Hoje um amigo leigo veio falar comigo sobre uma colega que está com uma doença que incha o cérebro. Bem, mas cérebro pode inchar? Hummm...
Vamos aos fatos
O cérebro é um órgão complexo, composto de várias células (já discutidas em tópicos anteriores), prolongamentos destas células (axônios e dendritos), vasos (artérias, que saem do coração, e veias, que voltam para o coração), e um líquido que é produzido dentro do cérebro, e que banha o cérebro e a medula, chamado de líquido céfalo-raquidiano, ou simplesmente líquor. Por ser um órgão, ele também possui células de defesa, chamadas de micróglia. As céulas de defesa do resto do corpo, os leucócitos (linfócitos), não chegam com facilidade ao cérebro por conta de uma proteção chamada de barreira hemato-encefálica. Isso por que os vasos cerebrais, que são as ruas por onde as células andam pelo corpo todo, são bem fechados no cérebro por células chamadas de astrócitos (já discutidas antes) e por características dos vasos cerebrais. Isso é necessário para que vírus, bactérias, e drogas nocivas não cheguem ao cérebro.
Mas quando o cérebro sofre uma lesão, digamos, um derrame, ocorre isquemia cerebral (parada de circulação de sangue para uma dada região do cérebro), e isso leva a lesão dos vasos ao redor, o que faz com que aquela barreira hemato-encefálica se perca por enquanto. O tecido cerebral morto tem de ser retirado de lá de alguma maneira. Além disso, toda necrose (morte de tecido do corpo) é acompanhada por uma reação inflamatória (a base das doenças no corpo é a inflamação, ou seja, a dilatação dos vasos e a entrada de células de defesa para agilizar o processo de limpeza do local e a morte de qualquer agente nocivo, como bactérias ou vírus, por exemplo).
Nesta reação inflamatória, o que ocorre? Ora, imagine uma lesão no seu dedo. Ela fica vermelha em algumas horas, certo? Por que? Por que aumenta a circulação de sangue na região por conta de várias substâncias que são liberada no local (as citoquinas e outras), e além disso, é necessário que aumente a circulação para que as células de defesa cheguem no local. Vai saber o que uma lesão no dedo esconde, não é mesmo? Além disso, a lesão, e o dedo, ficam inchados, certo? Por que? Por que o aumento da circulação, e a dilatação dos vasos locais, aumenta a saída de líquido dos vasos para fora, para os tecidos do dedo. O local fica quente pelo mesmo motivo. E dói, por que as substâncias liberadas estimulam os terminais de dor.
Pois no cérebro é a mesma coisa. Quando ocorre uma lesão, ocorre aumento de circulação de sangue local, e ocorre o que? Ocorre inchaço cerebral, o famoso edema cerebral, de que já ouvimos falar tantas vezes. Agora, o inchaço é maior ou menor dependendo de várias coisas: Primeiro, do tamanho da lesão. Lesões pequenas geralmente levam a inchaços pequenos. O oposto também é verdade. Mas dependendo da lesão, mesmo lesões pequenas podem levar a grandes áreas de inchaço (edema). Segundo, do tipo de lesão. Lesões infecciosas, como abscessos (coleções de pus encapsuladas), levam a grandes inchaços, mesmo sendo o abscesso pequeno. E terceiro, da idade da lesão. Lesões mais antigas levam a menores inchaços, claro.
Então, o cérebro pode inchar? Sim, pode! Mas aí é que mora o perigo. Você sabe onde fica o cérebro?
Continua no post seguinte...
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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista