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domingo, maio 31, 2015

Mielite transversa

Mielite refere-se a inflamação da medula espinhal (do grego, myelos). Transversa significa que toda a extensão transversal da medula foi acometida. Leia o post sobre medula espinhal, e conheça mais sobre sua medula, depois volte aqui. Veja que a medula espinhal tem a forma cilíndrica.
 
Imagine uma lâmina cortando a medula de trás para frente. Pois é, a mielite transversa não ocorre quando a medula é cortada, mas quando ela sofre inflamação como se tivesse sido cortada. E os sintomas são relacionados a perda de força e sensibilidade abaixo do nível da lesão.
 
Como assim?
 
Bem, a medula manda e recebe sinais para e de todo o corpo, inclusive braços e pernas, além do pescoço. Há níveis medulares classificados de acordo com as raízes nervosas que saem da medula, sendo que a primeira raiz, lá em cima no pescoço, é a primeira raiz cervical, ou C1. A última raiz é a quinta sacral, ou S5. Há oito raízes cervicais (C1 a C8), doze raízes torácicas (T1 a T12), cinco lombares (L1 a L5), e cinco sacrais (S1 a S5). Veja a figura abaixo:
 
 
 
As raízes de C4 ou C5 a T1 ou T2 são relacionadas aos braços, e as raízes de T12 a S1 relacionam-se às pernas. Isso quer dizer que uma lesão acima de C5 deixa o paciente sem os movimentos dos braços e pernas (tetraparético, quando há diminuição de força, ou tetraplégico, quando há perda completa de força). Já lesões abaixo de T2 e acima de T12 deixam a pessoa paraparética ou paraplégica, quando somente as pernas ficam fracas.
 
Olhe essa figura abaixo. Cada área de seu corpo relaciona-se a um segmento medular. Lesões da mielite transversa, ou qualquer outra lesão medular que lese completamente a medula, leva a perda de força, sensibilidade e alterações de função da bexiga e do reto (incontinência, quando não há possibilidade de segurar, ou retenção, quando o paciente não consegue liberar, de urinas e fezes).
 
 
E quais as causas mais comuns de mielite transversa?
 
A causa mais comum é a esclerose múltipla. Mas outras causas são infecções virais, inflamações de outras causas como doenças reumáticas, isquemias (diminuição de sangue na medula), e mesmo situações idiopáticas, sem causa definida.
 
 

sábado, dezembro 17, 2011

O que é a síndrome de Brown-Séquard?

Mais um nome estranho, você pode dizer. Mas esta é uma das síndromes medulares mais importantes, e seria interessante você ler o tópico anterior antes de ler este.

Na medula, várias fibras sobem e descem, indo de um lugar para outro, vindo e indo para todas as partes do corpo, e vindo e indo para o cérebro. Mas nem tudo é linear. As fibras se cruzam em algum momento, ou na medula ou quando chegam no cérebro, e o que era direita vira esquerda, e vice-versa. Há um tópico explicando isto neste blog.

Há três tratos (grupamentos de fibras) muito importantes na medula:

1. O trato corticospinhal, que é quem permite a movimentação do corpo, vindo do cérebro, cruzando no tronco cerebral de um lado para outro, e indo dos nervos para os músculos;

2. O trato espinotalâmico lateral, que vem da pele do corpo todo, entra na medula nos vários níveis, já cruza ali mesmo ao entrar ou logo após, ainda dentro da medula, de um lado para outro, e vai direto para o cérebro;

3. Tratos do funículo posterior, que trazem informações sobre vibração e posição do corpo, entram na medula em vários níveis, sobem e cruzam no tronco cerebral para o outro lado, indo depois ao cérebro.

Observe abaixo:

Este é o trato corticospinal (o mais importante é o lateral, aqui o mais grosso de todos, e que vai cruzar lá em cima, já no tronco cerebral):

http://media.web.britannica.com/eb-media/42/55942-004-864AA8DF.jpg 

Este é o trato espinotalâmico, que cruza quase que imediatamente ao adentrar a medula:

http://grants.hhp.uh.edu/clayne/6397/Unit5_files/Unit5.4.jpg 

E este é o trato do funículo posterior, que assim como o trato corticospinhal, cruza lá em cima, no tronco cerebral:

http://grants.hhp.uh.edu/clayne/6397/Unit5_files/Unit5.3.jpg 

Muito bem, então temos dois tratos que sobem toda a extensão da medula no mesmo lado e cruzam já no cérebro, e um trato que cruza logo ao entrar na medula. Entendido? Perfeito!

E se nós lesássemos somente um lado da medula, ou seja, uma hemissecção medular? Como na figura abaixo:

http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS8gkc3jtCzM_6kOnBlqP2v9jatq5alLhfKSFxwvMto1BJLVxmehg 
Teríamos então, abaixo do nível da lesão:

1. Perda de força do mesmo lado da lesão - O trato corticospinhal só vai cruzar lá em cima
2. Perda de sensibilidade profunda, ou seja, vibratória e de posição, do mesmo lado da lesão - Os tratos posteriores cruzam somente lá em cima também.
3. Perda de sensibilidade geral (dor, temperatura e tato) do lado contrário à lesão - O trato espinotalâmico cruza logo ao entrar na medula, e portanto, ao se corta um lado da medula, corta-se o trato que vem do outro lado.

Esta é a síndrome de Brown-Séquard, em homenagem ao médico que a descreveu, Charles-Édouard Brown-Séquard:


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAWpj48x7oV5JcogC-J8koGBZNhknWTe3ZurTvYfgC4RSUPGmMaP8gT0gbGLNoe9rXgjNHN7raTcWDHwl8_7RmS4W8soi2qFA-drAbMswltkRa2GBMKMbruqGR2ocSlAdwcuCAgDkoBmw/s1600/Charles-%25C3%2589douard_Brown-S%25C3%25A9quard.jpg 

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Lesões medulares - Algumas informações

Há um tópico neste blog sobre medula espinhal (Leia aqui). Neste novo artigo, falaremos mais sobre lesões medulares, seus motivos e suas características clínicas, tudo em linguagem fácil e acessível.

Como já dissemos, a medula é um órgão alongado e cilíndrico dentro do canal vertebral, um canal ósseo protetor. A medula é ainda envolta por camadas, as meninges, assim como o cérebro, e as meninges são ligadas ao osso por ligamentos. Da medula, saem (nervos motores) e entram (nervos sensitivos) os nervos que vão inervar os membros, o tronco e alguns órgãos internos.


Esta imagem (endereço: http://files.fisiotersaude.webnode.com.br/system_preview_detail_200000132-45c4a46c17-public/medula%20espinhal.jpg) demonstra a medula dentro do canal vertebral envolta pelas meninges, e com os nervos saindo e nela entrando.

Esta outra imagem (endereço: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/imagens/medula-espinhal-1.jpg) mostra melhor a medula cortada transversalmente, demonstrando a substância branca (onde ficam as fibras que sobem e descem a medula) e a substância cinzenta (onde ficam os corpos dos neurônios que recebem e enviam nervos à periferia):


Agora, observe abaixo um corte medular demonstrando todos os tratos de fibras que sobem e descem pela medula (endereço: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/imagens/medula-espinhal-3.gif):


São muitas as fibras que andam pela medula, não? Os tratos em vermeho são os eferentes, ou seja, os que produzem movimento, os que levam a nervos que saem da medula para os músculos. Os em azul são os aferentes, ou seja, os que são formados por nervos que vêm da periferia, os nervos sensitivos, e entram na medula. Há tratos sensitivos e motores dos dois lados, e eles estão segregados nesta figura para facilitar sua compreensão.

Nesta figura, observe o trato de número 1a. Este é o trato motor mais importante, o trato corticospinhal lateral ou trato piramidal, o que produz movimento, e é este que, quando lesado por uma lesão medular, perde sua capacidade de produzir movimento abaixo do nível da lesão, levando a paraparesias ou tetraparesias (ou paraplegia e tetraplegia quando a fraqueza é completa). Há um tópico neste blog para explicar estes termos (Veja aqui).

Já o trato de número 5b é o mais importante quando se trata de sensibilidade, o trato espinotalâmico anterior. A lesão deste trato leva à perda de sensibilidade para toque, dor e temperatura abaixo da lesão. Os tratos de número 3a e 3b são localizados na parte de trás da medula, os chamados tratos posteriores, e sua lesão leva a perda de sensibilidade vibratória, tato fino, pressão e capacidade de localização do membro no espaço (artrestesia) abaixo do nível da lesão.

Tudo entendido por enquanto?

Muito bem! O que causa uma lesão medular? Quais são suas causas?

A mais comum, de longe, é o trauma raquimedular, o trauma contra a medula espinhal, por acidente de carro (mais comum), quedas, armas de fogo ou armas brancas (facas e outras do tipo). Mas há outras causas tão importantes quanto:

1. Mielite transversa - É o termo dado à inflamação da medula, que pode ser causada por várias doenças, as mais comuns sendo a esclerose múltipla e as infecções virais pelos vírus citomegalovírus e herpes vírus.


Nesta figura (endereço: http://4.bp.blogspot.com/_cmG-Ie9CYXs/TSjQ0KvrH3I/AAAAAAAAAM4/8yMa_X0EyaQ/s1600/mt.jpg) você observa a medula (esta estrutura acinzentada em meio a um espaço branco em uma imagem de ressonância magnética) com um foco de alargamento de sua estrutura, sendo este foco mais claro que o resto da medula - este é o sinal de uma mielite transversa.

Esta outra imagem (Endereço: http://www.nature.com/sc/journal/v42/n4/images/3101517f1.jpg) mostra mais exemplos, ainda mais extensos, de mielite transversa:


2. Compressão medular - Por lesão externa, como abscessos (coleções de pus envoltas por uma membrana) e hematomas (depósitos de sangramento). Ao mesmo tempo, tumores de fora da medula podem comprimir a medula, como tumores ósseos, metástases (lesões à distância de um foco de câncer) e tumores de nervos, como os neuromas dos nervos que saem e entram na medula.

Esta imagem (Endereço: http://www.aafp.org/afp/2002/0401/afp20020401p1341-f2.gif) mostra o esquema de um abscesso comprimindo a medula de trás para a frente, e da direita para a esquerda:



3. Lesões ósseas como fraturas vertebrais podem comprimir a medula. Observe a figura abaixo, tirada deste endereço: http://www.healthcentral.com/common/images/1/19310_13477_5.jpg


4. Tumores medulares, como ependimomas, astrocitomas e oligodendrogliomas, são tumores primários (ou seja, que nascem na própria medula, diferente das metástases ou lesões secundárias, que são tumores que vêm de outro lugar distante, como próstata no homem, ou ovário na mulher) que crescem dentro da medula, e podem causar lesão medular. Observe abaixo:


Esta figura, que veio do endereço http://rad.usuhs.edu/medpix/include/medpix_image.php3?imageid=42792, mostra a medula hiperalargada por conta de um tumor primário, um astrocitoma pilocítico.

5. Hérnias de disco e alterações ósseas degenerativas, como as espondiloartroses (envelhecimento da coluna, com achatamento de vértebras, formação de "bicos de papagaio" e espessamento de ligamentos) graves, podendo causar o que chamamos de estenose de canal medular e mielopatia espondilótica. Estas alterações são lentas, progressivas, desenvolvem-se ao longo de anos, mas podem piorar subitamente no caso de um trauma, como uma queda de cabeça ou um acidente automobilístico, por exemplo. Sobre hérnias de disco, há 3 tópicos neste blog. Mas, observe abaixo:


Endereço: http://jnnp.bmj.com/content/73/suppl_1/i34/F5.large.jpg

Nesta figura, observe que as vértebras (blocos de massa com alguns pontos brancos em seu interior) estão na frente da medula, e que de sua parte de trás saem espessamentos (hérnias de disco e ligamentos espessados). Além disso, logo atrás da medula, há também um ligamento espessado que toca sua face posterior, o ligamento amarelo. No final, o que se observa é um estreitamento do canal medular e compressão da medula, que pode acabar levando a mesão medular. Esta é uma imagem de ressonância magnética.