segunda-feira, setembro 05, 2011

Neuralgia pós-herpética

Falamos do herpes zóster, e agora vamos falar de uma complicação do herpes que é a neuralgia pós-herpética.
O termo neuralgia fala de uma dor de origem neural, ou seja, uma dor que se origina no sistema nervoso. Aqui abro um parêntese para diferenciar dois tipos de dores, a dor nociceptiva e a dor neuropática.

A dor nociceptiva é a dor que ocorre quando sofremos uma lesão. Essa é a dor da lesão por queimadura, por objetos que nos cortam ou perfura nossa pele, por batidas e traumas, por fraturas ou luxações. Para ocorrer essa dor, deve haver lesão de tecidos, de estruturas do corpo, lesões da pele ou órgãos. Essa dor tem um objeto que a causa, uma tesoura, um caco de vidro, um pedaço de madeira, uma lasquinha de madeira, uma mordida de cão, um acidente de carro...

Já a dor neuropática é diferente de tudo isso. A dor dita neuropática ocorre sem lesão alguma, ou a lesão já ocorreu, já sarou, já cicatrizou, e a dor continua. Não há mais lesões, podendo haver cicatrizes. Não há mais inflamação visível na pele ou nos tecidos abaixo da pele. Mas a dor continua lá. Essa dor é ocasionada por mecanismos neurológicos de perpetuação de dor, que envolvem os próprios nervos, a medula e o cérebro. Substância são liberadas que mantém a dor, mesmo sem haver objeto que a cause. A dor aqui tem características próprias. Ela pode ser de leve a intensa, espontânea, piora quando toca-se a área lesada. Aqui há o que chamamos de hiperalgesia, que é o excesso de sensação dolorosa desproporcional ao estímulo, ou seja, toca-se a pele e a dor que se sente é insuportavel. Há também a hiperpatia, que são manifestações autonômicas (sudorese, batedeira no peito, falta de ar) e psíquicas (ansiedade, medo) com a estimulação do local dolorido, frequentemente também desproporcional ao estímulo. A alodinia é a sensação anormal de dor causada por estímulos que normalmente não causam dor. O paciente, por exemplo, com neuralgia pós-herpética pode ter sensibilidade local tão intensa que o simples tocar da roupa no local causa uma dor em fisgadas e queimação intensa e por vezes insuportável.

O nome pós-herpética significa que a dor ocorre após a infecção pelo vírus do herpes, geralmente passados 3 meses da infecção sendo que a dor continua lá, e não há mais lesões locais. Você não mais vê lesões bolhosas nem crostas. Somente cicatrizes, sem porventura houver.

A dor ocorre nos dermátomos afetados pelo herpes. Pode ocorrer depressão e ansiedade com a dor por conta dos sintomas. O tratamento deve consistir de medicações como antidepressivos para a dor e para a ansiedade/depressão, anticonvulsivantes como gabapentina ou carbamazepina, e medicações locais como a pomada de capsaicina, uma pomada de pimenta em variadas proporções (de 0,025% a 8%) com efeitos variados.

Essas medicações todas devem ser prescritas por médico competente nesta doença. Se você sofre de dor neuropática ou neuralgia pós-herpética, diminua seu sofrimento, vá a um neurologista ou neurocirurgião. E nunca se auto-medique.

O que aconteceria se a gente usasse 100% do cérebro?

Notícia adaptada da Superinteressante de agosto de 2011

Esse negócio de que só usamos 10% de nosso cérebro é balela. Na verdade usamos todo o cérebro (100% dele), mas não todo o seu potencial (ah, aí está a questão). Um ato tão simples quanto conversar com o colega ao lado pode ativar todas as áreas do cérebro. Mas só uma parte do potencial de cada uma. Se todas as áreas funcionassem em potência máxima, e ao mesmo tempo, teríamos uma capacidade de digerir informações, sensações e pensamentos muito maior. É como um computador: usando todos os seus recursos, o cérebro teria muito mais capacidade de processamento. Não ganharíamos superpoderes. Mas quebrar códigos, tirar conclusões e analisar situações seriam tarefas muito mais fáceis.

As informações são processadas através dos neurônios com a ajuda imprescindível de suas células de suporte, as células gliais (Leia aqui), e transmitidas de neurônio em neurônio através das sinapses. São o número, a variedade e a capacidade de criar e ativar sinapses, além das variáveis relacionadas às células gliais, que determinam o processamento e a capacidade mental de cada um.

Mas mesmo se todos nós fôssemos gênios, ainda assim, ninguém seria bom em absolutamente tudo. Alguns teriam facilidade para música, outros para física. Há algo, no entanto, que seria comum a todos: nosso cérebro ficaria cansado de tanto trabalho. E, exatamente como um computador, daria pau de vez em quando, nos deixando com uma bela dor de cabeça.

O cérebro é composto de várias áreas que podem ser ativadas por uma única sensação, um único estímulo. Há regiões cerebrais corticais para codificar ocores, sabores, estímulos visuais, estímulos de toque (táteis), estímulos auditivos, etc. Imagine-se cheirando uma flor. Imagine também que quando você tinha 13 anos de idade, e estava encantado pela sua amiguinha de escola, você deu esta flor a ela, mas antes sentiu o odor que saía de suas pétalas (poético). Hoje, anos mais tarde, você se depara com a mesma qualidade de flor, e ao cheirá-la vêm-lhe à memória as mesmas lembranças da garotinha daquela sua escola. Ou um odor traz-lhe à mente, imediatamente, sensações desagradáveis, como sensação de sufocamento ou desespero. Estas interações entre áreas cerebrais, entre regiões diferentes, são comuns e normais em todos nós, mas tornam-se intensas e numerosas em pessoas muito inteligentes, que conseguem fazer associações imediatas entre coisas aparentemente sem nexo, consegue tirar conclusões imediatas a partir de situações que lhe são apresentadas, ou conseguem fazer cálculos por métodos engenhosos.

É como uma pessoa que tem várias conexões sociais e profissionais. Quanto mais conexões pessoais você tiver, mais sucesso você poderá ter em sua vida social e profissional (Fonte: Esquisitologia. A estranha psicologia da vida cotidiana. Richard Wiseman. Ed BestSeller, 2008 - aliás, um ótimo livro).