Quem não conhece e quando ouve falar de
crise epiléptica, pensa logo na famosa crise tônico-clônica generalizada, a
chamada convulsão, com abalos generalizados, perda de consciência, saída de
saliva e de urina e confusão após. Mas estas formas de crises são apenas uma
dos vários tipos diferentes de crises epilépticas que uma pessoa pode sofrer.
Sim, nosso cérebro é bastante versátil.
Cada região do cérebro cuida, mais ou
menos, de uma ou várias funções. Assim, o lobo frontal é responsável pelas
funções executivas, como planejamento, atenção, abstração, memória operacional
(aquela que usamos para lembrar uma coisa por alguns minutos, e esquecemos
após), e outras funções. Mas no lobo frontal, há também as funções motoras do
corpo, e várias outras funções, como o comportamento e a linguagem.
O lobo parietal esquerdo relaciona-se com
a linguagem e com a sensibilidade do lado direito do corpo; já o lobo parietal
direito relaciona-se com funções mais complexas, como a capacidade de se
localizar no espaço (orientação visuoespacial), além das chamadas funções
sensoriais superiores, como a capacidade de reconhecer uma parte do corpo como
própria, a capacidade de discriminar dois pontos ao mesmo tempo em uma
superfície do corpo, a capacidade de reconhecer letras e números escritos na
mão esquerda, a capacidade de reconhecer coisas colocadas na mão esquerda, a
capacidade de determinar qual objeto é mais pesado quando colocados nas mãos,
etc.
O lobo temporal relaciona-se com a
memória, mas mais que isso, relaciona-se com a olfação (sim, seu lobo temporal
tem a ver com a capacidade de sentir e discriminar cheiros e odores), com
experiências e emoções relacionadas a elas, e mesmo com a audição (uma parte
externa do lobo temporal recebe informações das vias auditivas e vestibulares,
ou seja, relacionadas com o labirinto).
Já o lobo occipital relaciona-se com a
visão e todas as suas complexidades.
Assim, uma crise epiléptica que se inicia
no lobo occipital pode ser caracterizada por manchas, objetos, cores e luzes
coloridas no campo visual; mas também outras coisas mais bizarras, como de
repente ver as coisas maiores ou menores (respectivamente, macropsia e
micropsia), ver as coisas em câmera lenta, ver as imagens distorcidas, e outras
alterações mais complexas.
Crises do lobo temporal podem dar
sensações olfativas anormais, como cheiro de esgoto ou borracha queimada, podem
produzir sensações de sair do próprio corpo, de visitar mundos diferentes,
podem produzir êxtase (vide Dostoievsky), podem criar sensações de medo ou
prazer extremos, ou podem produzir as famosas crises parciais complexas, onde
há alteração sem perda de consciência com olhar parado e movimentos automáticos
de partes do corpo. Outras crises do lobo temporal podem constituir-se de
tontura, zumbido ou mesmo alucinações auditivas (estas crises são raras).
Crises frontais podem produzir as mesmas
crises parciais complexas, mas podem levar a alterações comportamentais, crises
de movimentação anormal ou abalos localizados em um braço, perna ou rosto (do
lado contrário ao foco), crises de virada (crises versivas) do olho e/ou cabeça
para qualquer lado, ou crises de posturas anormais de membros. Pode haver
também alterações de linguagem se o foco está à esquerda.
Crises parietais podem produzir alterações
de linguagem se o foco é à esquerda, ou sensações estranhas de um lado do corpo
(contrário à lesão), crises versivas ou outras formas de crise.
As crises descritas acima são as crises
focais, parciais, originadas de focos em cada um destes lobos, e que geralmente
permanecem nestes locais. Claro que muitas destas crises podem evoluir para uma
crise generalizada, a convulsão, a que chamamos de crises parciais com
generalização secundária.
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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista