sábado, junho 15, 2013

Os vários tipos de crises epilépticas focais

Quem não conhece e quando ouve falar de crise epiléptica, pensa logo na famosa crise tônico-clônica generalizada, a chamada convulsão, com abalos generalizados, perda de consciência, saída de saliva e de urina e confusão após. Mas estas formas de crises são apenas uma dos vários tipos diferentes de crises epilépticas que uma pessoa pode sofrer. Sim, nosso cérebro é bastante versátil.

Cada região do cérebro cuida, mais ou menos, de uma ou várias funções. Assim, o lobo frontal é responsável pelas funções executivas, como planejamento, atenção, abstração, memória operacional (aquela que usamos para lembrar uma coisa por alguns minutos, e esquecemos após), e outras funções. Mas no lobo frontal, há também as funções motoras do corpo, e várias outras funções, como o comportamento e a linguagem.

O lobo parietal esquerdo relaciona-se com a linguagem e com a sensibilidade do lado direito do corpo; já o lobo parietal direito relaciona-se com funções mais complexas, como a capacidade de se localizar no espaço (orientação visuoespacial), além das chamadas funções sensoriais superiores, como a capacidade de reconhecer uma parte do corpo como própria, a capacidade de discriminar dois pontos ao mesmo tempo em uma superfície do corpo, a capacidade de reconhecer letras e números escritos na mão esquerda, a capacidade de reconhecer coisas colocadas na mão esquerda, a capacidade de determinar qual objeto é mais pesado quando colocados nas mãos, etc.

O lobo temporal relaciona-se com a memória, mas mais que isso, relaciona-se com a olfação (sim, seu lobo temporal tem a ver com a capacidade de sentir e discriminar cheiros e odores), com experiências e emoções relacionadas a elas, e mesmo com a audição (uma parte externa do lobo temporal recebe informações das vias auditivas e vestibulares, ou seja, relacionadas com o labirinto).

Já o lobo occipital relaciona-se com a visão e todas as suas complexidades. 

Assim, uma crise epiléptica que se inicia no lobo occipital pode ser caracterizada por manchas, objetos, cores e luzes coloridas no campo visual; mas também outras coisas mais bizarras, como de repente ver as coisas maiores ou menores (respectivamente, macropsia e micropsia), ver as coisas em câmera lenta, ver as imagens distorcidas, e outras alterações mais complexas.

Crises do lobo temporal podem dar sensações olfativas anormais, como cheiro de esgoto ou borracha queimada, podem produzir sensações de sair do próprio corpo, de visitar mundos diferentes, podem produzir êxtase (vide Dostoievsky), podem criar sensações de medo ou prazer extremos, ou podem produzir as famosas crises parciais complexas, onde há alteração sem perda de consciência com olhar parado e movimentos automáticos de partes do corpo. Outras crises do lobo temporal podem constituir-se de tontura, zumbido ou mesmo alucinações auditivas (estas crises são raras).

Crises frontais podem produzir as mesmas crises parciais complexas, mas podem levar a alterações comportamentais, crises de movimentação anormal ou abalos localizados em um braço, perna ou rosto (do lado contrário ao foco), crises de virada (crises versivas) do olho e/ou cabeça para qualquer lado, ou crises de posturas anormais de membros. Pode haver também alterações de linguagem se o foco está à esquerda.

Crises parietais podem produzir alterações de linguagem se o foco é à esquerda, ou sensações estranhas de um lado do corpo (contrário à lesão), crises versivas ou outras formas de crise.

As crises descritas acima são as crises focais, parciais, originadas de focos em cada um destes lobos, e que geralmente permanecem nestes locais. Claro que muitas destas crises podem evoluir para uma crise generalizada, a convulsão, a que chamamos de crises parciais com generalização secundária.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista