quarta-feira, agosto 14, 2013

Amamentação abaixa o risco de doença de Alzheimer

Notícia tirada do site da Universidade de Cambridge (fonte) e traduzida livremente para o blog Neuroinformação.

O artigo original, publicado na revista Journal of Alzheimer's Disease, para os interessados, está aqui. Onde estiver escrito N.T., significa uma observação minha. 

Mães que amamentam seus filhos podem ter um risco menor de desenvolver doença de Alzheimer. O estudo sugere uma ligação entre a doença e certos efeitos biológicos da amamentação, como a restauração da tolerância  à insulina que está diminuída durante a gestação (N.T. a falta de tolerância à insulina, ou seja, a resistência à insulina, é a base fisiopatológica do diabetes tipo 2), sendo que a própria doença de Alzheimer se caracteriza, em parte, pela resistência cerebral à insulina.

Apesar do número de participantes ter sido pequeno (81 mulheres), os pesquisadores encontraram correlação consistente e altamente significante entre a amamentação e o risco da doença de Alzheimer. Mas esta conexão foi muito menos pronunciada em mulheres que já tinham história de demência em suas famílias (N.T. o motivo do porquê disso não é discutido no site). O estudo pode auxiliar a incentivar o aleitamento materno, mas mais estudos deverão ser feitos para confirmar estes achados.

Estudos prévios haviam estabelecidos que a amamentação pode reduzir o risco materno de certas outras doenças, e parece, por estes estudos mais antigos, haver correlação entre a amamentação e declínio das funções mentais e cognitivas gerais em idade mais avançada na mulher. 

As 81 pacientes avaliadas no presente estudo possuíam idades entre 70 e 100 anos, com e sem doença de Alzheimer. Cônjuges, parentes e cuidadores foram entrevistados também (N.T. uma maneira de estimar com precisão o nível cognitivo dos pacientes, já que muitos pacientes portadores de demência não conseguem estimar o impacto da doença em suas vidas). A história reprodutiva destas mulheres, as suas histórias de amamentação, e seu status demencial foram avaliados. Fora isso, outros fatores foram contabilizados, como presença de tumores cerebrais ou derrames. 

Fatores como idade, nível de instrução da paciente, idade da primeira gestação, idade à menopausa e história de uso de álcool não afetaram os resultados do estudo.

As conclusões do estudo seguem:

1. Mulheres que amamentaram exibiram redução dos riscos de desenvolver doença de Alzheimer comparadas com mulheres que não amamentaram

2. Maior história de amamentação associou-se a um risco ainda menor de desenvolver a doença

3. Mulheres que tiveram uma razão maior entre meses gestante no total de suas vidas (N.T. o número de meses contabilizados em todas as gestações) e meses de amamentação no geral (ou seja, permaneceram mais meses grávidas do que amamentando) tiveram um risco maior de desenvolver doença de Alzheimer.

Em mulheres com um pai/mãe ou irmãos(ãs) afetado(s) pela doença, o impacto da amamentação sobre os riscos pareceu significativamente menor do que em mulheres sem história de demência na família.

A possibilidade de que a amamentação diminua a quantidade de progesterona do corpo (que está aumentada na gestação) está em investigação. A progesterona atrapalha a ação do estrógeno no cérebro, que parece proteger o cérebro da doença de Alzheimer. Outra possibilidade é que a amamentação aumente a tolerância do corpo à glicose pela restauração da sensibilidade dos órgãos à insulina, que está diminuída na gestação (a própria doença de Alzheimer se caracteriza pela resistência à insulina no cérebro, e alguns pesquisadores a chama de Diabetes tipo 3).

Abscesso cerebral

Os assuntos abordados aqui são de ordem geral, e de modo algum referem-se a algum paciente em particular. Não usem estas informações para se auto-diagnosticar, o que pode ser perigoso pois pode retardar o diagnóstico de uma doença grave, ou mesmo para auto-medicação, o que é ainda mais perigoso. Na vigência de sintomas, sempre (eu disse sempre) vá ao médico.

Inicialmente, o que é um abscesso? Abscesso é uma palavra que vem do latim, Abscessus, que significa uma saída ou esvaziamento. Do mesmo latim, o verbo Abscedere significa retirar (fonte).

Um abscesso nada mais é do que pus coletado em uma cavidade, uma coleção de pus, podendo ocorrer nos mais variados locais do corpo. Em geral, forma-se a partir da infecção, por bactérias ou fungos, de um tecido ou cavidade, com inflamação onde predomina um tipo de célula branca (leucócito) chamada de neutrófilo. A degeneração dos tecidos, das células de defesa e a destruição dos organismos invasores com suas substâncias, acabam por se misturar em um líquido quente e viscoso, que se acumula sob pressão dentro do abscesso (daí a dor, o calor, e o inchaço que o acompanham), o pus.

Essa figura abaixo mostra um abscesso na pele (figura forte):

http://www.ghorayeb.com/files/Neck_Abscess_400_SQ.jpg
Observe o vermelhão, o inchaço e o pus se formando na abertura do abscesso. Agora, observe um abscesso cerebral em uma tomografia (figura de cima) e em uma ressonância (figura de baixo).

https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTL7NLrYrNKijKH06BN0uflBVYeiNhpsTAe9NeZlkW0IAkG0vYMwQ
Nesta figura acima, o abscesso está localizado do lado direito da figura, possuindo uma cápsula que realça muito bem ao contraste, e ao seu redor, uma área mais escura que empurra as estruturas para os lados, ou seja, inchaço (edema cerebral).

https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS5xFu_BOOkdRmFHty-Uy5s0drJAw48c2sP0mg4DsBrOQrirgNa
Outro abscesso cerebral acima, com a área de edema cerebral ao seu redor, e a cápsula bem visível e que realça com facilidade (fica branca nesta sequência de ressonância).

Muito bem. Um abscesso cerebral é aquele que se forma no interior do tecido cerebral. Suas causas são as mais variadas. As fontes mais comuns de abscessos cerebrais são as infecções sistêmicas (focos hematogênicos), como abscessos pulmonares, endocardites (infecções das válvulas do coração), e infecções em outros órgãos, sendo que o abscesso se forma pela liberação de bactérias destes focos, e que acabam por se alojar no cérebro. Mais raramente, os abscessos podem advir de infecções de vias aéreas e de dentes. Mas não é qualquer infecção que produz um abscesso. Em geral, infecções graves e não tratadas podem evoluir para abscesso cerebral, como sinusites (calma, não é qualquer sinusite, mas aquelas mais graves e que não são tratadas, com grandes quantidades de secreção purulenta), infecções dentárias como abscessos peridentários, otites agudas (infecções agudas e purulentas dos ouvidos), e mastoidites agudas (infecções da mastoide, a parte do osso que fica atrás da orelha, e que contém células cheias de ar, podendo ficar infectada e cheia de pus). Outra causa de abscessos cerebrais são os traumatismos cranianos abertos, como acidentes, ferimentos de arma de fogo e por arma branca, além de cirurgias cerebrais pelos mais variados motivos.

Os sintomas dos abscessos cerebrais depende da localização, do tamanho, da provável causa, das condições do paciente e do número de abscessos (sim, podem haver vários em um mesmo paciente, cuja causa em geral é hematogênica, ou seja, espraiamento de infecção de outros locais para o cérebro). Geralmente, sintomas mais gerais como mal estar, dor de cabeça, febre, moleza, perda de apetite podem acontecer, ou mesmo podem passar despercebidos. Em geral, sintomas mais específicos, relacionados à presença de um abscesso cerebral, ocorrem em até 2 semanas do início do quadro. Assim, podemos ter confusão mental, dor de cabeça maios intensa, sinais sugestivos de meningite (em menos de 1/4 dos pacientes), crises convulsivas, perda de força de um lado, alterações da fala ou linguagem, dificuldade para ficar em pé ou andar (ataxia). Casos mais graves com hidrocefalia (aumento dos espaços de líquido na cabeça por compressão da circulação normal do líquor pelo abscesso) ou coma podem ocorrer.

O diagnóstico deve primeiro ser suspeitado, ou seja, o médico tem de ficar atento para a possibilidade de um abscesso cerebral. A tomografia, de preferência com contraste (mas há casos onde o contraste é proibido, como nas alergias a iodo), ou a ressonância magnética de crânio, é o exame de escolha no diagnóstico. Raramente, outros exames poderão ser pedidos quando houver dúvida no diagnóstico, e a solicitação destes depende do médico que assiste o paciente.

A evolução é boa em geral para aqueles pacientes com abscesso pequeno, único, e de diagnóstico rápido. Mas pode ser bastante diferente de um paciente para o outro, e casos mais graves podem ocorrer. O tratamento em geral envolve antibióticos pela veia, com o paciente internado, por 2 a 8 semanas, o que pode variar de acordo com o caso (quais os antibióticos podem ser usados não será discutido aqui, e isso deve ser assunto tomado com o médico que assiste o paciente), com a bactéria isolada, e se houve ou não drenagem do abscesso por cirurgia (sim, às vezes é necessária a drenagem do abscesso por neurocirurgião competente neste tipo de procedimento).