segunda-feira, julho 25, 2011

Tratamento da fase aguda da enxaqueca

Discutir tratamento de doenças, quaisquer que sejam elas, em um ambiente virtual é sempre um desafio enorme, pois falamos coisas genéricas, generalizamos demais para poder abranger todo o conteúdo, e cada paciente é um mundo isolado, diferente de todos os outros. Daí a imposição das questões éticas que permeiam a discussão destes tópicos. Além do mais, espera-se que as considerações expostas aqui sejam usadas somente como referência, e solicita-se aos pacientes que não utilizem estas informações para auto-medicação, o que seria perigoso. Em suma, somente o médico assistente do paciente pode decidir que medicações serão utilizadas em cada tratamento particular, e estas palavras que se seguem devem servir somente como informação ao público leigo, como modo de informar e demonstrar sua existência.

Vamos falar das medicações usadas no tratamento da fase aguda da enxaqueca, chamadas de medicações abortivas, isso por que abortam a crise de dor de cabeça.

Estas medicações devem sempre ser utilizadas o mais cedo possível durante a crise, em geral nos primeiros 10 a 20 minutos de crise, quando os mecanismos de dor ainda são passíveis de término. Deixar o uso para mais tarde pode necessitar de doses maiores e mais frequentes de medicação, o que pode causar desde efeitos colaterais a abuso de medicação analgésica. Além disso, a presença de náuseas ou vômitos pode limitar o uso destas medicações, necessitando-se de medicamentos de uso intramuscular, intranasal, subcutâneo ou endovenoso (as injeções).

Sabe-se que as crises de enxaqueca vêm acompanhadas de alterações da motilidade gástrica, ou seja, o estômago começa a movimentar-se de modo mais lento (chamamos a isso de gastroparesia), e por conta disso e de outras coisas, medicações usadas pela via oral (pela boca) podem ter sua absorção, e consequentemente, seu efeito, reduzidos de forma significante. Pode ser por isso que às vezes observamos que uma medicação não faz efeito nas crises, e necessitamos de mais comprimidos.

Fora o descrito acima, doses em excesso de analgésicos por longos períodos (às vezes somente algumas semanas) acabam levando a um fenômeno chamado taquifilaxia (nome esquisito, não?) ou tolerância, ou seja, serão necessárias doses cada vez maiores de medicação para fazer o mesmo efeito que antes era feito com doses mínimas. E isso acaba levando ao abuso, ou seja, o uso em demasia de medicações analgésicas, que em enxaqueca é definido como o uso de qualquer tipo de analgésico em doses acima de 2 a 3 comprimidos por semana!

Feitas estas considerações, quais as medicações utilizadas no tratramento das enxaquecas?

1. Anti-inflamatórios não hormonais:
São as medicações mais usadas no mundo todo para término das crises. Destaca-se a imensa variedade de analgésicos disponíveis, mas deve-se prestar atenção aos seus efeitos colaterais. Doses altas e/ou frequentes pode levar a problemas gástricos, como dispepsia (sensação de queimação na boca do estômago que pode subir para a boca, a chamada azia), gastrite, esofagite e úlcera péptica. Recentemente, tem-se observado o aumento de problemas cardiovasculares e cerebrovasculares com o uso frequente de analgésicos, ou seja, risco aumentado de derrames e infartos do coração. Devem ser utilizadas com cautela, e somente com prescrição médica, devendo-se evitar a auto-medicação. Algumas formulações vêm com cafeína, o que aumenta a potência do analgésico, mas pode levar, pelo consumo exagerado, a piora das crises de enxaqueca. Há várias formulações de analgésicos disponíveis no mercado brasileiro, e cada médico tem suas preferências.

2. Analgésicos comuns:
Aqui destacamos a dipirona e o paracetamol ou acetaminofeno. São medicações relativamente seguras, vendidas em farmácias sem prescrição médica, usadas para uma variedade de indicações, desde dores a febre. Podem levar a efeitos colaterais também, como a dipirona que pode causar, em doses altas, problemas de sangue, e o paracetamol que em doses elevadas pode causar insuficiência hepática (problemas de fígado), devendo-se limitar suas dosagem a 3 a 4 vezes por dia. Na verdade, é prudente discutir com o médico assistente antes de iniciar estas medicações, por mais beniginas que possam parecer.

3. Alcalóides do ergot:
São medicações relativamente velhas, usadas para o tratamento agudo da enxaqueca. Temos várias formulações como a ergotamina e a ergocristina, e várias medicações em uso. Como discutido acima para as outras medicações, devem ser usadas de forma parcimoniosa, e somente sob orientação médica. Seus efeitos variam desde piora das dores por abuso de medicação até problemas vasculares como infartos e derrames. São contra-indicados em pacientes com hipertensão arterial, angina de peito, história de derrames e infartos do coração.

4. Opióides:
São medicamentos relacionados à morfina, e podem ser usados no tratamento agudo da enxaqueca. Há várias formulações, como a codeína, o tramadol e outras. Possuem vários efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, moleza, sedação, taquicardia, e devem ser usados somente sob supervisão médica. Podem ser usados tanto pla boca como por via endovenosa.

5. Triptanos:
São as medicações mais específicas para o tratamento das crises de enxaqueca, agindo em receptores de um neurotransmissor chamado serotonina. Também têm de ser usados precocemente na crise, e se necessário repetir dose, somente 2 a 3 horas após a primeira dose. Nunca devem ser usados juntamente com alcalóides do ergot por conta de efeitos adversos vasculares como angina, infarto e derrames. Em pacientes com hipertensão, angina, infarto ou derrames devem ser evitados. Há certos tipos raros de enxaqueca nos quais seu uso deve ser evitado (o que depende da aprovação do médico assistente; e sim, há vários tipos de enxaqueca, como a basilar, a enxaqueca comum, a enxaqueca com aura, etc), por risco maior de lesões cerebrais. Seu uso pode ser pela boca, por via subcutânea e por via nasal. Entre os tipos mais comuns em uso no Brasil, cita-se o sumatriptano, o naratriptano, o rizatriptano, o zolmitriptano e o elatriptano.

6. Anti-psicóticos:
Estas medicações são usadas somente em ambiente hospitalar por conta de seus efeitos colaterais, pela via intramuscular ou endovenosa. Devem ser usadas de forma cautelosa, e são indicadas nas crises intensas ou de duração prolongada (dias - o que chamamos de status migranosus), onde analgésicoms comuns não farão resultado. Usa-se com alguma frequência o haloperidol e a clorpromazina em doses baixas.

Muito bem, este é o resumo das medicações mais usadas nas crises de enxaqueca. Lembre-se, procure seu médico antes de iniciar qualquer medicação, por mais inócua que possa parecer.

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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista