domingo, março 13, 2011

No consultório do neurologista

O neurologista é o médico que lida com as doenças do cérebro, da medula espinhal, e dos nervos e músculos.
Estes sistemas são bastante complexos, e as doenças que os envolve também o são. Logo, é necessário que um bom neurologista tire do paciente uma boa história clínica.
A história clínica é a entrevista que o médico faz com o paciente, visando tirar o máximo de informações possível do paciente para compor um diagnóstico ou possíveis diagnósticos, e já pensar em exames a serem solicitados, se necessitarem, e em um tratamento para o caso.
Na história médica, pergunta-se sobre os sintomas principais, como começaram, por onde começaram, e se começaram de forma insidiosa (devagar) ou abruptamente. Pergunta-se sobre outros sintomas, e a maneira de início destes, além da relação destes com o sintoma principal. Pergunta-se ao paciente sobre seus sistemas orgânicos, ou seja, coração, pulmão, trato digestivo, pele, senstidos da audição, visão, tato, olfato, paladar, rins e urina, fezes, e outras coisas visando verificar se a doença afeta outros sistemas, ou se há mais de uma doença a ser diagnosticada. Inquire-se o paciente sobre doenças e tratamentos/cirurgias anteriores, doenças da família que ajudem em um diagnóstico, e uso de medicações atuais além de alergias.

A história clínica é a parte mais importante do processo diagnóstico em qualquer especialidade médica, e a neurologista não é diferente. Na verdade, a história clínica é tão importante no diagnóstico neurológico que sem ela não é possível fazer-se um diagnóstico neurológico.

O exame físico vem depois, e pode ser completo, ou seja, examina-se o paciente todo, não só a parte neurológica como todos os outros sistemas, ou pode ser direcionado, o que não invalida o diagnóstico. No exame direcionado, utiliza-se a história clínica para examinar os aparelhos ou sistemas neurológicos supostamente envolvidos, e dá-se atenção também, mas menos, aos outros sistemas supostamente intactos.

Um exemplo: Um paciente com história de perda visual súbita há 3 dias, com dor ocular e tontura. Após uma história completa, pode-se examinar o coração atrás de anormalidades de ritmo ou sopros, artérias carótidas e artérias vertebrais atrás de sopros que podem confirmar uma fonte de coágulos que podem ter entupido a artéria do olho acometido, examina-se o olho acometido e o normal, faz-se o exame de fundo de olho atrás de sinais que indiquem entupimento arterial/lesão venosa e/ou o porquê deste entupimento, ou lesões de retina ou mesmo de outras partes do olho (algo que deve ser confirmado por um oftalmologista), examina-se campo visual para ter certeza de que não houve lesão cerebral sendo a causa da perda visual, examina-se a pupila atrás de sinais que indique se os nervos ópticos estão normais ou não, e examina-se a movimentação ocular. O exame de consciência, força, sensibilidade, coordenação, reflexos e outros nervos cranianos deve ser feito pois pode-se descobrir sinais outros que suportem ou levem o diagnóstico para outra direção, mas pode ser mais sucinto que os testes anteriores, devido ao direcionamento da história.

Com este artigo, não pretendo transformar o leitor em um neurologista, mas fazê-lo ter ciência de como uma consulta neurológica funciona.

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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista