quinta-feira, abril 21, 2011

Alguém já ouviu falar de síndrome de Guillain-Barré?



Síndrome de Guillain-Barré (a partir de agora, iremos nos referir a esta doença com a sigla SGB), que nome difícil. Tão difícil, que parece um insulto. Mas na verdade, esta doença, também chamada por outro nome difícil, polirradiculoneuropatia inflamatória aguda, é uma das causas mais comuns de incapacidade em pacientes jovens, e muitas vezes sem doenças prévias.

Bem, vamos ao básico para você entender e não se complicar:

Já falamos que o sistema nervoso é composto de duas partes básicas - o central (cérebro, tronco cerebral e medula), e o periférico (nervos, raízes destes nervos, e músculos). Pois é, a SGB afeta esta última parte, os nervos e raízes. 

Aqui você vê o sistema nervoso central. O cérebro lá em cima, em forma de um capacete. O tronco cerebral (mesencéfalo, ponte e bulbo) liga o cérebro à medula, que vem logo embaixo, como um bastão. É da medula que saem os nervos, que ligam o cérebro à periferia do corpo, seus braços, pernas, pescoço, tronco. etc...

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Bem, e o sistema nervoso periférico é esse aqui ao lado.

Os feixezinhos em amarelo saindo da medula são os nervos. Eles saem da medula na forma de raízes, formam plexos que originam nervos, que vão os músculos, glândulas, etc...

E há vários tipos de nervos. Nervos motores puros, que só servem para fazer um músculo se mexer, nervos sensitivos puros, que só servem para transmitir a sensibilidade ao cérebro vinda da periferia (dor, tato, posição do corpo no espaço, etc...), e nervos mistos, que funcionam com as duas funções (são os mais comuns) e que ainda carregam nervos que fazem agir uma glândula, ajudam a fazer funcionar o coração, os intestinos, a bexiga, etc... (nervos autonômicos). Mais ainda, há uma capa chamada de mielina que encobre alguns nervos, ditos mielinizados (os mais grossos, e que transmitem informação a grandes velocidades, diferente dos sem essa capa, chamados de não mielinizados, de condução mais lenta, e de informação menos precisa). E olha um nervo aí:



Os axônios são o corpo do nervo. O gânglio é onde ficam as cabeças, os neurônios, de onde saem os axônios. E eles estão separados uns dos outros e protegidos pela mielina, que ajuda na condução rápida do nervo.

Pois bem, quando ocorre uma inflamação, e esta inflamação atinge as raízes e os nervos (esses aí de cima), levando a fraqueza nos quatro membros (o que chamamos de tetraparesia), perda de reflexos (reflexos são aquelas reações engraçadas que temos quando o neurologista bate com o martelo na nossa perna ou no nosso braço, e o braço ou a perna mexem sós, sabe?), formigamentos nas pernas ou nos braços, chamamos de polirradiculoneuropatia aguda, ou SGB.

E essa doença tem cura? Sim! Tem, para os que acham que neurologia cuida somente de doenças sem cura, essa tem! E não é difícil. A doença é rápida, e o tratamento também tem de ser. Então, caso você ou alguém conhecido apresente estes sintomas de fraqueza nos quatro membros (a fraqueza geralmente começa nas pernas e vai subindo para os braços, e mais raramente para o rosto), formigamentos sem perda de sensibilidade (há só a dormência, mas a sensibilidade à dor ou ao tato estão ok), ou fraqueza no rosto, deve ir imediatamente a um pronto-socorro, pois pode ser SGB (mas podem ser outras coisas também, e só o médico saberá dizer o que é).

O tratamento é feito à base de uma medicação chamada de imunoglobulina humana (anticorpos humanos) ou uma forma de diálise chamada de plasmaférese. Geralmente a doença para de evoluir em 2 a 4 semanas, e regride em semanas. Casos raros ocorrem em que a doença não para de progredir, ou re-aparece. A estes casos, raros, chamamos de polirradiculoneuropatia inflamatória crônica. Falaremos dela em outros tópicos.

Quais as possíveis consequências do diabetes no sistema nervoso?

O diabetes é uma doença conhecida por todos, e envolve, na sua forma mais comum, o tipo 2, aumento da glicose no sangue por conta da incapacidade das células do corpo de absorver e manusear a glicose (intolerância a glicose). Sua causa mais comum é a obesidade central (a famosa barriga).

O diabetes tem várias consequências ao corpo, e as neurológicas são bastante devastadoras.
Entre elas, podemos citar:

1. Derrame - O diabetes é uma das causas mais comuns de derrames juntamente com a pressão alta.

2. Neuropatia periférica - Se você é diabético, já deve ter sentido aquelas sensações de formigamento, choques, dores como alfinetadas ou queimação nas pernas e pés - pois é, esses são sintomas do acometimento dos nervos das pernas pelo diabetes, cuja tendência, caso a diabetes não seja controlada, é a piora progressiva.

3. Epilepsia - Sim, e vou explicar como. Diabetes leva a derrames, e derrames podem levar a crises convulsivas, e por conseguinte, epilepsia.

4. Perda visual - O diabetes tanto pode causar perda de visão por doença da retina, como por um coágulo que se desprende dos vasos do pescoço e vai para os olhos (embolia), o mesmo mecanismo que leva aos derrames.

5. Desmaios - O diabetes pode levar a doença da carótida, o vaso do pescoço e um dos que vão para a cabeça, e placas neste vaso podem levar a dificuldade de o corpo reconhecer quando a pessa está de pé ou deitada (o corpo faz isso também por meio de receptores na carótida, que sente mudanças na pressão sanguínea). Se estes receptores não sentem estas modificações direito por conta de placas, pode haver desmaio quando deitado se levanta rápido, por que a pressão não consegue aumentar a tempo. Este é um dos mecanismos de desmaio (síncope) em idosos e diabéticos.

Voltaremos a falar de diabetes depois.

segunda-feira, abril 18, 2011

Neuropatias periféricas

O sistema nervoso é composto basicamente de duas partes, o sistema nervoso central, composto de cérebro, tronco cerebral e medula espinhal, e o periférico, composto dos nervos periféricos que saem da medula e músculos.
Neuropatias periféricas são as doenças que acometem justamente as ramificações da medula que ligam a medula e o cérebro às estruturas do corpo, os nervos. Várias são as causas de neuropatias, e vários são os tipos. Mas quais são os sintomas, o que eu posso sentir caso venha a ter uma neuropatia?
1. Geralmente os sintomas são lentos, ou seja, se desenvolvem em semanas a meses. Algumas formas se desenvolvem em horas a dias, como as polirradiculoneuropatias, que acometem a parte mais próxima à medula (as raízes dos nervos) e os nervos, como a síndrome de Guillain-Barré, que dá uma paralisia que sobe das pernas para os braços, em horas a dias.
2. Fraquezas em braços e pernas, ou em mãos e pés, com atrofia (perda da massa muscular) ou diminuição do tônus (membros ficam mais moles).
3. Dormências, formigamentos em localizações específicas do corpo, como territórios de nervos (por acaso, você já dormiu sobre o braço e acordou com a parte de dentro do braço dormindo? Ou acordou à noite e a mão toda estava dormindo? Ou saiu de uma posição sentada, em que você estava cruzando uma perna sobre a outra, e uma parte do dorso do pé parecia dormindo? Ou fraco? Pois é, você produziu uma neuropatia periférica transitória por compressão, as forma mais comuns de neuropatia)


Toda vez que você sentir algo igual que não melhorar em horas (não espere muito), vá imediatamente ao hospital. Pode ser uma neuropatia, e como disse antes, há várias causas.

sábado, abril 09, 2011

Perda visual súbita

Esse assunto compete mais ao oftalmologista, mas nós, neurologistas, não raro atendemos pacientes com perda súbita de visão.

A perda visual é dramática, pois acomete um dos sentidos mais importantes do corpo, justamente a visão. Fora isso, são várias as causas, muitas tratáveis e mesmo curáveis, sendo que o reconhecimento precoce da causa auxilia em evitar a cegueira em muitas situações.

Entre as causas oftalmológicas, as mais importantes são o glaucoma (pressão ocular aumentada), o descolamento de retina (mais comum pós-trauma e em diabéticos) e a catarata (que se desenvolve mais devagar que as outras causas), mas doenças da córnea, e da parte de trás do olho (uveíte) também ocorrem.

Entre as causas neurológicas, citam-se:
1. A isquemia retiniana, ou AVC retiniano, causado por deslocamento de um coágulo de um vaso do pescoço (carótida) para o olho, e é o equivalente ocular do derrame cerebral. Causa perda súbita e indolor da visão.
2. A NOIA (Neuropatia óptica isquêmica anterior), que causa perda visual súbita e indolor, também, e geralmente se manifesta como perda visual como uma cortina descendo ou subindo nos olhos, podendo haver perda transitória da visão com mudanças de postura da cabeça ou do corpo. Ocorre mais em pacientes idosos.
3. A neurite óptica, pode dar uma perda visual súbita ou progressiva dolorosa, geralmete de um olho só, mas raramente pode acometer os dois olhos, e é mais comum em pacientes jovens
4. Derrames da parte de trás do cérebro dão perda de visão indolor, súbita, mas que pode passar despercebida, ao menos que haja outros sintomas, como confusão mental, perda de força ou formigamentos.
5. Aneurismas cerebrais podem levar a perda de visão gradual devido a compressão do nervo que sai do olho (nervo óptico).
6. Déficit de vitaminas pode levar a perda visual indolor gradual também. Quem fez cirurgia bariátrica (de redução do peso) deve verificar como estão seus níveis de vitaminas e de cobre no sangue periodicamente com o médico que os operou, para evitar complicações neurológicas da falta de vitaminas.

Há várias causas para perda visual. Se esta ocorre, deve ser investigada imediatamente, para poder-se tratar, e mesmo curar o problema.

quarta-feira, abril 06, 2011

Tremores

Tremores são movimentos de oscilação, ou seja, um membro, o pescoço, a mandíbula, ou outra parte do corpo, oscila de forma alternada (como nos braços, onde o tremor pode girar de um lado para outro).

Quando se pensa em tremor, sempre vem à cabeça doença de Parkinson, não é mesmo? Mas na verdade, esta doença é só uma das várias causas de tremor. De fato, o tremor mais comum é uma forma geralmente hereditária (o que significa que deve haver mais pessoas da sua família afetadas, ou você terá pessoas afetadas, como filhos ou sobrinhos) denominada de tremor essencial. É um tremor que aparece geralmente na adolescência ou no começo da vida adulta, dos dois lados, geralmente mais nos braços, pode acometer a cabeça, não é perigoso, e de fato a progressão é lenta e benigna. Piora quando se segura algo, ao se escrever, quando sob estresse, e melhor, entre outras coisas, quando se está em repouso ou quando dormindo.

O tremor da doença de Parkinson geralmente é de repouso, ou seja, aparece quando o membro (geralmente o braço, mas pode ser a perna também) fica sem mexer, como quando se está sentado, ou andando. O tremor é mais grosseiro, menos frequente que o essencial, começa mais de um lado e acaba indo para o outro em meses a anos.

Outras formas de tremor podem existir. Quando você está segurando algo pesado com um braço só numa posição incômoda, seu braço pode tremer. Quando se está com frio, você treme também, mas o corpo todo. O tremor pode aparecer quando sob estresse ou ansiedade, quando se toma muito café ou guaraná, sob efeito do álcool, ou em doenças sistêmicas como o hipertireoidismo (quando a tireóide fica muito ativa).

Se você tem algum tipo de tremor, vá ao neurologista e discuta as possíveis causas com ele.

sábado, abril 02, 2011

Esclerose múltipla

Esclerose múltipla (EM) é uma doença descrita há mais de 100 anos, e ainda hoje é um mistério. Geralmente começa de forma súbita, com perda de força em algum dos membros, ou perda de força nas pernas, ou dificuldade para falar, ou perda visual, ou perda de sensibilidade em algum membro. Costuma acometer mais pessoas jovens, apesar de pessoas mais velhas e mesmo crianças raramente poderem ser afetadas. É mais comum em mulheres.
Sua definição é de uma doença auto-imune, ou seja, o sistema imunológico da pessoa ataca as células e terminações nervosas do cérebro e da medula espinhal.Os neurônios ficam sem comunicação uns com os outros, ou com lentificação da mesma. Ao longo de anos, pode ocorrer morte de células cerebrais.
A doença geralmente evolui em surtos, na forma chamada de remitente-recorrente (RR). Há surtos de perda de força ou algum outro déficit, que devem ser tratados de forma urgente para evitar ao máximo possível sequelas. Estes surtos geralmente duram mais de 24 horas, e levam a sintomas e sinais visíveis ao exame neurológico.
Em pacientes já com o diagnóstico, ocasionalmente quando sob estresse físico, calor ou banho quente, pode haver piora do quadro que geralmente é reversível - não é surto, e é chamado de fenômeno de Uthoff. Se, no entanto, a piora demorar, deve ser avaliada o mais urgente possível.
Estes surtos podem se somar, e levar a um quadro mais generalizado ao longo de vários anos (podendo ser décadas).
O diagnóstico deve ser feito por neurologista, com ressonância magnética de crânio e exame do líquido da espinha (líquor).
Falaremos mais em próximos artigos.

domingo, março 27, 2011

Meningite em adultos


O cérebro é coberto não só por osso e pele, mas por três camadas de tecido chamadas de meninges. Elas envolvem o cérebro, e auxiliam não só na diminuição de traumas, mas evitando a entrada de elementos nocivos à saúde do cérebro, como bactérias e outros microorganismos.

Lá vai uma figura do cérebro com as meninges, para ilustrar o que quero dizer:



https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8CcuwmdQQ7_gJlAw7W8ilKJsGWEZd_FLjws_TnBMzTnfsxBx4TEnl81Kkz8cSaipwB52QDxEC6vjfQLzcQ1C1a1sglL0xtimSINjejf6GcEc31Fm357o_ilaLXqg6XPUwZo3j53nSO-U/s400/meningite.jpg
Mas em certas situações ocorre justamente a infecção destas estruturas chamadas de meninges, e daí vem o termo  Meningite. Há vários tipos de meningite, dependendo da causa, sendo que temos as bacterianas, as virais, as causadas por fungos, as assépticas (quando a causa não é por microorganismos, mas por inflamações outras), por tuberculose, etc...

Um quadro de meningite é sempre uma situação grave, pois leva a febre, nuca rígida, e alterações mentais. A meningite bacteriana é a forma mais grave. Geralmente evolui com febre alta, dor de cabeça, confusão, nuca bem rígida, sudorese, mal-estar geral, vômitos e aumento da pressão na cabeça. Seu diagnóstico deve ser imediato, e seu tratamento ainda mais urgente. Quanto mais tarde se der o antibiótico, mais sequelas o paciente poderá ter após o tratamento da doença.

As meningites virais são mais benignas, na maior parte das vezes. Seu tratamento inclui repouso, analgésicos, e hidratação. Evolui com febre (mais baixa que a bacteriana), rigidez de nuca, dor de cabeça e alterações mentais. Pode também ser grave dependendo da causa, e se há ou não acometimento do próprio cérebro (virando uma encefalite).

Logo, se alguém na sua casa estiver com febre, dor de cabeça, nuca difícil de fletir, confuso, leve-o imediatamente ao médico (não espere!), pois pode ser uma meningite.

O diagnóstico é feito pela retirada do líquido da espinha, que pode vir normal em aparência nas meningites virais, ou parecido com leite nas bacterianas (o líquor normal parece água mineral). Uma tomografia sempre é necessária nestes casos, e a entrada do antibiótico deve ser imediata.

sexta-feira, março 25, 2011

Mas o que é distonia?

Distonia é uma síndrome (ou seja, não é uma doença, mas sintomas que ocorrem em várias doenças diferentes) que se caracteriza por contrações musculares involuntárias, sustentadas, de vários músculos que fazem movimentos contrários de uma extremidade ou de uma parte do corpo.

Para você entender melhor, imagine seu braço. Há os músculos que trazem o antebraço em contato com o braço e o ombro (flexores como o bíceps) e músculos que fazem o contrário, afastam o antebraço do ombro e do braço (os extensores, como o tríceps). Quando o bíceps contrai, ou seja, você faz o "muque", o tríceps relaxa, e quando você estica o braço, o tríceps contrai e o bíceps relaxa. Agora imagine estes músculos agindo ao mesmo tempo, de forma forte e forçada, sem você querer - pois é, isso é a base fisiológica da distonia. E isso pode ocorrer no rosto, na boca, na língua, no braço, na perna, no tronco, etc...

Nos próximos artigos, falaremos algo sobre outros tipos de distonia além da cervical.

Distonia cervical - Princípios para o leigo e o paciente

Distonia cervical (DC) é uma desordem neurológica de causas ainda desconhecidas e múltiplos desencadeantes, desde traumas periféricos e lesões cerebrais até a inexistência destes.
Caracteriza-se pela presença de movimentos involuntários do pescoço em várias posições e planos, podendo estes movimentos ser posturas fixas ou movimentos dinâmicos, havendo dor que muitas vezes domina o quadro clínico.
É uma desordem socialmente embaraçante, que faz com que muitos pacientes decidam se isolar de seu familiares, amigos e atividades, levando a transtornos psíquicos e depressão.

Como todas as doenças neurológicas, a distonia cervical não está isenta de pesquisas e mais pesquisas atrás de uma cura, ou pelo menos de um alívio dos sintomas, especialmente a dor, que em muitos pacientes parece ser a fonte maior de sofrimento.

Há várias medicações utilizadas com esse intuito, como os relaxantes musculares (tanto os de farmácia como o baclofen), anticolinérgicos e benzodiazepínicos, como o clonazepam e o diazepam. Mas a medicação que mais faz efeito nestes casos é mesmo a toxina botulínica.
O termo distonia cervical é um guarda-chuva, que abriga várias condições, que têm em comum movimentos involuntários da musculatura do pescoço, podendo evoluir para outras áreas, como ombros, membros superiores ou face. Ainda, a distonia cervical pode fazer parte de um quadro mais amplo, que pode ter se iniciado na face ou membro superior.

Várias são as doenças neurológicas que cursam com distonia cervical. Muitas ocorrem na infância e adolescência, e outras na vida adulta. Várias desordens genéticas, como a doença de Wilson e a doença de Hallervorden-Spatz podem se manifestar como distonia cervical. Traumas cervicais, lesões medulares ou cranianas, siringomielias podem se manifestar como distonia cervical. Logo, deve-se fazer o diagnóstico da causa, se houver, juntamente com o plano terapêutico.

Como já foi comentado, há vários tipos de distonias cervicais, sendo o mais comum o tipo onde há uma rotação da cabeça, ou para a direita ou para a esquerda. A este tipo de movimento, dá-se o nome de torcicolo (por favor, diferencie do torcicolo que se tem quando se dorme de mal jeito ou se dá um "jeito" no pescoço. Nestes casos, ocorre dor intensa e postura anormal, mas o quadro é agudo e resolve em horas a dias, e não costuma tornar a aparecer). Geralmente há, acompanhando este movimento, dor que pode ser de leve a intensa, em alguns pacientes sendo mais grave que o próprio movimento involuntário.

Em vários pacientes com torcicolo, há também o que chamamos de laterocolo, ou tilt, um desvio da cabeça para um dos lados, que pode ser leve a grave. Este tilt tende a ser contralateral ao torcicolo (torcicolo para direita, tilt para a direita, e vice-versa).

O paciente queixa-se de dificuldade para virar a cabeça para o lado contrário ao torcicolo, e há em alguns pacientes tremor em negação (de um lado para o outro) que é melhor quando o paciente vira a cabeça para o lado da distonia, e piora quando vira a cabeça para o lado contrário. O tremor tende a bater para o lado da distonia.

Laterocolo é o desvio da cabeça fazendo com que a orelha fique mais próxima do ombro. Pode ser para a direita ou para a esquerda, e pode vir acompanhado de elevação do ombro do mesmo lado do desvio. Leva a bastante dor por tensão do músculo elevador da escápula, um pequeno músculo localizado na parte de trás do pescoço e que auxilia a levantar o ombro, e do músculo trapézio, que vai da nuca até o meio das costas de ambos os lados.

Esta forma de distonia cervical resume-se a um deslocamento cervical para a frente, tanto um deslocamento anterior como uma queda do pescoço. É a forma mais difícil de tratar, pois os músculos envolvidos são profundos, e de difícil aplicação com a toxina botulínica.

Devido aos vários diagnósticos diferenciais, incluindo doenças musculares (miopatias), miastenia gravis, síndromes miastênicas (com fraqueza muscular), doença de neurônio motor (como a esclerose lateral amiotrófica e a atrofia espinhal progressiva, além da atrofia bulbar progressiva), derrames ao nível do bulbo, doenças da coluna cervical, como malformação de Arnold-Chiari e siringomielia, e outras, deve-se fazer um extenso estudo, com ressonância de crânio e cervical e eletromiografia, ao menos que exames acurados demonstrem contrações distônicas que favoreçam o diagnóstico clínico. O tratamento é o mesmo das outras formas de distonia cervical.
Retrocolo é a forma antagônica do anterocolo, ou seja, desvio posterior do pescoço para trás, por contrações tônicas, involuntárias do pescoço, que o trazem forçadamente para trás, com dores e contrações de vários músculos cervicais. Estes movimentos pioram muito quando o paciente anda ou escreve, e com movimentos como falar e engolir, e podem melhorar completamente quando o paciente deita de costas ou de frente, apoia-se em uma parede ou segura a cabeça por detrás com a mão, o que denominamos truque sensitivo, e que pode ocorrer em qualquer forma de distonia cervical.

Seu tratamento consiste na aplicação de toxina botulínica nos músculos afetados, mais comumente os músculos localizados na parte posterior do pescoço, como o trapézio, elevador da escápula, semiespinhais do pescoço e da cabeça, e longuíssimos do pescoço.

Parkinsonismo - O que é?

James Parkinson foi um médico de uma comunidade rural da Inglaterra, que em 1817 publicou um livro relatando 6 casos de uma nova doença por ele descoberta, e a qual ele chamou de "paralisia agitante". Alguns anos após a morte de James Parkinson, o considerado Pai da Neurologia, Jean Martin Charcot chamou a doença de Doença de Parkinson. Os sintomas mais importantes desta doença são:
1. Tremor de repouso (quando o membro, braço ou perna. está descansando, ao longo do corpo, sobre uma cadeira, ou quando não está em movimento);
2. Lentidão (a chamada bradicinesia);
3. Rigidez (endurecimento das articulações que ocorre na doença);
4. Instabilidade postural (quedas e risco de quedas).

Mas outras doenças podem causar estes sintomas, não só a doença de Parkinson, e a estas doenças chamamos de parkinsonismos (ou seja, parkinsonismo é a ocorrência de bradicinesia com tremor de repouso e/ou rigidez, podendo haver quedas).

Entre os parkinsonismos, temos a própria doença de Parkinson, chamada de parkinsonismo primário (sem causa definida). Há outras formas, como:

1. Secundário - Causado por medicações, como os antipsicóticos e algumas medicações para labirintite, causado por traumas ou infecções da cabeça, ou exposição a tóxicos e drogas, ou causado por derrames, ou por hidrocefalia (acúmulo anormal de líquido na cabeça, ou causado por tumores, etc...)
2. Atípico - Doenças que parecem a doença de Parkinson, também sem causa, mas não são a doença de Parkinson (temos quatro doenças neste grupo, e poderemos falar delas após)
3. Heredodegenerativo - São os casos que acompanham outras doenças neurológicas, ou seja, o parkinsonismo não é o sintoma principal da doença, mas faz parte dela.
4. Genético - Algumas formas de doença de Parkinson podem ser causadas por mutações genéticas

Parece complicado, mas na verdade é simples. Com um pouco de paciência, qualquer neurologista pode explicar isso ao paciente sem preocupações.

quinta-feira, março 24, 2011

Saiba o que é a doença de Parkinson

Doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais comum do mundo (perde somente para a doença de Alzheimer (DA)), e suas características são bem diferentes das da DA. Na DP, o que se observa é tremor ou rigidez/lentidão de movimentos, que geralmente se iniciam de um lado só, e pouco a pouco (meses a anos) se espalham para o outro lado.

Os primeiros sintomas podem sr leves, que às vezes somente um observador bem cuidadoso pode ver, como um tremor bem pequeno e leve de um braço quando o paciente anda, ou o arrastar de uma perna, bem devagar e leve, ao caminhar, ou o não balançar um dos braços ao se caminhar, ou uma psotura do tronco levemente curvada para a frente, ou a falta de piscamento, ou de mímica facial, ou uma combinação destes sintomas.

A doença evolui bem lentamente, geralmente em 15 a 30 anos (bem variado mesmo), e pode levar a incapacidade progressiva e lenta. Mas o tratamento pode melhorar a qualidade de vida e fazer o paciente viver de forma normal ou quase normal por vários anos.

Cerca de 10 a 15% dos casos são genéticos (não necessariamente hereditários, ou seja, está nos genes mas pode não passar de geração para geração). O resto não tem causa conhecida, e muitas possibilidades existem quanto a causas da DP.

No próximo artigo, falaremos mais da DP e depois, em outros artigos, de doenças que simulam a DP.

terça-feira, março 22, 2011

Demências secundárias

Demências secundárias são as que possuem causa definida quando são bem investigadas. As causas variam, e a mais comum é doença vascular cerebral (derrame cerebral). Derrames podem causar demência, e não necessariamente precisam ser muitos derrames. Pode ser que um derrame único, mas grande ou localizado em uma região importante do cérebro leve a demência, ou pode ser que múltiplos derrames, ou múltiplos pequenos derrames ocasionem os sintomas de demência.

Hipotireoidismo (tireóide funcionando abaixo do normal) pode causar alentecimento mental, sonolência, moleza, sintomas semelhantes a depressão, e mesmo demência, em especial em idosos. A mesma coisa pode-se falar da sífilis, doença antiga, da época dos antigos gregos, e que ainda existe em nosso meio, causada por uma bactéria em forma de bastão alongado chamada de Treponema pallidum. Sua transmissão é por meio geralmente sexual (sexo sem camisinha com pessoas portadoras de sífilis), mas uma mãe com sífilis pode transmitir a bactéria para o feto durante a gestação. A sífilis possui três fases, chamadas de primária, secundária e terciária, essa levando anos ou décadas para se manifestar, e pode ocorrer como demência.

Traumas cranianos podem levar não só a lesões cerebrais (contusões e concussões), como podem levar à formação de hemorragias (hematomas) tanto dentro do cérebro (intraparenquimatosas) como fora dele (hematomas epidural, o mais externo; subaracnóideo, localizado no compartimento onde flui o líquido da cabeça; e o subdural, esse o mais comum em idosos). O diagnóstico é facilmente feito através de uma tomografia de crânio, quando pela história e pelo exame o médico suspeita de hematoma cerebral.

Meningites crônicas como as causadas pela tuberculose ou outras doenças crônicas, e infecções cerebrais durante a infecção pelo HIV (AIDS) também podem causar demência. Nestes casos, após uma tomografia de crânio, deve-se fazer um líquido da espinha atrás de anormalidades que indiquem a causa do problema.

Epilepsia pode ser causa de demência? Não necessariamente, mas crises contínuas, ou seja, que não param, e que podem persistir por dias mesmo sem abalos ou mesmo sem o paciente se debater (chamadas de status epilepticus não convulsivo) podem ocorrer e levar somente a confusão mental persistente, sendo o diagnóstico feito através da suspeita pela história e pelo exame clínico, e por um eletroencefalograma.

Outras doenças mais raras podem levar a demências secundárias. E nem sempre uma demência secundária é tratável. A investigação deve ser pormenorizada, feita logo que se detecta o problema, para que as consequências sejam mínimas. E a investigação deve ser feita por um neurologista.

Demência - Definições para o leigo

Demência é uma condição em que ocorre progressiva perda de funções mentais que antes eram normais. Ou seja, ocorre perda de memória e/ou de cálculo e/ou de orientação espacial (incapacidade de se orientar em locais antes conhecidos) e/ou reconhecimento de pessoas e/ou capacidade de comunicação verbal (linguagem, tanto falar o que se quer quanto entender o que nos é falado) e/ou modificação de personalidade ou comportamento, e outros tantos sintomas que podem ocorrer. Perceba que o e/ou significa que pode haver uma combinação de déficits em uma mesma pessoa.

Como disse no início, estas perdas são progressivas, ou seja, demência não ocorre de uma hora para outra. Em casos nos quais o paciente, geralmente idoso, tem alterações agudas ou subagudas (horas a dias) de suas funções mentais, denomina-se delirium ou estado confusional agudo (não confundir com delírio, que é um sintoma psiquiátrico), e é um quadro urgente, tendo o paciente que ser visto imediatamente por um médico, pois as causas são variadas, podendo ser graves, como infecção pulmonar ou renal, ou mesmo um derrame, e são geralmente tratáveis, se não curáveis. Já a demência geralmente evolui por meses a anos, é causada por doenças de evolução geralmente lenta, sua evolução não é súbita, e a maior parte dos casos não tem cura.

Pacientes demenciados podem ter piora aguda de sua demência, ou seja, podem ter um quadro de delirium, que pode ser causado por infecção pulmonar, renal, escara infectada, gripe ou qualquer doença infecciosa aguda, problemas de sangue (queda de sódio ou cálcio), ou insuficiência renal. Ou os pacientes pode ter crise convulsiva, derrame ou outras doenças agudas durante a demência, o que pode complicar o quadro.

Entre as demências, temos as chamadas primárias e as secundárias. As primárias são as que não se conhece a causa. São principalmente a doença de Alzheimer, e uma doença rara chamada de demência fronto-tempoal (falaremos sobre ela em outro tópico).

Entre as demências secundárias, a mais comum é a demência vascular (causada por um ou vários derrames). Há também a demência causada por problemas de tireóide, hematomas da cabeça, traumas cranianos, hidrocefalia (aumento dos compartimentos de líquido da cabeça), tumores cerebrais, sífilis, deficiência de vitamina, alcoolismo, e outras causas mais raras.