quinta-feira, setembro 13, 2012

Pequeno dicionário de termos médicos - O olfato

Este post relaciona-se e complementa/atualiza o post anterior sobre olfato - leia aqui.

O olfato é o sentido que nos permite conhecer e reconhecer as coisas pelo seu cheiro, odor. 

O olfato é determinado por neurônios localizados no bulbo olfatório, extensão do primeiro nervo craniano (o nervo olfatório) e que adentra a parte da frente do cérebro vindo do nariz (mais precisamente acima da mucosa nasal). Observe abaixo o nervo olfatório com o bulbo olfatório:

http://www.daviddarling.info/images/olfactory_nerve.jpg
O nervo está em amarelo. Observe que a parte alargada, o bulbo, possui filetes que se ligam a ele (na verdade, por ser este um nervo sensitivo, e não motor, estes filetes, as terminações olfatórias, entram no bulbo, ou seja, os nervos sensitivos saem da periferia [aqui, a cavidade nasal] e entram no cérebro, e os nervos motores saem do cérebro e vão para a periferia). Estas terminações possuem receptores (moléculas que ficam na superfície celular) e reconhecem outras moléculas, substâncias que criam um estímulo que será sentido como cheiro, levando informações destas moléculas ao cérebro, que interpreta a sensação como odor, cheiro.

Observe abaixo:

http://images.flatworldknowledge.com/stangor/stangor-fig04_020.jpg
Nesta figura, podemos ver à esquerda as moléculas de odor (odor molecules) saindo de uma rosa e adentrando a cavidade nasal, tocando as terminações nervosas do bulbo olfatório (olfactory bulb) que se conecta ao nervo olfatório (olfactory nerve). À direita vemos o bulbo olfatório em um esquema ultramicroscópico. No quadro abaixo à direita, o ar com moléculas que produzem odor aproxima-se de receptores nas células dos nervos, estimulando-os através de sinais elétricos, que são enviados a outros nervos e transmitidos ao cérebro, que irá reconhecê-los como odor e associá-los a outras sensações.

Interessante saber que o olfato é o sentido mais acurado em algumas espécies, como cães, onde possui funções de acasalamento (reconhecer uma fêmea no cio através do olfato), reconhecimento de território e de outros indivíduos da mesma espécie e de espécies diferentes, além de sentido de proteção e sobrevivência. Mas em nós, humanos, o olfato é muito mais do que somente uma função, digamos, instintiva.

No homem, o olfato proporciona prazer ao sentir um cheiro agradável. Ou nojo, ao sentir um cheiro desagradável, o que nos ajuda, inclusive, na auto-preservação (imagine uma pessoa sem olfato não conseguindo reconhecer se um alimento está podre ou não). Fora isso, o olfato relaciona-se a memórias e emoções, boas ou ruins, ao prazer na hora de alimentar-se e auxilia no romance, fora outras cositas más.

O conhecimento da associação do olfato com memórias não é novo, mas o porquê disso somente recentemente foi descoberto, e o conhecimento continua se expandindo.

O motivo é a interrelação entre as vias do olfato e uma via cerebral responsável pelas emoções, memória e pelo medo/angústia, o sistema límbico (leia sobre ele aqui). O sistema límbico é um conjunto de vias e núcleos cerebrais que tem como responsabilidade a memória dita explícita, a memória consciente, adquirida pela informação de si e do mundo, além das emoções tanto positivas como negativas. O sistema olfatório tem associação íntima com estas vias, e sinais produzidos e transmitidos via bulbo olfatório chegam ao córtex cerebral localizado logo acima de seu nariz, o córtex olfatório, e a outras vias mais próximas, como o córtex entorrinal e o hipocampo. Ali, associações entre sinapses acabam ocorrendo, levando à superficialização de memórias que, por circunstâncias, acabaram se associando a certos tipos de odores.

Você pode, por exemplo, sentir um cheiro de um perfume e lembrar de um amor de sua infância ou adolescência. Ou um odor qualquer pode fazê-lo reviver na cabeça, através de memórias e lembranças, situações que para você foram tristes ou desesperadoras. Como Marcel Proust cita em seu longo mas excelente "Em Busca do Tempo Perdido" (Link), o autor fala que o cheiro das madeleines (bolinhos franceses) molhadas no chá o faz lembrar de sua cidade e de sua infância, e assim inicia sua história (link).

Observe abaixo a relação entre o nervo olfatório e o sistema límbico:

http://www.yalescientific.org/wp-content/uploads/2011/05/fulllengths-olfaction-2.jpg
Ou seja, o olfato é um sentido muito mais valioso do que podemos pensar, e sua perda pode sr algo inestimável.

Aliás, falaremos dessa perda no próximo post, sobre a anosmia. 



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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista