Aelius Galenus ou Claudius Galenus foi um médico, cirurgião e filósofo latino nascido em uma região na Turquia que hoje é Bergama (ele era também conhecido como Galeno de Pergamon) que nasceu no II século da era cristã, e morreu no início do terceiro século, tendo vivido em Roma desde 162, quando tinha 33 anos. Em Roma praticou a medicina, tendo sido médico dos imperadores Commodus e Sepitimus Severus.
As contribuições de Galeno à medicina perduraram por toda a Idade Média, por mais de 1300 anos, tendo sido contestadas somente com os estudos e experimentos médicos a partir do século XV durante a Renascença, principalmente com os famosos médicos da época Paracelso e Vesalius, pois galeno havia feito suas observações a partir de animais, e não cadáveres humanos. Desde o ano 150 AD (Anno Domini, ou da nossa era), Roma havia proibido a dissecção de cadáveres, e Galeno retirou todo o seu conhecimento da dissecção de animais, mortos e vivos. Suas contribuições variam de estudos da circulação humana (tanto veias como artérias), a descrição do sistema respiratório, o estudo de nervos sensitivos e motores, tendo realizado inúmeras cirurgias cerebrais e de catarata, removendo o cristalino danificado (Para quem se interessar, com muitas referências - leia aqui).
Muito bem, você já sabe quem foi Galeno. Agora, o que é a veia de Galeno?
Isso é um epônimo, um nome dado em honra ou homenagem ao local de uma descoberta, a quem descobriu, ou ao paciente em que a doença (ou sinal) foi descoberta. E Galeno descreveu essa veia no século II.
Observe abaixo as veias cerebrais:
http://www.radiologyassistant.nl/data/bin/a509797a5ed096_VENOUS-ANATOMY.png |
Para quem quiser saber mais, e vendendo meu peixe, há um post neste blog sobre o sistema venoso cerebral (leia mais aqui).
Muito bem. Na figura acima, observe uma veia na parte média direita da figura que sobe, chamada de Straight Sinus (Seio Reto). Nesta veia, entram duas veias menores, uma arqueada para cima, o Inferior Sagittal Sinus (Seio Sagital Inferior) e uma pequena veia arqueada para baixo, a Veia de Galeno (V. of Galen).
A veia de Galeno recebe sangue de veias que drenam estruturas cerebrais profundas.
http://images.radiopaedia.org/images/17256/2f10224ab1aa2f9057b97a75b23f06.jpg |
Procure a veia de Galeno na figura acima, que é um segmento de uma angioressonância cerebral. Achou? Se não, pesque das indicações à esquerda da figura.
Mas qual a importância dessa veia, além é claro de drenar sangue de partes profundas do cérebro?
A
importância é por conta de uma alteração que corresponde a 1% das alterações de
vasos sanguíneos que ocorrem ao nascimento (as malformações arteriovenosas, ou
MAVs). Estas malformações foram descritas pela primeira vez em 1895.
Podem ser
diagnosticadas no período neonatal (logo após o nascimento), nos primeiros anos
de vida ou na infância. Crianças que se apresentam com a malformação logo ao
nascimento podem ter também insuficiência cardíaca (falência de função do
coração), com risco de morte se não tratadas a tempo. Nas crianças que começam
os sintomas até os 2 anos de vida, hidrocefalia é a manifestação mais comum,
podendo ser mais comumente leve. Insuficiência cardíaca leve pode ocorrer neste
grupo etário. Crianças mais velhas apresentam os primeiros sintomas da
malformação através de dores de cabeça e déficits neurológicos (sinais de
anormalidades ao exame neurológico).
A insuficiência
cardíaca se desenvolve por causa do alto fluxo de sangue dentro de uma grande veia
de Galeno malformada, podendo levar a pressão alta logo após o nascimento.
Quando as comunicações anormais entre a veia e outras veias e artérias (shunts arteriovenosos)
são grandes, os sintomas se desenvolvem de forma rápida. Shunts menores dão
sintomas mais tardios. Há pacientes que permanecem sem sintomas por shunts
muito pequenos.
Observe abaixo uma malformação da veia de Galeno e compare com as duas figuras acima:
http://origin-ars.els-cdn.com/content/image/1-s2.0-S1052514907000123-gr3.jpg |
Observe a veia de Galeno muito aumentada à direita, com a comunicação entre a veia e artérias que vêm das artérias carótidas (malformação arteriovenosa), e à esquerda uma angiografia demonstrando a veia sendo diretamente preenchida com contraste a partir da injeção de contraste nas artérias carótidas (algo que normalmente não acontece, e o preenchimento da veia ocorre somente tardiamente, quando o contraste sai das artérias e normalmente segue para as veias para ser drenado).
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Médico Neurologista