terça-feira, maio 06, 2014

O hipocampo e a atividade aeróbica

O hipocampo, biologicamente falando, é um cavalo-marinho ( que, apesar do nome, é um peixe). 

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Bonito, não? Já peguei uns dois desses na mão quando fui a Fernando de Noronha, para desespero do guia (eles estão bem, apesar de mim). Mas continuemos.

No cérebro há também um hipocampo, mas esta é uma estrutura que fica no seu lobo temporal e a principal estrutura relacionada com o armazenamento das memórias. 

Hum? Um cavalo-marinho é o responsável pelas minhas memórias???? Não é bem assim! Observe um hipocampo cerebral.

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Eu sei o que você está pensando! O Dr Flávio tem uma imaginação porreta para dizer que isso aí parece com um hipocampo! Mas não fui eu quem disse isso, eu só propago o conhecimento. Imaginação teve quem achou, pela primeira vez, que isso tinha a forma de um hipocampo. Mas esta estrutura tinha de ter um nome, e ficou hipocampo (em inglês, hyppocampus).

Mas é aqui que as memórias são armazenadas quando chegam ao cérebro. No lobo temporal. E aqui chegamos ao nosso texto.

Notícia tirada do site Medscape News, e traduzida livremenre para o Blog Neuroinformação.

O treino aeróbico aumenta o volume do hipocampo em pacientes com declínio cognitivo leve. 


Nota do Tradutor: Antes de começar, só uma nota explicativa. O declínico cognitivo leve (em inglês, MCI para Mild Cognitive Impairment) é uma condição em que há alteração na memória, ou menos frequentemente em outras áreas da cognição, mas sem causar impacto sobre a vida do indivíduo, ou seja, sem ser demência. Em 5 anos, 50% dos pacientes com MCI evoluirão para demência, na sua maior parte tipo Alzheimer. Mas vamos ao texto.

Mulheres idosas com MCI que se submetem a um programa de atividade física aeróbica por 6 meses têm aumento no volume do hipocampo comparadas a mulheres que fazem somente exercícios de tonificação muscular. Mas este aumento, especialmente do hipocampo do lado esquerdo, conforme visto no estudo em questão não se associou com melhora da performance no testes de memória verbal.

Os achados deste estudo sugerem que a atrofia (diminuição de tamanho) do hipocampo, achado típico da doença de Alzheimer, isolada não explica tudo o que ocorre nessa doença. Também, pode haver um intervalo de tempo entre o aumento do volume do hipocampo e uma modificação na função cognitiva. Ou mesmo, as pessoas que obtiveram melhor aumento do hipocampo foram as que tinham a estrutura mais atrofiada no início do estudo, e com o tempo acabaram igualando-se com outras pessoas no teste de memória verbal, o que poderia explicar a falta de melhora evidente.

Além da atrofia do hipocampo, alterações da substância branca cerebral podem contribuir para a perda de memória e para defeitos de conexão entre o hipocampo e outras áreas do cérebro, e nesse caso, aumentando o volume hipocampal isoladamente não melhoraria a memória.

O artigo foi publicado no British Journal of Sports Medicine (link aqui).

O estudo avaliou 86 mulheres entre 70 e 80 anos de idade com algum problema de memória mas sem demência. Os treinos foram de 60 minutos de duração, duas vezes por semana. 

Foram feitas avaliações da memória com dois testes, um de memória verbal (lembrar o que foi falado ou ouvido antes) e um de memória imediata (lembrar palavras após lê-las 5 vezes e após um teste de distração). 

O hipocampo nos pacientes em exercício aeróbico aumentou 5.4% à esquerda e 2.5% à direita (total de 4%).

A atividade física aumenta os níveis de um fator de crescimento do sistema nervoso, o Brain-Derived Neurotrophic Factor (BDNF) ou Fator de Crescimento Derivado do Cérebro, com aumento da criação de novos neurônios (neurogênese) no hipocampo e aumento das sinapses, as ligações entre os neurônios.

O que os autores sugerem é que a atividade física, conforme estudos anteriores, pode auxiliar mais quem já possui algum tipo de déficit, comparado com o estudo atual.

Os autores dividiram os pacientes no final em grupos (Hipocampo grande, pobre memória; hipocampo grande, boa memória; hipocampo pequeno, boa memória; e hipocampo pequeno, pobre memória). Talvez o ideal seja verificar nestes pacientes outras variáveis, como qualidade de vida, risco de desenvolver demência no futuro e sobrevida após o estudo.

Mas como sempre, mais estudos são necessário.

Muito bem, o tradutor (eu) sugere que atividades físicas sejam sempre realizadas, mas sempre com apoio médico e do profissional de educação física/fisioterapia, e nunca sem uma avaliação médica prévia, especialmente em indivíduos idosos.

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Médico Neurologista