Há um tópico neste blog sobre medula espinhal (Leia aqui). Neste novo artigo, falaremos mais sobre lesões medulares, seus motivos e suas características clínicas, tudo em linguagem fácil e acessível.
Como já dissemos, a medula é um órgão alongado e cilíndrico dentro do canal vertebral, um canal ósseo protetor. A medula é ainda envolta por camadas, as meninges, assim como o cérebro, e as meninges são ligadas ao osso por ligamentos. Da medula, saem (nervos motores) e entram (nervos sensitivos) os nervos que vão inervar os membros, o tronco e alguns órgãos internos.
Esta imagem (endereço: http://files.fisiotersaude.webnode.com.br/system_preview_detail_200000132-45c4a46c17-public/medula%20espinhal.jpg) demonstra a medula dentro do canal vertebral envolta pelas meninges, e com os nervos saindo e nela entrando.
Esta outra imagem (endereço: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/imagens/medula-espinhal-1.jpg) mostra melhor a medula cortada transversalmente, demonstrando a substância branca (onde ficam as fibras que sobem e descem a medula) e a substância cinzenta (onde ficam os corpos dos neurônios que recebem e enviam nervos à periferia):
Agora, observe abaixo um corte medular demonstrando todos os tratos de fibras que sobem e descem pela medula (endereço: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/imagens/medula-espinhal-3.gif):
São muitas as fibras que andam pela medula, não? Os tratos em vermeho são os eferentes, ou seja, os que produzem movimento, os que levam a nervos que saem da medula para os músculos. Os em azul são os aferentes, ou seja, os que são formados por nervos que vêm da periferia, os nervos sensitivos, e entram na medula. Há tratos sensitivos e motores dos dois lados, e eles estão segregados nesta figura para facilitar sua compreensão.
Nesta figura, observe o trato de número 1a. Este é o trato motor mais importante, o trato corticospinhal lateral ou trato piramidal, o que produz movimento, e é este que, quando lesado por uma lesão medular, perde sua capacidade de produzir movimento abaixo do nível da lesão, levando a paraparesias ou tetraparesias (ou paraplegia e tetraplegia quando a fraqueza é completa). Há um tópico neste blog para explicar estes termos (Veja aqui).
Já o trato de número 5b é o mais importante quando se trata de sensibilidade, o trato espinotalâmico anterior. A lesão deste trato leva à perda de sensibilidade para toque, dor e temperatura abaixo da lesão. Os tratos de número 3a e 3b são localizados na parte de trás da medula, os chamados tratos posteriores, e sua lesão leva a perda de sensibilidade vibratória, tato fino, pressão e capacidade de localização do membro no espaço (artrestesia) abaixo do nível da lesão.
Tudo entendido por enquanto?
Muito bem! O que causa uma lesão medular? Quais são suas causas?
A mais comum, de longe, é o trauma raquimedular, o trauma contra a medula espinhal, por acidente de carro (mais comum), quedas, armas de fogo ou armas brancas (facas e outras do tipo). Mas há outras causas tão importantes quanto:
1. Mielite transversa - É o termo dado à inflamação da medula, que pode ser causada por várias doenças, as mais comuns sendo a esclerose múltipla e as infecções virais pelos vírus citomegalovírus e herpes vírus.
Nesta figura (endereço: http://4.bp.blogspot.com/_cmG-Ie9CYXs/TSjQ0KvrH3I/AAAAAAAAAM4/8yMa_X0EyaQ/s1600/mt.jpg) você observa a medula (esta estrutura acinzentada em meio a um espaço branco em uma imagem de ressonância magnética) com um foco de alargamento de sua estrutura, sendo este foco mais claro que o resto da medula - este é o sinal de uma mielite transversa.
Esta outra imagem (Endereço: http://www.nature.com/sc/journal/v42/n4/images/3101517f1.jpg) mostra mais exemplos, ainda mais extensos, de mielite transversa:
2. Compressão medular - Por lesão externa, como abscessos (coleções de pus envoltas por uma membrana) e hematomas (depósitos de sangramento). Ao mesmo tempo, tumores de fora da medula podem comprimir a medula, como tumores ósseos, metástases (lesões à distância de um foco de câncer) e tumores de nervos, como os neuromas dos nervos que saem e entram na medula.
Esta imagem (Endereço: http://www.aafp.org/afp/2002/0401/afp20020401p1341-f2.gif) mostra o esquema de um abscesso comprimindo a medula de trás para a frente, e da direita para a esquerda:
3. Lesões ósseas como fraturas vertebrais podem comprimir a medula. Observe a figura abaixo, tirada deste endereço: http://www.healthcentral.com/common/images/1/19310_13477_5.jpg
4. Tumores medulares, como ependimomas, astrocitomas e oligodendrogliomas, são tumores primários (ou seja, que nascem na própria medula, diferente das metástases ou lesões secundárias, que são tumores que vêm de outro lugar distante, como próstata no homem, ou ovário na mulher) que crescem dentro da medula, e podem causar lesão medular. Observe abaixo:
Esta figura, que veio do endereço http://rad.usuhs.edu/medpix/include/medpix_image.php3?imageid=42792, mostra a medula hiperalargada por conta de um tumor primário, um astrocitoma pilocítico.
5. Hérnias de disco e alterações ósseas degenerativas, como as espondiloartroses (envelhecimento da coluna, com achatamento de vértebras, formação de "bicos de papagaio" e espessamento de ligamentos) graves, podendo causar o que chamamos de estenose de canal medular e mielopatia espondilótica. Estas alterações são lentas, progressivas, desenvolvem-se ao longo de anos, mas podem piorar subitamente no caso de um trauma, como uma queda de cabeça ou um acidente automobilístico, por exemplo. Sobre hérnias de disco, há 3 tópicos neste blog. Mas, observe abaixo:
Endereço: http://jnnp.bmj.com/content/73/suppl_1/i34/F5.large.jpg
Nesta figura, observe que as vértebras (blocos de massa com alguns pontos brancos em seu interior) estão na frente da medula, e que de sua parte de trás saem espessamentos (hérnias de disco e ligamentos espessados). Além disso, logo atrás da medula, há também um ligamento espessado que toca sua face posterior, o ligamento amarelo. No final, o que se observa é um estreitamento do canal medular e compressão da medula, que pode acabar levando a mesão medular. Esta é uma imagem de ressonância magnética.
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Médico Neurologista