Este termo também refere-se ao que chamamos de cateterismo cerebral, ou seja, o acesso de uma artéria periférica (do braço ou da perna) para avaliação radiológica de vasos cerebrais (carótidas, vertebrais, e artérias do crânio). O médico, neste exame, insere um catéter bem fino por uma artéria (ou a artéria ilíaca, da coxa, ou a braquial, do braço), que é guiado até a aorta, e de lá para as artérias e veias cerebrais. Assim, injetando-se contraste iodado nos vasos, e tirando chapas de radiografias em vários ângulos e posições, o médico consegue determinar algumas coisas em relação aos vasos da cabeça do paciente.
Este abaixo é um aparelho de angiografia, que nada mais é do que
uma máquina de raios X que pode rodar ao redor do paciente, e tirar
radiografias de várias posições.
http://radioactivityci2010.pbworks.com/f/1290007344/angio.jpg
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Observe a figura abaixo:
http://www.arthursclipart.org/medical/circulatory/arteries%20of%20the%20body.gif |
Essa
figura mostra as artérias principais do corpo, e por ela percebe-se que
podemos alcançar as artérias cerebrais através de qualquer artéria
periférica pela aorta, a grande artéria que sai do coração e desce até o
abdome.
Certo. Você viu como é um aparelho de angiografia, o básico de como é
realizado o exame, e como podemos abordar as artérias da cabeça através
da perna ou do braço. Mas, como é uma imagem de uma angiografia
cerebral?
Como disse antes, a angiografia é uma
radiografia de sua cabeça, com os vasos todos cheios de contraste,
tirada de vários ângulos diferentes. Assim, podemos ver seus vasos
arteriais e venosos (sim, artérias e veias, por que as veias as
comunicam com as artérias através através de pequeníssimos vasos
chamados de capilares, e podemos ver as veias após o contraste ter saído
das artérias e entrado nos capilares).
Observe a figura abaixo:
http://www.meddean.luc.edu/lumen/MedEd/radio/curriculum/Vascular/DSCN0099.JPG |
Observe
esta grande artérias. Esta é a imagem de uma angiografia. Esta é a
aorta, saindo do seu coração, indo para o tórax e abdome, mas antes
dando ramos para os braços (os ramos laterais) e para a cabeça (os ramos
que sobem). Os ramos laterais são as artérias subclávias, e os ramos
que sobem são as artérias carótidas. As artérias subclávias também dão
ramos para a cabeça, as artérias vertebrais. A sombra que você pode ver
na parte esquerda da imagem é o coração, já esvaziando o contraste que
estava nele.
Observe esta outra figura abaixo:
http://www.lakeshoretech.net/images_videos/angiography_cerebral_integration_4.jpg
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Esta
é uma angiografia cerebral mostrando a artéria carótida interna dentro
do crânio (intracraniana), bifurcando-se em artéria cerebral anterior e
média (leia o post sobre artérias da cabeça para saber mais).
Mas para que serve a angiografia cerebral?
A angiografia serve para que os vasos do corpo sejam visualizados de forma natural, in vivo. O médico consegue ver as artérias se enchendo e se esvaziando, e consegue assim dar um diagnóstico mais preciso de lesões arteriais ou venosas cerebrais, A angiografia, por ser um método de contraste invasivo, além de demonstrar o que queremos ver em vários ângulos, permite tirar todas as dúvidas quando pensamos em uma lesão de vasos cerebrais como a causa da doença do paciente.
Mas é um método que deve ser indicado de forma criteriosa somente pelo médico, explicando todos os riscos e benefícios ao paciente e aos seus parentes. Métodos como a angiotomografia (tomografia que consegue ver vasos melhor) e a angioressonância (técnica de ressonância magnética para ver vasos) têm boa sensiblidade, e conseguem ver as lesões mais comuns que podem afetar os pacientes.
Os principais motivos pelos quais o médico pode solicitar este exame são:
1. Obstrução de artéria carótida e das artérias vertebrais - Esta é a causa mais comum de derrame, e o médico deve poder estimar o grau de obstrução de um vaso (estenose) para que possa ditar o melhor tratamento, ou medicações ou cirurgia (endarterectomia, ou seja, a limpeza do vaso a céu aberto, ou colocação de stent no vaso).
http://brainavm.oci.utoronto.ca/images/malformations/carotid_stenosis/carotid_stenosis.jpg |
Nesta figura de cima, temos uma estenose carotídea grave pela angiografia. Sabendo-se do grau de estenose, pode-se propor o tratamento mais correto.
2. Diagnóstico da causa de lesões vasculares - Muitas vezes ocorre uma dor de cabeça súbita ou um derrame em um paciente com ou sem fatores de risco para derrames, como pressão alta ou fumo. O médico deve ir atrás da causa do derrame, para que evite um novo ou complicações mais graves. Em alguns pacientes, a angiografua torna-se importante para que possamos saber a caua exata do problema, e assim tratá-lo. Exemplos são dissecções arteriais, ou seja, quando a parede da artéria é destruída e sangue entra pela parede, produzindo uma segunda luz, podendo causar obstrução arterial e saída de um coágulo para cima, para o cérebro (embolia). Observe abaixo:
http://img.medscape.com/fullsize/migrated/497/907/smj497907.fig1.gif |
Esta figura mostra uma dissecção arterial da carótida, na figura à direita, e a lesão cerebral correspondente, na figura à esquerda, grande por sinal (a área branca e brilhante na imagem é a lesão aguda).
3. Obstrução dos vasos internos da cabeça, como as artérias cerebrais anterior, média e posterior, e a artéria basilar - Quando ocorre um derrame, e o doppler de carótidas não mostra lesão, isso pode ser verdade, apesar de que algumas vezes o doppler pode enganar, e haver sim uma lesão na carótida. Mas nas situações em que não há lesão carotídea, pode haver lesão em vasdos dentro do cérebro, como as artérias cerebrais ou a basilar. A angiografia pode auxiliar nesse diagnóstico, apesar de que técnicas como a angioressonância e a angiotomografia podem ser solicitadas no lugar, por serem menos invasivas e mais seguras.
4. Diagnóstico de aneurismas cerebrais e malformações artério-venosas - Aneurismas são dilatações como sacos das artérias, que possuem parede mais fina, e maior chance de rompimento. Têm como fatores de risco mais comuns o fumo (tabagismo), a hipertensão arterial mal controlada e fatores genéticos. Podem passar despercebidos por toda uma vida, mas podem romper causando dores de cabeça intensas e súbitas, e podem até mesmo levar à morte. Já as malformações artério-venosas (ou MAVs) são lesões cerebrais que se formam durante o desenvolvimento cerebral, formadas por uma artéria grande malformada, vasos malformados e de parede fraca dispersos pela lesão, e uma veia de drenagem. Também podem passar despercebidos, mas podem levar a derrames, crises epilépticas ou romper, levando a sangramento cerebral. Seus diagnósticos podem ser feitos pela angioressonância, pela angiotomografia ou pela angiografia cerebral. Veja abaixo:
http://www.methodsofhealing.com/Healing_Conditions/files/2008/10/Cerebral-Aneurysms.jpg |
Esta figura mostra os tipos de aneurismas cerebrais, e como se parecem.
Abaixo você vê a imagem de um grande aneurisma cerebral por auma angiografia:
http://www.drdavidlanger.com/what_we_treat/cerebrovascular/aneurysms/images/cerebral%20aneurism.JPG. |
Uma malformação artério-venosa você vê abaixo, em uma angiografia:
http://www.aneurysm-stroke.com/images/AVM-before.jpg. |
Mas veja que técnicas como a angioressonância também vêem malformações e aneurismas muito bem, neste caso abaixo marcado com uma seta vermelha:
http://www.totalfm.com.br/admin/images/3_saude_ciencia_203.jpg.g.jpg |
Os aparelhos de programas de angioressonância estão ficando cada vez mais aperfeiçoados e conseguem ver mais coisas do que antes.
5. Diagnóstico de trombose venosa cerebral - Esta é uma causa relativamente rara de derrame. Ocorre quando há obstrução (trombose) das veias da cabeça. Veja abaixo as veias da cabeça:
http://www.ajnr.org/content/25/5/787/F1.small.gif |
Esta é uma imagem de uma angioressonância. Aqui vêem-se as veias cerebrais. Mas veja uma imagem pela angiografia:
http://images.radiopaedia.org/images/12553/9bf8184d23b558893314d160eb6cca.jpg |
Há algumas outras indicações mais raras para a realização de angiografia. Mas o que você deve ter percebido é que este exame é importante, dá várias informações valiosas, mas há exames que dão informações parecidas com menos riscos, como a angiotomografia ou a angioressonância. Mas a angiografia ainda tem o seu papel garantido quando estes exames não conseguem ver o que queremos, e sabemos que há lesão em algum lugar.
Mas a angiografia também serve para o tratamento de algumas lesões vasculares cerebrais. A passagem de um stent (molinha que abre o vaso), a colocação de molas dentro de um aneurisma para fechá-lo, ou o fechamento de uma malformação só podem ser conseguidos pela abordagem dos vasos através da angiografia cerebral. Até o tratamento de alguns tipos de tumores cerebrais podem ser feitos com a angiografia cerebral, como a abordagem de certos tumores cheios de vasos com medicações, por exemplo. Sem a angiografia, portanto, procedimentos salvadores de vida não poderiam ser feitos.
Um stent é o que você vê abaixo:
O stent serve para abrir o vaso e rechaçar a placa de colesterol, a placa de ateroma. É uma das modalidades de tratamento vascular para derrames.
Já as molas de auerismas para fechamento dos mesmos são o que você vê abaixo:
http://www.brainaneurysm.com/assets/images/pic-3coils.jpg |
Ou seja, a angiografia cerebral tem vários, mas vários usos. Depende do seu médico a indicação criteriosa do exame, pois pode ser a técnica mais indicada no seu diagnóstico ou tratamento.
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Médico Neurologista