quarta-feira, agosto 14, 2013

Abscesso cerebral

Os assuntos abordados aqui são de ordem geral, e de modo algum referem-se a algum paciente em particular. Não usem estas informações para se auto-diagnosticar, o que pode ser perigoso pois pode retardar o diagnóstico de uma doença grave, ou mesmo para auto-medicação, o que é ainda mais perigoso. Na vigência de sintomas, sempre (eu disse sempre) vá ao médico.

Inicialmente, o que é um abscesso? Abscesso é uma palavra que vem do latim, Abscessus, que significa uma saída ou esvaziamento. Do mesmo latim, o verbo Abscedere significa retirar (fonte).

Um abscesso nada mais é do que pus coletado em uma cavidade, uma coleção de pus, podendo ocorrer nos mais variados locais do corpo. Em geral, forma-se a partir da infecção, por bactérias ou fungos, de um tecido ou cavidade, com inflamação onde predomina um tipo de célula branca (leucócito) chamada de neutrófilo. A degeneração dos tecidos, das células de defesa e a destruição dos organismos invasores com suas substâncias, acabam por se misturar em um líquido quente e viscoso, que se acumula sob pressão dentro do abscesso (daí a dor, o calor, e o inchaço que o acompanham), o pus.

Essa figura abaixo mostra um abscesso na pele (figura forte):

http://www.ghorayeb.com/files/Neck_Abscess_400_SQ.jpg
Observe o vermelhão, o inchaço e o pus se formando na abertura do abscesso. Agora, observe um abscesso cerebral em uma tomografia (figura de cima) e em uma ressonância (figura de baixo).

https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTL7NLrYrNKijKH06BN0uflBVYeiNhpsTAe9NeZlkW0IAkG0vYMwQ
Nesta figura acima, o abscesso está localizado do lado direito da figura, possuindo uma cápsula que realça muito bem ao contraste, e ao seu redor, uma área mais escura que empurra as estruturas para os lados, ou seja, inchaço (edema cerebral).

https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS5xFu_BOOkdRmFHty-Uy5s0drJAw48c2sP0mg4DsBrOQrirgNa
Outro abscesso cerebral acima, com a área de edema cerebral ao seu redor, e a cápsula bem visível e que realça com facilidade (fica branca nesta sequência de ressonância).

Muito bem. Um abscesso cerebral é aquele que se forma no interior do tecido cerebral. Suas causas são as mais variadas. As fontes mais comuns de abscessos cerebrais são as infecções sistêmicas (focos hematogênicos), como abscessos pulmonares, endocardites (infecções das válvulas do coração), e infecções em outros órgãos, sendo que o abscesso se forma pela liberação de bactérias destes focos, e que acabam por se alojar no cérebro. Mais raramente, os abscessos podem advir de infecções de vias aéreas e de dentes. Mas não é qualquer infecção que produz um abscesso. Em geral, infecções graves e não tratadas podem evoluir para abscesso cerebral, como sinusites (calma, não é qualquer sinusite, mas aquelas mais graves e que não são tratadas, com grandes quantidades de secreção purulenta), infecções dentárias como abscessos peridentários, otites agudas (infecções agudas e purulentas dos ouvidos), e mastoidites agudas (infecções da mastoide, a parte do osso que fica atrás da orelha, e que contém células cheias de ar, podendo ficar infectada e cheia de pus). Outra causa de abscessos cerebrais são os traumatismos cranianos abertos, como acidentes, ferimentos de arma de fogo e por arma branca, além de cirurgias cerebrais pelos mais variados motivos.

Os sintomas dos abscessos cerebrais depende da localização, do tamanho, da provável causa, das condições do paciente e do número de abscessos (sim, podem haver vários em um mesmo paciente, cuja causa em geral é hematogênica, ou seja, espraiamento de infecção de outros locais para o cérebro). Geralmente, sintomas mais gerais como mal estar, dor de cabeça, febre, moleza, perda de apetite podem acontecer, ou mesmo podem passar despercebidos. Em geral, sintomas mais específicos, relacionados à presença de um abscesso cerebral, ocorrem em até 2 semanas do início do quadro. Assim, podemos ter confusão mental, dor de cabeça maios intensa, sinais sugestivos de meningite (em menos de 1/4 dos pacientes), crises convulsivas, perda de força de um lado, alterações da fala ou linguagem, dificuldade para ficar em pé ou andar (ataxia). Casos mais graves com hidrocefalia (aumento dos espaços de líquido na cabeça por compressão da circulação normal do líquor pelo abscesso) ou coma podem ocorrer.

O diagnóstico deve primeiro ser suspeitado, ou seja, o médico tem de ficar atento para a possibilidade de um abscesso cerebral. A tomografia, de preferência com contraste (mas há casos onde o contraste é proibido, como nas alergias a iodo), ou a ressonância magnética de crânio, é o exame de escolha no diagnóstico. Raramente, outros exames poderão ser pedidos quando houver dúvida no diagnóstico, e a solicitação destes depende do médico que assiste o paciente.

A evolução é boa em geral para aqueles pacientes com abscesso pequeno, único, e de diagnóstico rápido. Mas pode ser bastante diferente de um paciente para o outro, e casos mais graves podem ocorrer. O tratamento em geral envolve antibióticos pela veia, com o paciente internado, por 2 a 8 semanas, o que pode variar de acordo com o caso (quais os antibióticos podem ser usados não será discutido aqui, e isso deve ser assunto tomado com o médico que assiste o paciente), com a bactéria isolada, e se houve ou não drenagem do abscesso por cirurgia (sim, às vezes é necessária a drenagem do abscesso por neurocirurgião competente neste tipo de procedimento). 

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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista