terça-feira, outubro 29, 2013

Dia Mundial de Prevenção do AVC

Hoje, dia 29 de outubro, lembramos as inúmeras vítimas que sofrem anualmente com os derrames, os famosos AVC's, em todo o mundo. O sofrimento da perda de força de um lado do corpo, da sensação de dormência ou perda de sensibilidade, do desequilíbrio, das alterações de fala, ou mesmo da perda da linguagem. 

Sintomas que poderiam ser evitados em sua grande maioria se houvesse uma conscientização maior, se a população soubesse quais os meios de prevenção do AVC, e como reconhecer um AVC para um socorro imediato. 

O AVC, ou Acidente Vascular Cerebral, é uma lesão cerebral causada pela perda de sangue em uma região do cérebro pela obstrução de um vaso, ou o extravasamento de sangue para dentro do tecido cerebral pela ruptura de um vaso. A maior parte dos casos poderia ser facilmente prevenida, caso um programa de controle de fatores de risco e conscientização existisse e fosse seguido à risca.

Os fatores de risco que podem levar a um AVC são:

1. Pressão alta não controlada
2. Diabetes
3. Colesterol elevado
4. Tabagismo
5. Etilismo
6. Obesidade
7. Vida sedentária

Há outros fatores menos comuns, e mais difíceis de controlar, como idade, genética e presença de lesões cerebrais como malformações dos vasos da cabeça. Mas estes casos são mais raros.

A cada ano, as pessoas afetadas por um AVC o são em idade mais precoce, por conta dos vários fatores de risco já estarem presentes antes dos 40 anos. Antes considerado doença de pacientes mais idosos, os AVC's estão cada vez mais presentes em pacientes jovens, e suas sequelas, quando não a morte, podem ser notados com frequência nas ruas de nossas cidades e nos nossos hospitais. 

Cuide-se, faça um bem a si próprio e à sua saúde, ajude a prevenir o AVC. A conscientizaão começa pelo conhecimento. 

O conhecimento deve ser adquirido em consultas médicas, através de checkups periódicos, em sites de confiança (como da Academia Brasileira de Neurologia (link) e da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares (link)), e no blog Neuroinformação. 

No site da Rede Brasil AVC (link), você aprende mais sobre os sinais de alerta (como identificar) de um AVC, e lê mais coisas a respeito desta doença catastrófica, que causa sequelas por vezes graves, e que pode mesmo levar à morte. E que está ceifando vidas e a saúde de milhares de brasileiros por ano.

Abaixo, fotos do mutirão do AVC do qual participei, hoje, no metrô Sé, e gentilmente cedidas pela agência Burson-Marsteller Brasil, e autorizadas para publicação. 




segunda-feira, outubro 28, 2013

Sobre o cérebro e suas conexões



O cérebro humano alcançou um desenvolvimento ímpar na natureza. A capacidade única de decidir pela própria vida sem depender dos instintos e de pistas da natureza, além da linguagem verbal, são o que nos distingue dos outros animais. 

Paralelo a estas conquistas da evolução, possuímos uma malha neuronal intrincada e complexa, que une várias regiões cerebrais e é capaz de relacionar de forma elegante e duradoura sensações tão díspares como odores, toques, visões e sons. Os traços cerebrais gerados a partir destas sensações externas unem-se ao prazer, à alegria, ao medo, à dor, formando memórias que, mais do que servindo como uma forma de preservar nossa vida, como deveria ser no passado mais remoto, nos fornecem uma história, algo que entre os animais, pelo menos conscientemente, somente o ser humano possui. 

Os tipos de células que abundam no sistema nervoso é imenso, entre neurônios (cerca de 10 mil tipos entre neurônios sensitivos, motores e interneurônios, que realizam a conexão entre neurônios, modulando seus estímulos, segundo o site http://www.mind.ilstu.edu/curriculum/neurons_intro/neurons_intro.php) e células de suporte (os astrócitos), de mielinização neuronal (os oligodendrócitos no sistema nervoso central e as células de Schwann no sistema nervoso periférico) e de defesa (a micróglia). 

Maior ainda, e principalmente o motivo da grande diversidade de informações que pode ser trocada entre as várias regiões cerebrais, são as sinapses, as conexões entre neurônios, presentes em todos os organismos que possuem malhas neuronais. Sinapses são entidades biológicas complexas, variadas e incrivelmente organizadas. Um único neurônio pode fazer centenas a milhares de sinapses com vários outros neurônios ao seu redor. De acordo com um estudo publicado na revista Cerebral Cortex em 1999 (http://cercor.oxfordjournals.org/content/9/7/722.full.pdf+html), DeFelipe e colaboradores estimaram o número de sinapses como cerca de 1,508,000,000 a 1,626,000,000 (isso mesmo, chega à casa dos bilhões) em cada milímetro cúbico (mm³) de volume cerebral. Levando-se em conta que o cérebro humano adulto possui volume médio de 1400 ml, ou 1,400,000 mm³, podemos ter mais de 2 quatrilhões de sinapses (isso em um único cérebro) (http://faculty.washington.edu/chudler/facts.html). Lembre-se de que temos cerca de 300 bilhões de estrelas em nossa galáxia. Logo, somente em seu cérebro, há mais sinapses que estrelas no céu, e seu cérebro ainda ganha de disparada. E levando-se em conta que temos cerca de 100 bilhões de neurônios em um único cérebro, cada neurônios faria, em média, 2,300,000 sinapses. 

Além do cérebro, o sistema nervoso conta com estruturas de apoio, que comunicam a grande rede neuronal cerebral com o meio ambiente. Através de suas ramificações, o cérebro lê, com extraordinária exatidão, e interpreta os mais variados tipos de estímulos, e reage a eles e/ou lhes dá a carga emocional necessária. As estruturas que servem como a ligação do cérebro com o meio são a medula espinhal e os nervos, além dos órgãos dos sentidos. O modo de comunicação entre estas estruturas e o cérebro baseia-se na mesma forma de comunicação entre os inúmeros neurônios cerebrais, estímulos elétricos, modulados, intervalados, aumentados ou diminuídos, de forma a propagar a informação de forma fidedigna. 

Não é surpresa, pois, considerar o cérebro a última fronteira do conhecimento humano sobre si próprio. Não que saibamos tudo sobre o resto de nosso corpo, muito pelo contrário. Mas a imponência do cérebro associada à sua aparente intangibilidade nos remete aos segredos mais bem guardados, ao El Dorado tão almejado pelos conquistadores, ao oceano mais distante e mais belo.

E tudo isso, toda essa complexidade, toda essa rede extensa e maravilhosamente organizada de células que se intercomunicam de forma orquestrada, toda essa rede sináptica que soma números estratosféricos, existe aí dentro de sua cabeça.

sexta-feira, outubro 25, 2013

Bem vindo ao Blog Neuroinformação

Você acessou o blog Neuroinformação. 


Este blog destina-se a disseminar o conhecimento neurológico de forma leiga, aberta e segura, com informações confiáveis escritas por profissionais médicos e não médicos conhecedores de suas área de atuação.

Estamos chegando a 1 milhão de visualizações no blog, o que nos deixa muito felizes e confiantes no sucesso do blog. 

Há mais por vir, e por isso mantenha-se ligado, pois o blog Neuroinformação continuará atualizado para oferecer a você a melhor informação em neurologia voltada ao público leigo. 

quarta-feira, outubro 16, 2013

Síndrome de Sturge-Weber

Esta, tal como a doença de von Recklinghausen (ou neurofibromatose tipo 1) é uma facomatose, ou seja, uma doença que combina sintomas e sinais da pele e do sistema nervoso. Conforma já falado em post sobre a síndrome de West, a pele e o sistema nervoso se desenvolvem do mesmo tecido embrionário. Logo, malformações de uma podem levar a alterações da outra.

A síndrome de Sturge-Weber (SSW) foi descrita em 1860 pela primeira vez por Schirmer, e posteriormente em 1879 por William Allen Sturge, médico e arquéologo inglês. Frederick Parkes Weber, dermatologista inglês deu sua contribuição ao entendimento desta doença em 1922.

A característica mais famosa da doença são as malformações de capilares (pequenos vasos) da face, geralmente em um lado só, mas que pode acometer os dois lados em menos de 1/3 dos pacientes, e que pode assumir as mais variadas formas e tamanhos, muitas vezes somente tingindo a face de roxo, mas em outras causando deformações faciais (veja abaixo).

http://www.cmaj.ca/content/170/11/1672/F2.large.jpg

http://kotiro.petermichaud.com/wp-content/uploads/2009/09/122sturge_weber.jpeg

http://www.childfoundation.com/kids/Mariceli%20Diaz%20Marrero/Mariceli-profile.jpg
Em termos cerebrais, há malformações que podem ser dos dois lados (bilaterais) em 25% dos pacientes com lesões dos dois lados da face. Uma complicação grave e que precisa ser diagnosticada precocemente nestes pacientes é o glaucoma, ou aumento da pressão dos olhos, e que pode ocorrer em quase metade dos pacientes.

O diagnóstico pode ser feito ao nascimento, pois as manchas ou lesões cutâneas já são visíveis nesta época. Mas para termos o diagnóstico de SSW, é necessário haver conjuntamente lesões cerebrais ou oculares (se somente a lesão cutânea se apresentar, sem outras anormalidades, podemos estar diante de um angioma, tumor vascular benigno, simples, sem complicações). 

Aliás, estas "manchas" da pele podem acometer também a região da boca, por dentro e por fora, além do pescoço, tronco, membros, língua, gengiva, laringe, faringe e nariz. A cor da lesão pode aparecer menos viva ao nascimento, mas pode ficar cada vez mais escura com o passar da idade da criança.

Em 60% dos pacientes, a face pode aumentar do lado da lesão, podendo haver alterações dos ossos da face em alguns pacientes. As lesões de pele podem faltar na SSW em menos de 1/5 dos pacientes, sendo que estes pacientes são diagnosticados por médicos experientes com o uso de exames de imagem (tomografia ou ressonância).

Os sintomas neurológicos mais comuns são as crises epilépticas, além de retardo variável de desenvolvimento mental em alguns pacientes, além de dores de cabeça. Três quartos das crises aparecem já no primeiro ano de vida (podem começar como síndrome de West, como já visto em post anterior). Alterações motoras de braços e pernas podem ocorrer em alguns pacientes, além de problemas visuais cerebrais.

A causa da doença é desconhecida, e não se conhece modos de herança genética.

As alterações cerebrais assumem a forma de malformações, defeitos do desenvolvimento cortical, além de deposições anormais de cálcio no cérebro (calcificações), e principalmente alterações dos vasos cerebrais com diminuição do calibre dos vasos e da vascularização de certas regiões, o que pode se responsabilizar por algumas crises epilépticas.

De todas as síndromes neurocutâneas (que afetam a pele e o sistema nervoso), a SSW é a quarta mais comum no mundo (as mais frequentes são a Neurofibromatose tipo 1, a esclerose tuberosa ou doença de Bourneville, e a hipomelanose de Ito). Ocorre em cerca de 1 pessoa para cada 22,000 nascidos.

O diagnóstico é  clínco, através das lesões de pele, e radiológico, com o diagnóstico das calcificações cerebrais, além de malformações cerebrais e alteraçõe vasculares cerebrais que podem ocorrer em alguns pacientes.

http://www.medlink.com/images/acsw5.jpg
Acima uma calcificação cerebral típica de SSW, vista em tomografia de crãnio (as calcificações são estas manchas esbranquiçadas brilhantes logo abaixo do osso).

O tratamento baseia-se no tratamento das crises epilépticas, controle de fatores de risco vasculares mesmo em crianças (algo que deve ser discutido com o neuropediatra ou neurologista que acompanha o paciente), evitar complicações clínicas, como anemia ou desidratação, manter uma vida saudável, com boa alimentação e sono normal. Outras formas de tratamento das lesões cerebrais devem ser discutidas com o médico que assiste a criança ou o paciente.

Avaliaçõe softalmológicas devem ser solicitadas, para afastar glaucoma. As lesões de pele podem ser tratadas, de acordo com a avaliação de dermatologista especialista.

quarta-feira, outubro 09, 2013

Memória e seu tipos

A memória é uma função cortical superior, ou seja, é trabalhada, codificada e decodificada em nível do córtex cerebral. É também a função cortical primeiramente e mais afetada em algumas formas de demência, como a doença de Alzheimer.

Mas em termos práticos, quais as formas de memória?

Vamos fazer uma breve abordagem deste assunto:

1. A memória operacional ou memória de trabalho:

Esta função cortical é dependente de uma estrutura cerebral chamada de lobo frontal, a porção mais anterior do cérebro, e que cuida de nossas funções executivas (leia mais aqui). A memória operacional refere-se ao armazenamento de informações que serão mantidas na consciência somente temporariamente, necessárias para a realização de uma tarefa específica, como o lembrar números de telefone ou o nome de alguém antes de uma reunião. É uma memória manipulável, ou seja, ficamos com as informações na cabeça pelo tempo necessário para os fins que a tarefa exige.

2. Memória imediata:

Ou memória de registro, refere-se ao armazenamento de curto prazo, por somente alguns segundos. Não é manipulável, ou seja, diferente da memória operacional, não ficamos o tempo todo com as informações sendo memorizadas, e assim é suscetível a interferência externa (ou seja, qualquer coisa que nos chame a atenção pode prejudicar a memorização). É como se eu pedisse ao leitor que repetisse uma lista de palavras ou objetos, e depois de uma tarefa de distração (calcular ou soletrar palavras), solicitasse que a lista fosse relembrada. Em geral, esta é uma memória de baixa capacidade, podendo pessoas normas lembrar-se de somente 6 ou 7 dígitos de um número. Pode estar prejudicada na doença de Alzheimer.

3. Memória recente

É a memória testada solicitando-se à pessoa que lembre 3 itens apresentados após 3 minutos de distração (alguma tarefa que tire a atenção sobre os itens memorizados). Ou seja, é a memória para fatos de ocorrência recente. Seu prejuízo, tipico na doença de Alzheimer e em uma doença chamada de amnésia global transitória (falaremos dela em posts ulteriores), leva à incapacidade de aprender novas informações e recordá-las após alguns minutos.

4. Memória remota

Ou memória de longo prazo, é aquela relacionada a fatos e acontecimentos do passado distante. Em geral, é afetada tardiamente nas demências (por isso que observamos que nossos parentes com doença de Alzheimer lembram do que faziam na infância, mas não se lembram do que comeram aquele dia). Esta memória, devido ao tempo de existência e suas ligações com várias outras regiões cerebrais, fica armazenada de forma difusa no cérebro. 


quinta-feira, outubro 03, 2013

O neurônio

O neurônio é a célula principal do sistema nervoso. Existentes em todo o sistema nervoso, há mais de 100 tipos de neurônios dispersos pelo cérebro, medula, tronco cerebral e nervos periféricos e autonômicos. Sua função é a propagação da informação através de minúsculas correntes elétricas que percorrem o sistema nervoso, e passam de um neurônio ao outro através de suas conexões, as sinapses. 

O neurônio, como célula, possui um citoplasma (a substância que preenche o corpo celular) e um núcleo, além de DNA, o seu material genético. Mas o neurônio possui algo que as outras células não possuem, ramificações, os dendritos e os axônios. 

Observe um neurônio abaixo:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a9/Complete_neuron_cell_diagram_en.svg
O neurônio possui os dendritos, ramificações pequenas e múltiplas, mas que são cheias de canais por onde passam os íons de sódio e potássio responsáveis pela produção do potencial de ação, a maneira como os neurônios se comunicam. Já o axônio, único, sendo a terminação maior do neurônio, possui uma camada de proteção (em azul à direita do desenho) chamada de bainha de mielina, cuja função é evitar que a informação corra pelo axônio sem se dispersar, além de fazer com que o potencial de ação corra depressa (através de um mecanismo chamado e condução saltatória) (leia mais sobre isso aqui).

As conexões entre os neurônios, as sinapses (representadas no círculo da parte superior da figura), são a maneira como os neurônios se comunicam, através da liberação de substâncias (íons) que estimulam novos potenciais de ação, ou através da ação de proteínas que levam à célula do outro lado da sinapse realizar uma ação. 

O núcleo neuronal é como qualquer outro de uma célula de mamífero. Ao mesmo tempo, o neurônio possui todo um aparato que lhe possibilita produzir proteínas, transferi-las de local em local dentro do neurônio, liberar e armazenar elementos, como o cálcio, metabolizar proteínas inúteis e produzir energia. São estes elementos o retículo endoplasmático, o complexo de Golgi, os lisossomos, e as mitocôndrias, organelas que existem em várias outras células além dos neurônios.

Observe agora alguns tipos de neurônios:

http://www.mind.ilstu.edu/curriculum/neurons_intro/imgs/neuron_types.gif
Estes são somente alguns dos vários tipos de neurônios que existem no corpo.

E o que é uma sinapse?

Leia sobre ela aqui.