas podem causar mecanismos de trombose pois eles são fatores que previne a  hemorragia nas mulheres decorrente da menstruação.

    3. Traumas cranianos

   4. Fatores genéticos – no sangue existe um equilíbrio entre pró-coagulação e anti-coagulação. Em alguns indivíduos existem mutações em alguma parte desse sistema que favorece a coagulação ou prejudica a anti-coagulação, dessa forma, com um mínimo estímulo ou até expontaneamente, desencadeia o processo de trombose.

    5. Doenças reumatológicas – lúpus, síndrome anti-fosfolípide

    6. Câncer

   O tratamento das TVC é feito com anticoagulantes (heparina e cumarínico) e deve ser feito inicialmente em ambiente hospitalar e sob os cuidados de um neurologista. 

   Esperamos ter ajudado na descoberta e entendimento dessa doença que é prevenível e tratável. Até mais.






domingo, agosto 12, 2012

Veias do cérebro

Esse post deve anteceder o próximo, Trombose Venosa Cerebral, para que seu entendimento seja completo.

Já vimos que o cérebro possui vasos que levam o sangue do coração para ele, as artérias (leia mais nos tópicos correspondentes do blog). Mas há vasos mais distensíveis, menos resistentes, que levam o sangue de volta para o coração, as veias. E elas são muito importantes por que a obstrução de uma veia ou de um sistema de veias pode causar o que chamamos de trombose venosa cerebral, um quadro grave e que pode levar a aumento da pressão dentro da cabeça, dor de cabeça, e derrames.

Observe abaixo as veias cerebrais:

http://www.google.com.br/url?source=imglanding&ct=img&q=http://www.rci.rutgers.edu/~uzwiak/AnatPhys/Blood_Vessels_files/image036.jpg&sa=X&ei=yndmUL7YGoeu8QTJrYCwCA&ved=0CAoQ8wc&usg=AFQjCNGDMGYXgMYzcDN2DsXKgwaXXdcR9w

Observe que as veias podem ser chamadas de seios (na figura acima, no inglês sinus), que são as veias maiores, nas quais desembocam as veias superficiais. As veias cerebrais não são azuis, e esta cor é mundialmente usada para denotar veias em qualquer parte do corpo, assim como o vermelho é usado para as artérias, o verde para os vasos linfáticos, e o amarelo para os nervos.

A veia, ou seio mais importante, é o seio sagital superior, que corre da parte da frente até a parte de trás do cérebro. A confluência dos seios, ou Tórcula de Heróphilo, localizada na parte esquerda baixa da figura, é onde há a união do seio sagital superior, seios transversos, e conjunto de veias e seios profundos, que desembocam no seio reto.

O seio transverso transforma-se em seio sigmoide, que termina na veia jugular interna e que corre para o coração através da grande veia cava superior.

Observe a veia jugular e a veia cava superior:

http://www.sistemanervoso.com/images/anatomia//dve_11.jpg
Observe que nesta figura acima, bem no centro, há um emaranhado de veias e canais venosos, logo atrás do olho, e que configura-se me uma união das veias superficiais, vindas da pele e músculos da face, e das veias profundas. Esta confluência é chamada de Seio Cavernoso, e é muito importante por que juntamente com ele passam vários nervos que vão inervar os músculos dos olhos, além do próprio nervo do olho, o nervo óptico.

Observe abaixo o seio cavernoso:

http://www.google.com.br/url?source=imglanding&ct=img&q=http://home.comcast.net/~wnor/cavernousinus.jpg&sa=X&ei=IXhmUKr2CYeE9QTbvYDYBg&ved=0CAkQ8wc&usg=AFQjCNFp4fofjC6Flm-qxi7CTNba6xzoUA

Esta figura mostra o seio cavernoso cortado de forma coronal, ou seja, de frente. Observe que ele fica na base do crânio, ao lado de nervos importantes como o trigêmeo, do seu lado, e o nervo óptico acima dele.

Observe na figura à direita que várias estruturas em amarelo passam próximas ou dentro do seio cavernoso, como o nervo oculomotor, o nervo troclear e o nervo abducente, além da primeira porção do nervo trigêmeo. Todos estes nervos já foram discutidos em posts anteriores.

Observe também a estrutura em vermelho na figura à direita. Esta é a artéria carótida, que passa dentro do seio cavernoso. A estrutura em forma de sino no meio da figura à direita é a hipófise, estrutura importante na produção de hormônios e manutenção de nosso estado metabólico.

Observe outra figura do seio cavernoso:

http://www.ganfyd.org/images/2/2e/Cavernous_sinus.png

Abaixo do seio cavernoso, de cada lado, há o seio esfenoide, um dos seios faciais que podem ficar inflamados na sinusite aguda. A inflamação aguda bacteriana, purulenta, deste seio pode levar a um quadro de inflamação ou trombose deste seio cavernoso, com sintomas como dor de cabeça, vômitos, alterações visuais, olho pulado ou vermelho, e sopro objetivo (que o médico ouve com o estetoscópio) atrás ou por sobre o olho inflamado.


As figuras abaixo demonstram os mesmos seios e as veias superficiais do cérebro em um cérebro de verdade. Os seios e as veias foram injetados com uma solução azulada para melhor visualização, daí eles parecerem azuis. Os nomes estão em inglês.

http://www.sistemanervoso.com/images/anatomia//dve_08.jpg

http://www.sistemanervoso.com/images/anatomia//dve_10.jpg
No próximo post falaremos da trombose venosa cerebral, o que é e quais seus principais sintomas. 

quarta-feira, agosto 08, 2012

Vamos falar sobre a vitamina D - Introdução

Muito tem sido discutido sobre os potenciais e reais benefícios do 25-2(OH)-colecalciferol ou vitamina D na medicina, e mais ainda na neurologia, inclusive por conta de seus aparentes benefícios na esclerose múltipla dispersos pelos quatro cantos do Brasil através de revistas como Veja e IstoÉ.

Por conta disso, a partir de agora, o blog Neuroinformação trará uma série de posts sobre os usos da vitamina D em neurologia e o que se sabe até agora, com base em artigos publicados na maior base de dados da literatura médica da internet, o Pubmed (veja aqui do que estamos falando).

Aguarde, que muito está sendo preparado.



O que é a imunoglobulina humana e para que serve?

Antes de saber sobre o que é a imunoglobulina humana, ou IgIV (Imunoglobulina IntraVenosa), temos de falar um pouco sobre anticorpos. 

O nosso sistema imunológico é formado basicamente por dois sistemas, interligados. O sistema celular e o sistema humoral. O sistema celular compreende as células de defesa, os linfócitos, os macrófagos, e várias outras células que têm como objetivo combater as infecções e corpos estranhos em nosso corpo. Estas células agem através de um mecanismo chamado inflamação, ou seja, a saída de células e mediadores químicos, que chamamos de citocinas, da corrente sanguínea para os tecidos, quando da invasão destes por vírus, bactérias, fungos ou corpos estranhos, como um pedacinho de vidro ou uma farpa de madeira no dedo.

Já o sistema humoral é formado pelas células B ou linfócitos B e plasmócitos, além dos produtos de sua ação, os anticorpos. Anticorpos são substâncias que agem grudando-se ao corpo estranho ou ao micro-organismo invasor, e assim levando à sua destruição através de um processo chamado de opsonização, ou seja, a sua sobre um corpo estranho ativa um sistema chamado de sistema ou cascata do complemento, cuja ação final é a destruição do objeto invasor. 

Observe abaixo um anticorpo:

http://www.oocities.org/sssiqueira/anticorpo2.jpg

Observe que estas moléculas possuem duas partes ligadas por pontes de enxofre (S-S). Eles ligam-se às estruturas invasoras através das cadeias leves, que são variáveis, ou seja, dependem da célula que produz e do objeto para o qual ele está sendo produzido. Nosso sistema imunológico possui memória, a memória imunológica, e há já guardadas nesta memória informações de várias substâncias nocivas e agentes infecciosos que já nos infectaram um dia, sendo que se eles vierem novamente, nosso sistema já sabe como lidar com eles. 

Os anticorpos possuem outro nome, imunoglobulinas ou Ig, e dependendo de onde e por quem são produzidos, e também com qual finalidade são produzidos, sua estrutura pode mudar, levando às várias formas de imunoglobulina, ou seja, IgA, IgD, IgE, IgG e IgM. Está fora do contexto deste blog explicar cada forma de imunoglobulina, já que isso foge ao escopo da neurologia. Se quiser saber mais sobre isso, vá aqui.

Bem, mas os anticorpos só fazem o bem? Não! No tópico deste blog sobre doenças autoimunes, falamos de doenças causadas pela própria ação de nosso sistema imune, e os anticorpos podem sim levar a doença quando liberados de forma errada e/ou sobre estruturas próprias do corpo, algo que chamamos de reação cruzada. Quando um micro-organismo nos infecta, e por exemplo uma proteína de sua parede celular se parece com uma proteína de nosso sistema nervoso ou de nossa pele, o sistema imunológico hiperativado pode acabar atacando estas proteínas próprias do nosso corpo, e levar a doenças. 

E há várias doenças neurológicas que possuem como mecanismo fisiopatológico a ativação anormal de nosso sistema imune. Já falamos de algumas delas, como a síndrome de Guillain-Barrè, a esclerose múltipla, e outras como a polimiosite, da qual falaremos mais em tópicos posteriores, as encefalites autoimunes e outras doenças.


Há vários mecanismos para explicar seus efeitos, mas os mecanismos precisos são pouco conhecidos. Sabe-se que a IgIV pode funcionar como um anticorpo inibitório, mediando respostas anti-inflamatórias. Fora isso, parece que os anticorpos da medicação podem se ligar aos anticorpos que causam a doença em questão, estimulando sua remoção. Sabe-se que esta medicação não é imunossupressora, ou seja, não suprime ou inativa o sistema imune como o faz certos quimioterápicos usados no tratamento de cânceres, mas é imunomoduladora, modula a resposta imunológica tornando-a mais branda. 

A IgIV é formada a partir dos anticorpos retirados do sangue de milhares de doadores, daí o custo da medicação, que é bastante cara mas acessível através de planos e seguros de saúde para as indicações previstas em literatura. O plasma doado é limpo várias vezes em processos de remoção de impurezas. Não há registros de infecções causadas pelo uso de IgIV (segundo artigo publicado por Feasby e colaboradores de 2007 na revista Transfusion Medicine Reviews - leia aqui para os que sabem fala inglês e se interessarem por artigos técnicos). Foi publicado em 2004 pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e disponibilizado na internet gratuitamente, um consenso sobre o uso de IgIV na prática médica, para todas as indicações até aquela época, mesmo as neurológicas (leia aqui).

As doenças neurológicas que podem se beneficiar do uso correto da IgIV são:

1. Encefalopatia Disseminada Aguda (ADEM)
2. Polineuropatia inflamatória desmielinizante crônica (CIDP ou PDIC)
3. Síndrome de Guillain-Barrè
4. Alguns tipos de polineuropatias, doenças do sistema nervoso periférico
5. Dermatomiosite e Polimiosite, doenças inflamatórias dos músculos
6. Algumas formas de neuropatia diabética
7. Síndromes miastênicas, e a crise miastênica, episódio grave que pode ocorrer em alguns pacientes com miastenia gravis
8. Síndrome da pessoa rígida, ou stiff-person syndrome
9. Doenças neurológicas paraneoplásicas (leia no tópico específico deste blog sobre estas doenças)
10. Alguns tipos de encefalites

Há ainda outras indicações que estão sendo estudadas. E como saber se o que você tem pode ser tratado com imunoglobulina humana?

Simples - discuta isso com o seu médico. Ele também lhe informará sobre indicações, contra-indicações (existem contra-indicações que devem ser bem discutidas), doses e efeitos colaterais.

Poesia sobre a ressonância magnética

Artigo escrito e gentilmente cedido ao blog pela escritora, roteirista e professora universitária Ana Lúcia Reboledo Sanches


Ressonância Magnética

(Matando o tempo e mantendo a calma na ressonância de crânio e cervical!)

Ou você entra e fica
Ou você entra e toca a campanhia
Calma calma
Este teto sob meus olhos
Calma
O teto colado sob meus olhos
Sons sons tuins e toins
Zuuum , rumm, toin, toin toin toin
Pisco vejo preto
Pisco vejo branco
Vejo o teto do aparelho
Branco
Uma experiência concreta
Estar aqui por tanto tempo
Experiência de vanguarda
Futurista
Me aguarda
Corpo preso
Pescoço preso
Pensamentos soltos
Britadeiras gritam
Uma cidade de ruídos
Ta ra rararara popoc popoc popoc
Avisto-o ao longe chegando
Vencendo as picaretas
O cavalo alado de minha infância
Vou embora com ele
Esqueço onde estou
Até a voz me devolver à prisão
“Agora não engole”
E agora? Como não?
Calma, calma.
Dadá
Ismos Vanguardistas
Ninguém sabe do meu cavalo alado
A máquina fatia o cérebro
Mas não escuta o que eu penso
Falta pouco
Mais um pouco
Zummmmmmmmmm
Fim da Ressonância.
Agora, só o ano que vem!

Ana Lúcia Reboledo Sanches.

Memórias de uma guerreira


Artigo escrito e gentilmente cedido ao Blog pela escritora, roteirista e professora universitária Ana Lúcia Reboledo Sanches.


Desde os treze anos, vez ou outra sofria algumas invasões. Em alguns dias era um certo aperto na cabeça e em outros uma sensação de flutuação. Em meio às brincadeiras, os jogos esportivos, as peripécias de adolescente era de súbito invadida por uma tempestade calma de areia. Uma tempestade que não me tocava, mas me suspendia do chão. É possível haver “tempestade calma” ou turbilhão em “slow motion”? Assim posso definir a vertigem que me invadia, mas não me derrubava. Foi preciso passar o tempo e a esta vertigem outras sensações se somarem para que eu encontrasse uma explicação, um nome: EM (Esclerose Múltipla). A verdade é que sempre tive sorte, porque as “invasões” não eram em mim do tipo rasteira, daquelas que derrubam mesmo,  porque em muita gente é e tenho consciência da dificuldade que isso implica. Mas quem disse que viver é algo definitivo ou regular? Toda a gente tem bons e maus momentos. Lembro-me de dizer para meu médico doutor Flavio:- “mas, mas eu pretendia morar sozinha! Quero fazer tanto ainda!” A resposta que ele me forneceu mudou o  medo e desconhecimento que tinha da EM:” -Vá morar sozinha, vá fazer suas coisas, vá viver! Tem gente com dor no dedo gritando e tem gente sem pernas ganhando medalhas! “ Em dois meses estava morando em meu atual apartamento e trabalhando normalmente. Procuro pensar que na vida sofremos constantes invasões. Podem ser de privacidade, de autoridade, de doenças,  de tristezas e imprevistos, mas também são de alegrias e boas surpresas. A EM é apenas mais uma invasão e que tem me feito refletir  ritmos e sonhos que valham à pena. O bom da vida é tentarmos desenvolver capacidade de dividir felicidade e receber felicidade. O que não quer dizer que não possamos nos sentir tristes ou desanimados vez ou outra. Tem dias em que não quero levantar da cama, mas quem não tem dias assim? Nada é definitivo ou regular! Acometer e ser acometido de alegria nos faz viver bem, com ou sem Esclerose Múltipla.

Ana Lúcia Reboledo Sanches

segunda-feira, agosto 06, 2012

O sono e o seu cérebro

Notícia tirada do site da revista Superinteressante:

A falta ou privação de sono leva às suas consequências, como perda de reflexos, cansaço, perda de memória, lentidão de pensamento e muitas vezes confusão mental. O que ocorre é um aumento na atividade cerebral, mas de forma prejudicial.

Um estudo feito na Universidade de Milão, Itália, e publicado em uma revista de alto impacto, a Cerebral Cortex, demonstra que o cérebro vai ficando mais ativo, mais sensível a estímulos e mais alerta à medida que o tempo de insônia aumenta.

O estudo, que utilizou voluntários humanos que ficaram sem dormir por 8, 12 e 32 horas, usou uma técnica recentemente introduzida na prática clínica, a estimulação magnética transcraniana, para estudar o comportamento dos neurônios. O estímulo magnético, elétrico, nos neurônios privados de sono demonstrou que as células respondiam de forma agitada às descargas elétricas, com picos mais fortes e imediatos.

Isso tem relação com a epilepsia, doença onde há aumento das descargas neuronais de forma anormal, patológica. Há muito tempo que se sabe que epilépticos ficam mais propensos a crises convulsivas se forem privados de sono, mesmo sob tratamento medicamentoso.

Já pacientes que apresentam depressão severa, segundo o artigo, por terem atividade cerebral abaixo do normal, podem ter ligeira e temporária melhora do desempenho cognitivo se ficarem sem dormir (não faça isso a menos que o seu médico o aconselhe a tal).

O porquê disso deve-se, provavelmente, ao fato de que na vigília, os neurônios estão sempre em atividade, formando novas ligações neuronais, as sinapses. Quanto mais tempo passamos sem dormir, ou seja, acordados, mais sinapses são formadas. Mas muitas destas sinapses são irrelevantes, e acabam por serem destruídas. O sono, entre tantas funções, parece ajudar a passar uma borracha nas sinapses desnecessárias e a lapidar as necessárias, impedindo, entre outras coisas, sobrecargas neuronais. É por isso que é difícil aprender ou memorizar coisas novas quando estamos sonolentos, pois para isso formamos novas sinapses, que devem ser consolidadas durante o sono. E se o sono não vem, daí... você já sabe.

Você está em risco de ter um derrame (AVC)?

Notícia tirada do site Meddy Bear, do Facebook.

https://fbcdn-sphotos-g-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash3/s480x480/528616_10152011246375121_1923948936_n.jpg

Tradução:

Você está em risco de ter um AVC?

Você tem pressão alta? Colesterol elevado? Diabetes? Excesso de peso? Problemas de coração? História familiar de derrame ou aneurisma cerebral? Você fuma?

Todos estes fatores o colocam em risco de ter um derrame.

O derrame ocorre quando há doença da circulação sanguínea cerebral, ou por um vaso obstruído (AVC isquêmico) ou por uma ruptura vascular (AVC hemorrágico). A falta resultante de oxigênio às células cerebrais prejudica a função cerebral. AVC é a terceira causa mais importante de morte nos EUA, e uma das mais 3 importantes no Brasil. Cerca de 160,000 AVC's dos 600,000 anuais dos EUA levam à morte. Atualmente, há 4 milhões de sobreviventes de AVC só nos EUA, muitos dos quais com incapacidades significantes. 

Lembre-se:

Trate ou evite pressão alta, diabetes e colesterol elevado.
Pare de fumar
Faça atividades físicas regulares orientadas pelo seu médico
Vá ao médico pelo menos 1 vez por ano para check-up, ou quando ele lhe solicitar
Pare de beber álcool ou excesso.

domingo, agosto 05, 2012

Pequeno dicionário de termos médicos - Metástases cerebrais

Metástase é o termo que se dá à presença de um tumor maligno, ou câncer, longe de sua origem. Mas vamos explicar melhor.

Imagine um tumor pulmonar, um câncer. A massa formada pode crescer, e acabar invadindo outras estruturas ou tecidos ao redor. Ou as células podem cair na circulação sanguínea ou linfática (a circulação feita pelos vasos linfáticos e pelos gânglios, retirando dos tecidos a linfa, líquido presente entre as células derivado de metabolismo celular e das defesas do organismo). Quando as células acabam por cair na circulação, podem percorrer o corpo e depositar-se à distância de seu local de origem, e neste caso, distante do pulmão.

Mas qualquer câncer pode levar a metástases. Os mais comuns são os de pulmão, mama, ovário e próstata. Mas tumores de intestino e rim, por exemplo, podem metastatizar (termo que os médicos usam para definir a produção de metástases).

O cérebro é bastante vascularizado, e vários tumores malignos podem mandar suas células para o cérebro. Quando isso ocorre, temos as metástases cerebrais, que são chamadas também, neste caso, de tumores cerebrais secundários, contrastando com os tumores primários, que crescem e se desenvolvem no próprio cérebro.

Os sintomas de metástases cerebrais são semelhantes aos de um tumor ou massa cerebral qualquer, e dependem da localização onde estão.

As metástases podem ser pequenas:

http://radiographics.rsna.org/content/21/3/625/F4.large.jpg
Ou grandes:

http://www.mypacs.net/repos/mpv3_repo/viz/full/10110/505539.jpg
Únicas, como a mostrada acima, ou múltiplas, como na figura abaixo:

http://myselfshy.files.wordpress.com/2011/07/image004.jpg
Podem ocorrer na parte anterior do cérebro (fossa anterior) ou na parte de trás (fossa posterior):

http://www.meddean.luc.edu/Lumen/meded/Radio/curriculum/Harrisons/Neuro/metastasis2a.jpg
A figura acima demonstra várias metástases de um tumor de mama. Há lesões na fossa anterior (mostradas na figura à direita) e na fossa posterior (mostradas em ambas as figuras).

Mas não se preocupe, para ter metástases cerebrais, é necessário que haja um câncer em algum lugar do corpo. E as metástases são comuns com certos tipos de tumores, sendo raros com outros. 

Como evitar? Faça seu check-up médico periódico rigorosamente, observe qualquer sintoma neurológico novo e reporte-o imediatamente ao seu médico, e evite alimentos gordurosos ou com muito açúcar, fumar, beber em excesso, faça atividades físicas, mantenha uma vida saudável.

Mas você que fuma pode dizer "Conheço pessoas que não fumam e morreram ou têm câncer de pulmão. E por quê, então, eu deveria parar de fumar??".

Por que o fumo não é a única causa de tumores malignos do pulmão (e também da boca, da língua, da faringe, do nariz, do cérebro, da laringe, da traqueia, do estômago, do cólon, da próstata, da bexiga, entre outros), mas é, talvez, o maior fator de risco para ele. E se você fuma, sua chance de ter um câncer aumenta, e muito.

Logo, pare de fumar e leve uma vida saudável. 


Informações sobre tumores cerebrais - algo que todos os pacientes devem saber

Informação tirada do site Neurology do Facebook (veja aqui)

Os tumores cerebrais podem ser classificados em primários (quando se originam do próprio cérebro e de suas células) ou secundários ou metástases (quando são originários de tumores em outras localizações do corpo, como um câncer pulmonar ou de próstata dando metástase cerebral).

1. Os tumores primários podem ser malignos (chamados de câncer) ou benignos;
2. Podem ocorrer em qualquer idade;
3. Sua causa exata é desconhecida, havendo provavelmente uma variedades de fatores causais, inclusive genéticos (hereditários ou não);
4. Sua gradação e classificação (tumores primários) baseia-se na avaliação de sua histologia (ou seja, a avaliação microscópica do tecido tumoral);
5. Os tumores primários mais comuns em adultos são os astrocitomas, os meningeomas e o oligodendroglioma (só nome fácil, né?)
6. Já em crianças, os tumores primários mais comuns são o meduloblastoma, os astrocitomas de grau 1 ou 2 de malignidade, o ependimoma e o glioma (tumores de células gliais, de suporte) do tronco cerebral;
7. Os sintomas mais comuns de tumores cerebrais são dores de cabeças (geralmente dores novas, diárias e que pioram ao deitar ou tossir/espirrar), dormência ou formigamento em braços ou pernas, crises epilépticas, problemas progressivos de memória, alterações de humor ou personalidade, problemas de equilíbrio e para andar, náuseas e vômitos que podem acompanhar os outros sintomas, alterações de fala ou linguagem, alterações de visão ou audição. Note que tumores cerebrais geralmente dão mais do que uma queixa das acima, e o diagnóstico não se baseia em um sintomas, mas em um conjunto de sintomas;
8. Já o diagnóstico é feito pelo neurologista ou neurocirurgião, através da história clínica, exame físico e neurológico, e exames de imagem indicados pelo médico, como tomografia ou ressonância magnética do crânio;

sexta-feira, agosto 03, 2012

Efeitos da privação do sono

Artigo adaptado da página do Facebook Meddy Bear

A privação ou falta de sono pode levar a várias consequências ao organismo, algumas mais sérias, outras resolvidas apenas por uma boa noite de sono. Mas a privação crônica, como pode ocorrer na apneia obstrutiva do sono (já discutida neste blog), pode levar a consequências mais graves e para a vida toda, como obesidade, diabetes, doenças do coração, dores pelo corpo e problemas endocrinológicos. 

O que quero dizer é que devemos evitar privação de sono crônica. E como?

1. Evitando consumo de álcool e outras drogas, que perturbam o ciclo sono-vigília;
2. Diminuindo ou parando de fumar, pois o fumo pode levar a insônia;
3. Praticando atividade física regular e mantendo uma dieta saudável;
4. Indo dormir cedo e indo acordar cedo (claro que um final de semana, ou um dia ou outro não vão fazer mal);
5. Evitando a obesidade, que pode levar a apneia do sono
6. Tratando as doenças que causam insônia, como hipotireoidismo, apneia do sono, problemas respiratórios, como asma, e outras;
7. Se acaso houver algum distúrbio psíquico, como ansiedade ou depressão, ou transtorno bipolar, que levam a insônia, procurar auxílio psiquiátrico apropriado para que estes problemas sejam resolvidos e a insônia aliviada;
8. Cuidando-se mais e indo ao médico regularmente (lembre-se que o médico é sempre uma visita importante para aquele que tem saúde, com o objetivo de mantê-la).

E lá vai uma figura que pode auxiliar você a entender as consequências da falta de sono, que também está em inglês (é, eu só pego coisa em inglês... mas serve também para forçar seu cérebro e mantê-lo em atividade :))):

https://fbcdn-sphotos-e-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash4/318856_252317788220836_190211853_n.jpg



Uma pequena imagem do cérebro

Uma pequena imagem do cérebro, demonstrando suas áreas em várias cores, e as funções que competem a cada área. Claro que não existe uma função para cada área, como pensavam os anatomistas e cientistas de 200 anos atrás, mas há uma especialização maior de cada área. A figura está em inglês, mas ainda pode ser entendida pelos menos versados na língua de Dickens.

https://fbcdn-sphotos-g-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash4/384598_10152001520430121_1171687489_n.jpg

quinta-feira, agosto 02, 2012

O sistema límbico

Você provavelmente já deve ter ouvido falar do sistema límbico. Muitas publicações leigas já mencionaram este conjunto de núcleos e vias cerebrais. Mas o que é o sistema límbico?

No cérebro, há uma via que compreende várias estruturas, localizadas em sua maior parte na porção mais profunda do cérebro, ao lado dos já descritos núcleos da base (há um tópico para cada núcleo neste blog). 

Esta via, chamada de sistema límbico, compreende:

1. O hipocampo (que tem este nome por sua forma ser semelhante a de um cavalo-marinho, ou hipocampo);
2. A amígdala cerebral (que nada tem a ver com as amígdalas faríngeas, cuja inflamação leva à amigdalite);
3. Os núcleos anteriores do tálamo (falaremos mais sobre o tálamo posteriormente);
4. O septo;
5. O fórnix; e
6. O córtex límbico, uma parte do córtex cerebral. 

Todas estas estruturas serão delineadas de forma superficial aqui, e mais profundamente em tópicos a parte.

Observe abaixo o sistema límbico:

http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/10/sistema-limbico.jpg
Observe outra imagem abaixo:

http://amulhereoperineo.files.wordpress.com/2012/01/sistema_limbico1.jpg
O sistema límbico tem como algumas responsabilidades as emoções, motivação, memória e olfato, sendo a via de entrada dos estímulos olfativos (cheiros e odores), o que pontua a relação entre certos odores e aromas e as emoções que sentimos, e que relembramos quando nos expomos àqueles odores que nos marcaram. Quem não lembra de um amor quando sente o perfume que o amado ou a amada costumava usar. Muitas vezes a sensação olfativa nos faz sentir as mesmas sensações passadas, como se elas estivessem ocorrendo agora. Um cheiro pode dar origem a uma taquicardia e sudorese, ou a um medo, anseio, ou a saudades e mesmo felicidade. 

Em sua mais famosa obra "Em Busca do Tempo Perdido", Marcel Proust (veja aqui) relaciona a sua infância ao odor das madeleines, bolinhos, embebidas em chá. 

Mas chega de poesia. Vamos à ciência. 

As estruturas do sistema límbico já foram relacionadas, e serão agora explicadas, uma a uma:

1. O hipocampo:

Esta estrutura é uma parte do lobo temporal, e fica localizada em sua profundidade. Observe abaixo:
http://morphonix.com/software/education/science/brain/game/specimens/images/hippocampus.gif
Observe agora o hipocampo cortado, e compare com a figura logo abaixo:

http://www.benbest.com/science/anatmind/FigVII22.gif
http://radiofreethinker.files.wordpress.com/2011/10/16-0-1.jpg
Nós médicos temos de ter muito senso de humor, e muita criatividade também, de vez em quando. Concordemos que associar esta estrutura cerebral a um cavalo-marinho, ou hipocampo, foi uma bela sacada artística, não é mesmo?

Bem, mas o hipocampo tem muito a ver com a memória, sendo esta a porta de entrada de muitas das memórias que acabam por se solidificar em nossa mente, ou seja, as memória de longo prazo. Fora isso, o hipocampo relaciona-se com emoções, tem um pé nos estímulos olfativos, e é justamente a região cerebral mais envolvida em crises epilépticas ditas parciais, sem perda da consciência. Muitas crises que se originam no hipocampo, mais especificamente em uma estrutura chama de uncus, começam com uma alucinação olfativa, ou seja, o paciente sente um odor desagradável, geralmente de borracha queimada, antes de ter a crise. Chamamos a estas crises de crises uncinadas.

2. A amígdala


Esta é outra amígdala, como já falado. Observe abaixo:

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju2rkJXyTqLv48nDHM1fL-2YosXpEkuc0xiZJ-SLsRbcsz5R0Wj93FptNk_B1q7h1NtL4-LrPcbEAnkjAQTEoLiHaRLug2yzhSgvzj7uN38KgzNSOS_MBB-Y58AffdMPMSifi8XWLhhe4/s1600/amygdala.jpg
Esta estrutura responsabiliza-se pela motivação, funções sociais e de acasalamento (no caso das pessoas, paixão e amor), e relaciona-se ao sentimento de medo e de recompensa, além do prazer e de outras emoções. Tem relação com o resto do sistema límbico, claro, e com o próprio córtex cerebral, especialmente o córtex límbico, sobre o qual logo falaremos, e o córtex frontal.

3. Os núcleos anteriores do tálamo


O tálamo é o que chamamos de relé, ou seja, todos os estímulos que vêm e que voltam para a periferia do corpo, ou que entram e saem do cérebro, passam por ele. O tálamo é uma estrutura de ligação, de manipulação dos estímulos. Observe abaixo:

https://encrypted-tbn0.google.com/images?q=tbn:ANd9GcQyb09argrh1mq-EbiPlBpJFDbduhN0SBMdETKkRfwlg2IQ5_8F
Observe mais abaixo que o tálamo é segregado em núcleos, cada núcleo podendo ser responsável por um ou mais estímulos. Aqui claro que há diferenciação de neurônios e de vias neuronais. Observe:

http://www.sistemanervoso.com/images/anatomia/cerb_01.jpg
Sim, é complicado mesmo. E ainda não entendemos muito desta pequena estrutura cerebral para saber tudo do que ela é capaz.

4. O septo e o fórnix


O fórnix é uma via de ligação entre o hipocampo e amígdalas com outras estruturas, como os núcleos septais e os corpos mamilares, ou seja, é um trato de conexão, e dos mais importantes.

Observe abaixo:

http://www.auladeanatomia.com/neurologia/fornix.jpg
E mais:

http://www.monografias.com/trabajos52/psicologia-salud/ps30.jpg
Já os núcleos septais são agrupamentos de neurônios que promovem conexões importantes. Localizados juntamente a uma parte do córtex olfatório, relacionam-se com os bulbos olfatórios, o hipocampo, a amígdala, uma outra estrutura da qual falaremos mais tarde chamada de hipotálamo, e que se relaciona, entre outras coisas, com a manutenção da temperatura e homeostase corporal, giro do cíngulo, sobre o qual falaremos mais logo, e o tálamo. Sua função aparenta ser o prazer e a sensação de recompensa, auxiliando na consolidação de memórias.

Observe abaixo:

https://encrypted-tbn1.google.com/images?q=tbn:ANd9GcTALxUCctlK3hy_8R0jOBoaywiNq5exG60Rl-O0TISBpRyebXUjcA
Os núcleos septais estão em amarelo na figura, e se relacionam espacialmente com as outras estruturas discutidas acima.

5. Os corpos mamilares


Estas pequenas estruturas da base do crânio têm este nome (também dado de forma muito criativa) por que se parecem com duas mamas. Observe abaixo, apontados com setas:

http://jswood.files.wordpress.com/2007/11/for-blog-10.jpg
E bota criatividade nisso. Observe abaixo suas relações principais:

http://iupucbio2.iupui.edu/anatomy/images/Chapt15/FG15_12b.jpg
Suas funções são de conexão com a amígdala e o hipocampo, e têm, entre outras funções, responsabilidade com a memória e as funções olfativas. Na síndrome de Wernicke-Korsakoff, descrita também neste blog, a degeneração dos corpos mamilares podem levar a alterações cognitivas (mentais) com problemas severos de memória (incapacidade de registrar e de relacionar novas memórias).

6. O córtex límbico


Várias são as partes do córtex relacionadas ao sistema límbico, perfazendo a conexão entre as estruturas do sistema e conectando o sistema límbico com o restante do cérebro e do córtex, permitindo a associação entre a memória, prazer, medo e recompensa com estímulos visuais, táteis, motores, sensitivos, e outros. Temos o giro parahipocampal, que parece desempenhar função na formação de memória espacial, ou seja, de localização no espaço, o giro do cíngulo, que também têm funções autonômicas, ou seja, regulação da frequência cardíaca, da pressão arterial, além de modulação das funções de atenção e memória, e o giro denteado, que parece contribuir para novas memórias.

Observe abaixo:

Os giros parahipocampal e o giro do cíngulo são demonstrados abaixo:

http://www.inec-usp.org/cursos/curso%20VII/fig_III.jpg
O giro denteado está abaixo:

http://www.sistemanervoso.com/neurofisiologia/14_images/14_clip_image022.jpg
Esta figura complexa acima demonstra o giro denteado com suas conexões dentro do sistema límbico. Não se assuste, e não tente estudar a figura se lhe parecer confusa. É somente para que você saiba o que é o giro denteado.

O sistema límbico portando influencia o sistema endócrino e as funções cardíacas, respiratórias e circulatórias do corpo, relaciona-se com o prazer através de conexões com o núcleo acumbens, centro responsável pelo prazer e que desempenha papel na excitação e na libido, podendo também ser relacionado ao abuso de drogas.

Observe o núcleo acumbens abaixo:

http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ2FIKiFuKH8Z6WwZ0nSWVQqoHplns172Sja6nEaxD8fD_7SzFepRmqcGyW7A
O sistema límbico ainda conecta-se com o córtex pré-frontal (veja na figura acima), a parte mais anterior do cérebro, podendo esta via ser responsabilizada pelo prazer após resolução de problemas e quebra-cabeças, e por certas doenças mentais.