domingo, junho 07, 2015

A descoberta anatômica do século... até agora

Notícia tirada do site Huffington Post, traduzida e modificada para o blog Neuroinformação.

O sistema imunológico funciona através de órgãos de defesa (as glândulas linfáticas e o baço). Mas há um líquido, claro e denso, que fica entre as células após a passagem do sangue, a linfa, e que contém células de defesa, como os linfócitos e macrófagos,  cuja função é auxiliar na remoção de toxinas e combate a agentes nocivos, como microórganismos. A linfa é carreada por vasos pequenos, chamamos de vasos linfáticos. Esses vasos, que fazem parte do sistema linfático, conectam-se a todos os órgãos, e acredita-se que terminem na base do crânio, sem penetrar no cérebro. Ou seja, nunca foi provada a existência de vasos linfáticos no cérebro, de modo que acredita-se que a proteção cerebral se dê através das células próprias de defesa existentes no tecido cerebral, a micróglia, juntamente com a entrada de células vindas do sangue quando há algum processo inflamatório existente ou começando. Bem, acreditava-se.

Neurocientistas descobriram uma nunca antes conhecida comunicação direta entre o sistema imunológico e o cérebro, através de vasos linfáticos que penetram o cérebro, e que passaram despercebidos por séculos. A descoberta que pode mudar o modo como entendemos as doenças autoimunes cerebrais, dentre elas a esclerose múltipla (EM), foi feita na Universidade da Virgínia, nos EUA, e foi publicada na famosa revista Nature, mês passado. 

A descoberta foi feita em cérebros de camundongos, quando os pesquisadores observaram, olhando no microscópio, vasos linfáticos adjacentes às veias cerebrais. Parece que esses vasos estavam bem escondidos atrás de uma veia cerebral (as veias externas cerebrais são bem grandes e grossas), e imagem radiológica ou de ressonância dessas áreas sempre foi muito difícil de avaliar completamente. E acredita-se, pela anatomia comparada, que esses mesmos vasos existam em pessoas. 

A comprovação dessa tese pode mudar a maneira como entendemos doenças autoimunes cerebrais. No entanto, a descoberta é preliminar, e se verdadeira, abrirá novos caminhos para pesquisa tanto em fisiopatologia (como as doenças cmeçam e agem) e tratamento das doenças autoimunes e inflamatórias cerebrais (dentre elas a esclerose múltipla, o autismo e a doença de Alzheimer). 

Vamos esperar para ver. 

Abaixo, imagem tirada do artigo original mostrando um seio venoso (em azul escuro), e os vasos linfáticos (em verde), antes desconhecidos, correndo paralelamente ao seio venoso.

http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/images/nature14432-sf10.jpg