terça-feira, janeiro 22, 2013

A marcha (o modo de andar) na doença de Parkinson


A DP afeta outras funções, e uma delas é a marcha, ou o andar do paciente. Aliás, muitas vezes essa é uma das primeiras coisas que o paciente ou seu familiar observa. A marcha é típica, por vezes chamada de marcha em pequenos passos. O paciente inicialmente anda arrastando um pé (geralmente o lado em que a doença começou), e observa-se também que o braço deste mesmo lado não balança tão normalmente como deveria quando a pessoa está andando. Ele fica parado junto ao corpo, ou levemente dobrado.

Também, o paciente anda um pouco para frente, e isso pode se acentuar com o decorrer da doença, tornando a fisioterapia um aliado importante no tratamento do paciente. A marcha é lenta, mas nos primeiros anos pode ser que o paciente não perceba essa lentidão. Entretanto, muitos pacientes permanecem andando bem ou mesmo sem ajuda por vários anos no decorrer da doença.

Algo que ocorre com freqüência durante a marcha é o fenômeno denominado freezing ou congelamento. O paciente está andando, e de repente, especialmente quando nervoso, quando vira enquanto anda ou quando deve passar por uma porta estreita, simplesmente “trava”, e não consegue mais andar iniciando uma série de passinhos muito curtos até conseguir voltar a andar. Por vezes, alguns pacientes podem cair. O freezing é um problema, mas pode ser facilmente resolvido.

Você já deve ter observado que você não percebe que está andando. Você anda de forma automática. Você levanta, e sai andando, bastante simples, e nem se dá conta que está dando movimentos complexos com as pernas, pés, coluna e bacia. Pois é, a marcha é um movimento automático. E é por isso que os pacientes com DP travam quando vão passar por um lugar estreito. Por que este mecanismo automático está deficiente. Os núcleos cerebrais que o controlam estão com defeito (por assim dizer).

Então, para contornar este problema, por quê não transformar a marcha de automática para voluntária? Ou seja, por quê não pensar para andar? Quando o paciente estiver travado ao tentar passar por uma porta, deve imaginar linhas no chão (não, não é loucura, é sério), e tentar pisar nelas. Ou o acompanhante, se vir seu familiar não conseguindo andar ao tentar passar por uma porta, pode colocar um pé na frente dele ou algo no chão, e pedir para ele passar por cima. Ele parece que irá pular por sobre o pé. Outros truques existem, como colocar marcar verdadeiras, amarelas ou brilhantes, a distâncias de passos, nos locais mais estreitos da casa, ou andar com uma bengala, por exemplo, e a cada passo, chutar a bengala. São truques que auxiliam o paciente a andar melhor.

Um outro fenômeno que ocorre em pacientes com quadro mais grave, e você já deve ter observado isso, é a festinação. Ou seja, por vezes o paciente com DP ao tentar andar começa a se jogar para frente, parece sair correndo como se quisesse pegar algo na sua frente, e de repente cai. Se não ajudado, cai mesmo. Isso ocorre por causa do movimento do tronco do paciente para a frente.

Normalmente, quando estamos em pé, nosso centro fica mais ou menos no meio de nosso corpo. À medida que você se joga para a frente ou para trás, ou para os lados, o centro se desloca também, e ocorrem vários ajustes em vários músculos do corpo justamente para impedir que você caia. Assim, mantém-se o equilíbrio. Nos pacientes com DP, esse centro (o centro de gravidade) está deslocado constantemente para frente, por causa da postura em flexão para frente do tronco. Os ajustes corporais que devem existir nem sempre acontecem. Então, quando o paciente anda, a tendência é esse centro ir cada vez mais para frente, e a tendência do paciente é literalmente sair correndo atrás dele, e acaba por cair.

Uma coisa interessante a respeito da marcha é quando o paciente vai tentar virar o corpo, ou dar meia-volta. Em pacientes graves ou com problemas graves de marcha, a virada da marcha passa a ser feita como se estivéssemos virando um bloco de concreto, ou seja, o corpo vai virando bem devagar, rigidamente, e os passos vão sendo dados um a um, bem devagarzinho. Não há a virada leve, suave, que normalmente se dá ao mudar de direção quando se anda. É nessas horas que o paciente tem mais chance de cair, e aqui também a fisioterapia pode dar uma senhora mão no tratamento dos pacientes. 

Lembre-se, não vale somente dar aquela caminhada todos os dias. O paciente com doença de Parkinson deve fazer fisioterapia, pois nesta ele exercita o corpo e os músculos de modo mais profissional, aprende novos métodos de postura e marcha, e estimula áreas cerebrais para quem respondam de forma precisa aos sinais do corpo. É sempre bom lembrar, inclusive, que a fisioterapia não deve ser um tratamento para pacientes com doença avançada, mas deve ser iniciada tão logo os primeiros sintomas da doença se tornem aparentes. 


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Médico Neurologista