sábado, março 16, 2013

A esclerose múltipla é uma doença auto-imune?

Antes de ler o esto da postagem, temos que saber o que é uma doença anto-imune. E este post ajuda a esclarecer melhor esta pergunta.

Muito bem, para esclarecer a pergunta inicial, temos que entender como a esclerose múltipla (EM) funciona, ou seja, sua fisiopatologia. Estas informações foram adaptadas do site Medlink.

A EM é uma doença desmielinizante, ou seja, uma doença onde há destruição da bainha de mielina que cobre os neurônios do sistema nervoso central. Mas não é somente a desmielinização que conta na doença, mas a inflamação e a exposição crônica a substância inflamatórias (as citoquinas) desempenham grande papel na disfunção, e por último, morte neuronais. 

A EM, como já falado nos posts anteriores, provavelmente possui um fator ambiental (qual ainda não se sabe) que desencadeia os eventos inflamatórios em um paciente com predisposição genética provável. A EM, patologicamente (ou seja, nos estudos de cérebros de pacientes com a doença), apresenta-se na forma de placas na substância branca, formadas por invasão de células de defesa, os leucócitos (especialmente os linfócitos T e os monócitos), o que caracteriza uma ativação da imunidade do hospedeiro da doença.

Estes linfócitos são "chamados" ao sistema nervoso central (SNC), provavelmente pelo fator desencadeante da doença. A doença se desenvolve a partir das pequenas veias centrais do cérebro, as vênulas (daí por que há maior concentração de placas perto das cavidades de líquor, os ventrículos cerebrais, por que estão na profundidade do cérebro), pois é por aí que os linfócitos começam a entrar no SNC. Outras células de defesa imune acabam por entrar no cérebro também.

Este infiltrado celular associa-se a destruição das bainhas de mielina e disfunção das células que produzem esta mielina, os oligodendrócitos (ufa!). Apesar de a inflamação mais aguda dos surtos acabar por sumir em semanas, algumas células acabam por permanecer no local, promovendo inflamação leve crônica, com mais desmielinização e destruição axonal.

Esta ativação imune aparece antes de qualquer sintoma ou de lesões na ressonância magnética, provavelmente semanas antes. Várias substâncias inflamatórias, as citoquinas, são produzidas antes de qualquer sintoma começar. Mas nos surtos, nos ataques agudos, a presença inflamatória aumenta muito. 

O controle da inflamação auto-imune, algo que o próprio sistema imune consegue fazer (é o que ocorre em infecções virais, como a gripe por exemplo, onde os sintomas de febre, calafrios, nariz escorrendo e dor de garganta não são produzidos propriamente pelo vírus, mas pela reação do próprio corpo à presença do vírus, e após alguns dias, o próprio corpo se encarrega de debelar a reação desencadeada por ele mesmo), acaba por se perder nos surtos de EM por conta de queda dos níveis de substâncias que seriam necessárias para debelar esta resposta. 

E esta resposta imune da EM pode ser aumentada pelo hábito de fumar, pelo aumento nos níveis de algumas substâncias inflamatórias. 

Além dos linfócitos T, que realizam a resposta imune dita celular (apresentação de substâncias estranhas a células destruidoras de invasores, como os macrófagos, os antígenos, e ataque a invasores), a EM também leva a ativação de linfócitos B, que secretam várias citoquinas, também servem para apresentar antígenos e secretam anticorpos. 

A presença de bandas oligoclonais (leia mais sobre isso aqui) no líquido cerebral (líquor), presente em mais de 95% dos pacientes com EM e com outras doenças auto-imunes, relacionam-se à produção de anticorpos (IgG ou imunoglobulina G) contra substâncias estranhas no SNC. 

Outras substâncias, como as quimiocinas que atraem as células da defesa, e outras células como os monócitos e as células de defesa do próprio cérebro, a micróglia, participam do ataque imune na EM. Os monócitos levam a mais inflamação com a produção de óxido nítrico, uma substância nociva às células cerebrais, além de radicais livres (você se lembra deles?) que destroem as células, e outras substâncias nocivas. 

Haveria mais para se falar aqui, mas muitos destes assuntos são complexos demais para se colocar em um texto voltado para pacientes e familiares. Por ora, basta sabermos que, sim, a EM é uma doença auto-imune, definição que, pelas informações postas acima, refere-se a condições relacionadas a ataques direcionados a moléculas do corpo realizados pelo próprio sistema imunológico do paciente.