segunda-feira, dezembro 19, 2011

O que é a doença de Wilson?




O cobre é um elemento químico classificado como um metal, de extrema utilidade no corpo como outros metais como o ferro, o cobalto, o selênio e o zinco. O cobre funciona como um cofator, ou seja, uma substância essencial para o funcionamento de outra substância, geralmente uma enzima, proteína que auxilia (catalisa) em reações químicas no corpo.

O cobre entra no corpo através do trato digestivo. Alimentos ricos em cobre são as ostras, fígado de vaca e de cordeiro, castanha do Pará, cacau (e logo, o chocolate), pimenta preta, lagostas, nozes, semente de girassol, azeitonas verdes, abacates, cereais de trigo, e caramelo derivado da queima do açúcar (Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Copper).

O cobre necessita ser removido quando em excesso, devido a riscos de lesão celular do fígado e acúmulo de cobre em vários órgãos, entre eles o cérebro, se as concentrações de cobre se elevarem serm controle. A proteína que transporta o cobre para ser removido chama-se ceruloplasmina. E é a partir daí que nossa história começa.

Algumas pessoas nascem com mutações justamente na enzima que faz o transporte do cobre para a ceruloplasmina, a ATP7B. Mais de 300 mutações já foram descritas. A doença que causa isso chama-se doença de Wilson, em homenagem a Samuel Alexander Kinnier Wilson, médico britânico que descreveu a doença em 1912, 25 anos antes de sua morte em 1937.


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/56/Samuel_Alexander_Kinnier_Wilson.jpg/220px-Samuel_Alexander_Kinnier_Wilson.jpg

Este é o Dr. S. A. Kinnier Wilson.

A doença de Wilson, portanto, leva ao acúmulo de cobre em várias parte do corpo, como o fígado, o cérebro e a córnea. Os rins e o coração também podem ser afetados. 

Na córnea, o depósito de cobre leva à formação de um anel chamado de anel de Kayser-Fleischer, em homenagem aos médicos que o descreveram. Observa-se um anel amarronzado ou esverdeado na parte externa, periférica, da córnea.

Observe abaixo:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/00/Kayser-Fleischer_ring.jpg
Um outro sinal, mais raro, mas diagnóstico é a catarata em girassol, presente no cristalino ou lente do olho.

Observe abaixo:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyGgc2iawWTSP9OJeRoKjFVuYcIJFSIeywzH6ThH4Zh31OlTocWxCtxYcWX3t5BNsSRoIbuFeshAL3lnhiyr_fcILmkSnYY_mqhMgMh601nZG_cQOL8bPCFFGdxsuXSci92z_x7zek9dcu/?imgmax=800

Os sinais da doença geralmente se manifestam na infância, adolescência ou no início da vida adulta, e podem evoluir de forma rápida. Logo, um diagnóstico rápido e preciso evita complicações mais importantes. Mas quando o diagnóstico é feito, já podem ter se desenvolvido sequelas neurológicas que podem resolver somente parcialmente. Noutros casos, com o tratamento os sinais neurológicos desaparecem parcial ou completamente.

A doença pode se manifestar também como quadros psiquiátricos, com alucinações, deterioração mental (demência rapidamente progressiva, como nós neurologista podemos chamar), alterações de comportamente, agressividade e psicose. Depressão e ansiedade podem ocorrer.

Problemas de fígado são frequentes, sendo a complicação mais grave a cirrose, ou seja, a degeneração do fígado. Casos raros (menos de 5% dos casos de uma doença já considerada rara) podem abrir o quadro com falência do fígado de forma aguda, e mesmo morte precoce. Os problemas do fígado podem ser tratados com as medicações usadas na quelação do cobre, ou seja, retirada do cobre da circulação. 

Mas o que nos interessa aqui são as complicações neurológicas. Pacientes podem desenvolver tremores, movimentos como distonia (veja neste blog tópico sobre distonias), parkinsonismo (tremor de repouso, lentidão e rigidez) e outros movimentos mais raros, como coreias (veja neste blog também tópico sobre coreia). Epilepsia pode ocorrer em alguns pacientes. Os sinais, como já falado, podem desaparecer com o tratamento, especialmente se iniciado de forma precoce, ou pode, permanecer residualmente como sequelas, que podem ser maiores ou menores.

O diagnóstico é feito, inicialmente, com a suspeita clínica, que se constrói com história, exame neurológico, e conhecimento da doença. O achado do anel de Kayser-Fleischer em criança, adolescente ou adulto jovem com um quadro hepático (do fígado), psiquiátrico ou neurológico rapidamente progressivo é virtualmente patognomônicio, ou seja, quase dá o diagnóstico em 100% dos pacientes. Exames como medida da ceruloplasmina sérica, que estará baixa, e do cobre urinário em amostra de urina de 24 horas, que estará alto, devem ser feitos. Ressonância magnética do crânio, na vigência de suspeita forte da doença, mostra sinais característicos.

http://ts3.mm.bing.net/images/thumbnail.aspx?q=1517037828314&id=726e0ed3ac2c1df4a8cf58e267773cf6

Esta imagem de ressonância mostra vários focos de aumento de sinal (áreas esbranquiçadas) no cérebro, e que, com um pouco de imaginação, na figura de cima à direita, desenha a face de um panda, daí o nome de "sinal do panda gigante".

Essa imagem fica melhor nessa foto:
http://www.nature.com/nrneurol/journal/v2/n9/images/ncpneuro0291-f5.jpg
Agora até que parece um panda, mesmo.

A face clássica de um paciente com doença de Wilson, mostrando o sinal chamado de "risus sardonicus" ou riso sardônico. Dá para ver também o anel de Kayser-Fleischer e anormalidades na ressonância de crânio (imagens esbranquiçadas no centro do cérebro):

http://ts2.mm.bing.net/images/thumbnail.aspx?q=1441169682313&id=db0d649136c8f53f3125c3637fa18688

Este vídeo, tirado do youtube (e portanto, público), mostra um paciente estrangeiro (acredito que indiano), com um tremor típico da doença de Wilson, o tremor em bater de asas (wing-beating tremor):


                                                                                                                                                                                                                        
E quanto ao tratamento? Sim, há tratamento, mas depende, como disse, de um diagnóstico rápido e preciso. Pode-se fazer o tratamento com drogas como a D-penicilamina, o sulfato ou estearato de zinco, e o trientine. Mas doses, modo de usar, quando usar, e complicações do tratamento fogem ao escopo deste blog, que pretende ser somente informativo, nunca ferramente de diagnóstico ou tratamento. Logo, fale com o seu médico sobre isso.

Evitar alimentos ricos em cobre, como os citados acima, é interessante, e deve ser discutido com o médico assistente também.

Por último, para pacientes com sequelas, fisioterapia, terapia ocupacional e fisiatria são acompanhantes úteis na melhora do paciente e retorno ao convívio familiar e social. Apoio psicológico pode ser útil.

Para pacientes com sialorreia, ou seja, acúmulo de baba por déficit na deglutição, o uso de medicações, ou mais apropriadamente, o uso de toxina botulínica (Botox, mais conhecido para os leigos) pode ser indicado.

sábado, dezembro 17, 2011

Encefalite herpética

Antes de explicarmos o que é isso, vamos explicar o que é encefalite. Encéfalo é o nome que se dá ao conjunto cérebro + cerebelo + tronco cerebral. Observe abaixo o encéfalo:


 http://www.iesabastos.org/archivos/daniel_tomas/1bachillerato/nervioso/encefalo.jpg


Lá vai outra imagem, desta vez uma imagem real de um encéfalo de verdade:


http://www.akisrx.com/articoli/encefalo/encefa2.jpg
Seu encéfalo é assim mesmo.


Muito bem, o sufixo ite em medicina significa inflamação ou infecção. Logo, encefalite é um quadro de inflamação/infecção do encéfalo. Suas causas são as mais variadas, desde infecções virais e bacterianas até doenças auto-imunes (causadas pelo sistema imunológico da própria pessoa) e doenças inflamatórias relacionadas a várias formas de câncer, comi a encefalite límbica. Mas essa é outra história. E encefalite é diferente de meningite, que é a infecção das meninges, as camadas de cobertura do cérebro, e que podem levar a encefalite se a inflamação chegar na estrutura do cérebro.


Mas o que é a encefalite herpética? É justamente a infecção cerebral pelo vírus do herpes, geralmente o vírus do herpes simples tipo 1, o mesmo que causa aquelas bolhinhas chatas na boca. Mas não se desespere, essa doença é rara, e não há necessidade de ter herpes labial para se ter a encefalite. Muitos pacientes nunca apresentaram as lesões de lábio, e apresentam a doença cerebral. Isso por que o vírus do herpes simples tipo 1 é altamente prevalente no mundo. A incidência anual, ou seja, o número de casos novos por ano de encefalite herpética, nos Estados Unidos é de 2 em cada 1 milhão de pessoas por ano. Viu como é rara?


A doença pode ocorrer em qualquer pessoas, mas as mais afetadas são as de meia-idade (acima de 50 anos de idade). Há casos descritos em crianças.


A encefalite pode levar a confusão, febre e crises convulsivas numa pessoa antes normal. Na verdade, isso caracteriza uma encefalite, ou seja, crises convulsivas e confusão mental. Geralmente a instalação da doença é em questão de dias. Se isso ocorrer com alguém de sua família, você deve ir imediatemente a um médico, de preferência um pronto-socorro. A doença, apesar de rara, é grave, e deve ser tratada com antivirais pela veia, com o paciente internado.


O diagnóstico é feito pela história e exame do paciente, tomografia e/ou ressonância magnética, líquor da espinha e eletroencefalograma, sendo que é a união dos achados de cada exame que dão o diagnóstico. Como quase qualquer vírus pode dar encefalite, e aqui no Brasil o herpes é o mais comum, o diagnóstico de qual vírus causou o problema deve ser feito com uma técnica chamada de PCR (Polymerase Chain Reaction) pelo líquor da espinha, onde tenta-se achar partículas que identifiquem o vírus no líquor.


Outros vírus, como Epstein-Barr (o que produz a mononucleose infecciosa), caxumba, sarampo, rubéola, citomegalovírus, podem dar encefalite também, mas são ainda mais raros.


E aqui vai uma foto do herpes vírus tipo 1:


https://encrypted-tbn3.google.com/images?q=tbn:ANd9GcS0__cJDlYvNE_OgrnqyoADNTiVK1MxffKgoZXB99z9cnYjG35xcg


Uma imagem de ressonância magnética de uma encefalite herpética:


 http://img.medscape.com/pi/emed/ckb/neurology/1134815-1164631-1165183-2005979.png 
Essa é uma imagem de ressonância, como dito acima. As estruturas arrendondadas lá em cima na imagem são os olhos. Observe o lado esquerdo da figura, que corresponde ao lado direito do paciente. Olhe que logo abaixo do olho, há uma imagem esbranquiçada que se estende da parte do cérebro logo atrás do olho, o polo temporal, até mais ou menos o meio do cérebro. Nessa sequência chamada de FLAIR (FLuid-Attenuated Inversion Recovery), que vê tudo o que for inflamação e aumento de água como branco, essa imagem esbranquiçada é a encefalite, ou seja, a inflamação cerebral, causada pelo herpes vírus.


E a encefalite tem cura? Se tratada corretamente, sim, na maior parte das vezes, podendo ocasionalmente ocorrer sequelas, como crises convulsivas (epilepsia), perda de memória, alterações de comportamente ou quadros psiquiátricos. Mas esta informação eu deixo para um médico experiente, em consulta, detalhar melhor.

O que é a síndrome de Brown-Séquard?

Mais um nome estranho, você pode dizer. Mas esta é uma das síndromes medulares mais importantes, e seria interessante você ler o tópico anterior antes de ler este.

Na medula, várias fibras sobem e descem, indo de um lugar para outro, vindo e indo para todas as partes do corpo, e vindo e indo para o cérebro. Mas nem tudo é linear. As fibras se cruzam em algum momento, ou na medula ou quando chegam no cérebro, e o que era direita vira esquerda, e vice-versa. Há um tópico explicando isto neste blog.

Há três tratos (grupamentos de fibras) muito importantes na medula:

1. O trato corticospinhal, que é quem permite a movimentação do corpo, vindo do cérebro, cruzando no tronco cerebral de um lado para outro, e indo dos nervos para os músculos;

2. O trato espinotalâmico lateral, que vem da pele do corpo todo, entra na medula nos vários níveis, já cruza ali mesmo ao entrar ou logo após, ainda dentro da medula, de um lado para outro, e vai direto para o cérebro;

3. Tratos do funículo posterior, que trazem informações sobre vibração e posição do corpo, entram na medula em vários níveis, sobem e cruzam no tronco cerebral para o outro lado, indo depois ao cérebro.

Observe abaixo:

Este é o trato corticospinal (o mais importante é o lateral, aqui o mais grosso de todos, e que vai cruzar lá em cima, já no tronco cerebral):

http://media.web.britannica.com/eb-media/42/55942-004-864AA8DF.jpg 

Este é o trato espinotalâmico, que cruza quase que imediatamente ao adentrar a medula:

http://grants.hhp.uh.edu/clayne/6397/Unit5_files/Unit5.4.jpg 

E este é o trato do funículo posterior, que assim como o trato corticospinhal, cruza lá em cima, no tronco cerebral:

http://grants.hhp.uh.edu/clayne/6397/Unit5_files/Unit5.3.jpg 

Muito bem, então temos dois tratos que sobem toda a extensão da medula no mesmo lado e cruzam já no cérebro, e um trato que cruza logo ao entrar na medula. Entendido? Perfeito!

E se nós lesássemos somente um lado da medula, ou seja, uma hemissecção medular? Como na figura abaixo:

http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS8gkc3jtCzM_6kOnBlqP2v9jatq5alLhfKSFxwvMto1BJLVxmehg 
Teríamos então, abaixo do nível da lesão:

1. Perda de força do mesmo lado da lesão - O trato corticospinhal só vai cruzar lá em cima
2. Perda de sensibilidade profunda, ou seja, vibratória e de posição, do mesmo lado da lesão - Os tratos posteriores cruzam somente lá em cima também.
3. Perda de sensibilidade geral (dor, temperatura e tato) do lado contrário à lesão - O trato espinotalâmico cruza logo ao entrar na medula, e portanto, ao se corta um lado da medula, corta-se o trato que vem do outro lado.

Esta é a síndrome de Brown-Séquard, em homenagem ao médico que a descreveu, Charles-Édouard Brown-Séquard:


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAWpj48x7oV5JcogC-J8koGBZNhknWTe3ZurTvYfgC4RSUPGmMaP8gT0gbGLNoe9rXgjNHN7raTcWDHwl8_7RmS4W8soi2qFA-drAbMswltkRa2GBMKMbruqGR2ocSlAdwcuCAgDkoBmw/s1600/Charles-%25C3%2589douard_Brown-S%25C3%25A9quard.jpg 

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Lesões medulares - Algumas informações

Há um tópico neste blog sobre medula espinhal (Leia aqui). Neste novo artigo, falaremos mais sobre lesões medulares, seus motivos e suas características clínicas, tudo em linguagem fácil e acessível.

Como já dissemos, a medula é um órgão alongado e cilíndrico dentro do canal vertebral, um canal ósseo protetor. A medula é ainda envolta por camadas, as meninges, assim como o cérebro, e as meninges são ligadas ao osso por ligamentos. Da medula, saem (nervos motores) e entram (nervos sensitivos) os nervos que vão inervar os membros, o tronco e alguns órgãos internos.


Esta imagem (endereço: http://files.fisiotersaude.webnode.com.br/system_preview_detail_200000132-45c4a46c17-public/medula%20espinhal.jpg) demonstra a medula dentro do canal vertebral envolta pelas meninges, e com os nervos saindo e nela entrando.

Esta outra imagem (endereço: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/imagens/medula-espinhal-1.jpg) mostra melhor a medula cortada transversalmente, demonstrando a substância branca (onde ficam as fibras que sobem e descem a medula) e a substância cinzenta (onde ficam os corpos dos neurônios que recebem e enviam nervos à periferia):


Agora, observe abaixo um corte medular demonstrando todos os tratos de fibras que sobem e descem pela medula (endereço: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/imagens/medula-espinhal-3.gif):


São muitas as fibras que andam pela medula, não? Os tratos em vermeho são os eferentes, ou seja, os que produzem movimento, os que levam a nervos que saem da medula para os músculos. Os em azul são os aferentes, ou seja, os que são formados por nervos que vêm da periferia, os nervos sensitivos, e entram na medula. Há tratos sensitivos e motores dos dois lados, e eles estão segregados nesta figura para facilitar sua compreensão.

Nesta figura, observe o trato de número 1a. Este é o trato motor mais importante, o trato corticospinhal lateral ou trato piramidal, o que produz movimento, e é este que, quando lesado por uma lesão medular, perde sua capacidade de produzir movimento abaixo do nível da lesão, levando a paraparesias ou tetraparesias (ou paraplegia e tetraplegia quando a fraqueza é completa). Há um tópico neste blog para explicar estes termos (Veja aqui).

Já o trato de número 5b é o mais importante quando se trata de sensibilidade, o trato espinotalâmico anterior. A lesão deste trato leva à perda de sensibilidade para toque, dor e temperatura abaixo da lesão. Os tratos de número 3a e 3b são localizados na parte de trás da medula, os chamados tratos posteriores, e sua lesão leva a perda de sensibilidade vibratória, tato fino, pressão e capacidade de localização do membro no espaço (artrestesia) abaixo do nível da lesão.

Tudo entendido por enquanto?

Muito bem! O que causa uma lesão medular? Quais são suas causas?

A mais comum, de longe, é o trauma raquimedular, o trauma contra a medula espinhal, por acidente de carro (mais comum), quedas, armas de fogo ou armas brancas (facas e outras do tipo). Mas há outras causas tão importantes quanto:

1. Mielite transversa - É o termo dado à inflamação da medula, que pode ser causada por várias doenças, as mais comuns sendo a esclerose múltipla e as infecções virais pelos vírus citomegalovírus e herpes vírus.


Nesta figura (endereço: http://4.bp.blogspot.com/_cmG-Ie9CYXs/TSjQ0KvrH3I/AAAAAAAAAM4/8yMa_X0EyaQ/s1600/mt.jpg) você observa a medula (esta estrutura acinzentada em meio a um espaço branco em uma imagem de ressonância magnética) com um foco de alargamento de sua estrutura, sendo este foco mais claro que o resto da medula - este é o sinal de uma mielite transversa.

Esta outra imagem (Endereço: http://www.nature.com/sc/journal/v42/n4/images/3101517f1.jpg) mostra mais exemplos, ainda mais extensos, de mielite transversa:


2. Compressão medular - Por lesão externa, como abscessos (coleções de pus envoltas por uma membrana) e hematomas (depósitos de sangramento). Ao mesmo tempo, tumores de fora da medula podem comprimir a medula, como tumores ósseos, metástases (lesões à distância de um foco de câncer) e tumores de nervos, como os neuromas dos nervos que saem e entram na medula.

Esta imagem (Endereço: http://www.aafp.org/afp/2002/0401/afp20020401p1341-f2.gif) mostra o esquema de um abscesso comprimindo a medula de trás para a frente, e da direita para a esquerda:



3. Lesões ósseas como fraturas vertebrais podem comprimir a medula. Observe a figura abaixo, tirada deste endereço: http://www.healthcentral.com/common/images/1/19310_13477_5.jpg


4. Tumores medulares, como ependimomas, astrocitomas e oligodendrogliomas, são tumores primários (ou seja, que nascem na própria medula, diferente das metástases ou lesões secundárias, que são tumores que vêm de outro lugar distante, como próstata no homem, ou ovário na mulher) que crescem dentro da medula, e podem causar lesão medular. Observe abaixo:


Esta figura, que veio do endereço http://rad.usuhs.edu/medpix/include/medpix_image.php3?imageid=42792, mostra a medula hiperalargada por conta de um tumor primário, um astrocitoma pilocítico.

5. Hérnias de disco e alterações ósseas degenerativas, como as espondiloartroses (envelhecimento da coluna, com achatamento de vértebras, formação de "bicos de papagaio" e espessamento de ligamentos) graves, podendo causar o que chamamos de estenose de canal medular e mielopatia espondilótica. Estas alterações são lentas, progressivas, desenvolvem-se ao longo de anos, mas podem piorar subitamente no caso de um trauma, como uma queda de cabeça ou um acidente automobilístico, por exemplo. Sobre hérnias de disco, há 3 tópicos neste blog. Mas, observe abaixo:


Endereço: http://jnnp.bmj.com/content/73/suppl_1/i34/F5.large.jpg

Nesta figura, observe que as vértebras (blocos de massa com alguns pontos brancos em seu interior) estão na frente da medula, e que de sua parte de trás saem espessamentos (hérnias de disco e ligamentos espessados). Além disso, logo atrás da medula, há também um ligamento espessado que toca sua face posterior, o ligamento amarelo. No final, o que se observa é um estreitamento do canal medular e compressão da medula, que pode acabar levando a mesão medular. Esta é uma imagem de ressonância magnética.


quinta-feira, dezembro 15, 2011

Exercício e o cérebro

Notícia tirada (e traduzida livremente) do Blog NerveBlog

Já foi falado aqui que o exercício físico é forte aliado na saúde cerebral. E aqui vai mais uma notícia sobre isso:

Nós todos sabemos que devemos ir à academia de ginástica para ficarmos sarados e de boa aparência, mas isso pode também melhorar sua cabeça?

Estudos recentes mostram que mesmo em cérebros normais saudáveis, exercícios forçados têm seus efeitos. Ratos que correram voluntariamente naquelas rodinhas colocadas em gaiolas (para ratos, sabe?) foram comparados a ratos forçados a correr em uma esteira (própria para ratos, claro). Mesmo embora os ratos que tenham corrido de forma voluntária o fizeram mais rápido, os que foram forçados a correr mostraram maior crescimento neural do giro denteado e tiveram melhor desempenho em testes cognitivos.

Exercícios forçados também parecem diminuir o risco de desenvolvimento de certas doenças neurológicas, e no caso da doença de Parkinson, parece aliviar alguns sintomas de algum modo. Pacientes com doença de Parkinson forçados a pedalar em uma bicicleta ergométrica a 90 rotações por minuto tiveram melhor controle motor corporal com um decréscimo em sintomas como micrografia (escrita cada vez menor) e tremores, quando comparados a controles que exerceram atividades menos pesadas, como andar ou pedalar de forma mais suave.

Estes desenvolvimentos vão certamente mudar a maneira como se trata esta e outras doenças neurológicas. Se você tem doença de Parkinson, fale com seu médico sobre isso.

Sequelas pós-AVC

Um AVC (acidente vascular cerebral) ou derrame, é um evento que impacta sobremaneira a vida de quem sofre e de quem convive com o paciente. Uma pessoa, antes plenamente ativa e funcional, inteligente e com fala/linguagem preservadas, de uma hora para outra vê sua vida se modificar, vê sua funcionalidade, sua capacidade laboral e criativa, e muitas vezes sua liguagem, serem afetadas. Diferente do infarto do miocárdio, que é evento tão devastador quanto, mas que quando não ceifa a vida de quem o teve leva a incapacidades funcionais que podem ser trabalhadas com o tempo, atividades físicas, e controle de hábitos, o AVC produz déficits neurológicos que podem ser permanentes, ou levar a sequelas que podem atrapalhas sobremaneira a vida do paciente.

Imagine um locutor de futebol que tenha tido um AVC que o leve a perder a capacidade de falar de forma fluente, ou o faça perder a capacidade de se comunicar. Ou um artista plástico que por um AVC ficou com um lado do corpo paralisado, e não pode mais desenvolver seu potencial artístico. Da mesma maneira, vários são os exemplo que podem ser dados.

Sequelas são justamente os danos, as lesões permanentes ou transitórias que ficaram após um dano cerebral, que pode ser por um trauma craniano, um surto de esclerose múltipla, uma infecçãi como meningite, ou um AVC. São variadas, tanto de intensidade como em relação às funções afetadas. Dependem da área do cérebrio danificada e da extensão de cérebro afetada.

As sequelas mais comuns são as paresias (ou fraquezas), geralmente de um lado do corpo, que podem evoluir com o enrijecimento do lado paralisado (espasticidade); perda de sensibilidade de um lado do corpo; dificuldades para falar (disartria) ou perda da comunicação (afasia); alterações de marcha (dificuldades para andar); alterações visuais (como a hemianopsia, discutida em tópico deste blog).

E como evitá-las? Evitando-se de ter um AVC, com exercícios físicos regulares, controle da pressão e da glicemia, evitar ou parar de fumar, e beber álcool em excesso, tratar a obesidade, diminuir o colesterol.

E se houver sequelas, o que fazer?

Daí, temos as intervenções na tentativa de reabilitação, como a fisioterapia, a fisiatria, a fonoaudiologia, a terapia ocupacional. Teremos mais temas sobre isto noi blog.

Por ora, fica o conselho: Evite um AVC, mantenha-se firme em sua determinação de saúde, vamos diminuir as sequelas que levam a incapacidade para o trabalho, e incapacidade até mesmo para a vida social e familiar.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Como o exercício físico melhora o cérebro?

Eu sempre oriento meus pacientes a fazerem atividades físicas, especialmente se eles reclamam de falta de memória. Aqui vai uma notícia que saiu no The New York Times sobre isso.

Um grupo de cientistas da Irlanda fizeram um estudo para ajudar a compreender por que exercícios físicos melhoram as funções cerebrais. Ele solicitaram a um grupo de universitários homens para fazer parte de um teste de memória após um teste físico vigoroso. 

Primeiro, os jovens assistiram a uma montagem de fotos com faces e nomes de pessoas estranhas. Após um intervalo, eles tentaram lembrar os nomes das pessoas à medida que iam vendo as fotos novamente. Depois, metades dos jovens foram solicitados a fazem atividade em uma bicicleta ergométrica de modo rítmico e vigoroso até a exaustão. Os outros ficaram 30 minutos sentados quietos.

Depois, ambos os grupos fizeram o teste de novo. Os voluntários que se exercitaram melhoraram muito no teste de memória em relação à primeira tentativa, enquanto que os que ficaram quietos não obtiveram melhora. 
Amostrar de sangue de cada voluntário também foram colhidas durante o teste. Imediatamente após a atividade física, os ciclistas tiveram um aumento nos níveis sanguíneos de uma proteína chamada de BNDF, ou fator neurotrófico derivado do cérebro, que promove a saúde dos neurônios. Os que ficaram sentados, nada.

O BNDF pode auxiliar a explicar o porquê que atividade físicas ajudam a melhorar o pensamento e o raciocínio, memória incluída. Mas não sabemos ainda quais partes do cérebro são afetadas ou como estes efeitos afetam o raciocínio. Este estudo irlandês sugere que o BNDF pode desempenhar um papel importante na melhora da memória e de sua evocação.

Outros estudos chegaram a conclusões semelhantes, mesmo em animais. Mesmo exercícios por tempos modestos, como 5 minutos, em ratos envelhecidos podem liberar BNDF, auxiliando a melhora da memória destes animais. Outros estudos em animais mostraram as mesmas coisas. O aumento de BNDF em áreas relacionadas à memória.

Muitos estudos mostraram que exercício físico aumenta os níveis de BNDF, além de vários outros fatores de crescimento. Mas o BNDF é o que demonstra a resposta maior e mais consistente.

Logo, quer melhorar a memória? Vá a um cardiologista, faça seus exames de rotina, veja se tudo está bem, e pratique atividades físicas. Mas se a perda de memória é séria, progressiva, e está atrapalhando muito a sua vida, procure também um neurologista.

terça-feira, novembro 22, 2011

Músico com memória de 10 segundos após infecção surpreende ciência

Notícia tirada do site da BBC Brasil - http://noticias.uol.com.br/bbc/


Por que uma pessoa que sofre de amnésia e perde a memória de quase tudo na sua vida consegue ainda reter conhecimentos musicais? A resposta pode estar no fato de que as memórias musicais são armazenadas em partes diferentes do cérebro que a de outras memórias.
Quando o maestro britânico Clive Wearing contraiu uma infecção no cérebro em 1985 - uma encefalite por herpes - ficou com uma capacidade de recordar apenas os eventos ocorridos 10 segundos antes. A infecção danificou uma parte do seu cérebro conhecida como lobo temporal médio.

Imagem tirada deste site - http://www.portugal-linha.net/arteviver/images/lobotemporal.jpg

A habilidade musical do condutor, no entanto, permaneceu intacta. Hoje com 73 anos, Wearing consegue ler partitura e tocar música no piano, e chegou inclusive a reger seu antigo coral.
Um grupo de cientistas alemães descreveu outro caso de um violoncelista profissional - identificado apenas como PM - que contraiu encefalite por herpes em 2005.
Incapaz de recordar as coisas mais simples - como a imagem de sua própria casa - PM manteve intacta a sua memória musical.


O lobo temporal médio do cérebro, severamente afetado em casos de encefalite por herpes, é "altamente relevante" para a memória de eventos e como, onde e quando eles ocorrem. Mas estes casos sugerem que as memórias musicais podem estar armazenadas em locais diferentes de forma independente no lobo temporeal médio.

Uma equipe de cientistas alemães também estudou o caso de um paciente canadense nos anos 1990 que perdeu toda a sua memória musical após uma cirurgia que danificou especificamente uma parte do cérebro chamada de giro temporal superior. O caso levou a equipe a sugerir que as estruturas do cérebro usadas para armazenar memória musical "devem ser o giro temporal superior ou os lobos frontais".

A manuntenção da memória musical pode auxiliar os pacientes a, relacionando atividades de sua vida diária à música, manter sua qualidade de vida. 

A memória musical é diferente dos outros tipos de memória. As atividades musicais envolvem diferentes partes do cérebro.

Por que achamos graça das coisas?


Artigo tirado do site The Boston Globe - http://www.bostonglobe.com/ideas/2011/11/20/why-our-brains-make-laugh/l0OWxVcnRpzfyIheFgab5N/story.html

Por que achamos as coisas engraçacas? E por que temos senso de humor?

De acordo com Matthew Hurley, da Tufts University, nosso cérebro toma conhecimento de nosso dia-a-dia via uma série de suposições intermináveis baseadas em infromações incompletas e esparsas. Ou seja, o cérebro toma palpites do mundo, o que nos simplifica o mundo, nos dá insight (conhecimento de si mesmo) crítico das mentes dos outros, e canalizam nossas decisões. Mas erros acabam por ser inevitáveis, e mesmo uma minúscula suposição errada pode abrir portas para erros maiores e mais custosos.

O humor talves seja uma pequena recompensa que o cérebro dá a sim mesmo por procurar e corrigir nosas suposições erradas. Assim, o senso de humor seria um atrativo que mantém nossos cérebros alertas para as falhas entre nossas suposições erradas e a realidade. Muito do que consideramos comédia tira vantagem deste refçelxo cognitivo. 

Em muitas situações, nossos cérebros são obrigados a antecipar constantemente o futuro fazendo suposições sobre o mundo em uma velocidade perigosa. Assim, pensamos muito sobre coisas sobre as quais ainda não sabemos, e damos nossos melhores palpites. mas isso preenche espaços mentais com lixo, pequenos erros, que podem iniciar uma cascata de erros se passarem despercebidos, levando-nos a gastar muita energia e recursos, e talve levando a verdadeiros desastres.

O ato de achafr e evitar estes erros é um trabalho crítico. Mas esta tem de competir com outras tarefas que nossos cérebros podem estar fazendo. Assim, o humor seria a recompensa do cérebro por descobrir seus erros de inferência, ou seja, seria uma auto-bajulação do cérebro.

No humor, não somente o cérebro descobre uma falsa inferência (erro), mas também simultaneamente recupera-se e se corrige. Pode-se ver isso em piadas quando, enquanto a ouvimos, temos a falsa impressão de algo que é errado, e que de repente nos é revelado como algo completamente diferente no final da piada. Após um brevíssimo momento de negatividade, com o "não é possível que seja assim", vem a risada, a gargalhada. 

A habilidade de detectar o humor nos torna melhores e mais aptos, além de reduzir os erros que fazemos e pensamos.

Mas o que é universal aqui não é o contexto do humor, como muitas coisa sengraçadas para uns não o são para outros, ou são para um grupo étnico e não são para outro, mas o processo do humor. Todos temos diferentes visões, crenças, bagagem de conhecimento e entendimentos do mundo. Diferentes bagagens levam a diferentes suposições em relação ao mundo, e diferentes maneiras de encarar algo que pode ou não ser engraçado.



quarta-feira, novembro 16, 2011

O cérebro, este órgão tão maravilhoso e tão desconhecido

Dentro de sua cabeça ocorrem centenas, milhares, milhões de reações químicas e transmissões de impulsos elétricos todos os dias. Descargas e liberação de neurotransmissores que deixariam qualquer eletricista doido (e doído, também). Várias são as substâncias envolvidas na função deste órgão tão desconhecido, e que devagarzinho vai sendo desvendado, o cérebro.

O cérebro é o local onde ocorre a formação da parte mais importante do ser, a consciência. Mas também aqui  desenvolve-se o que nos faz pessoas, a personalidade, nossos traços pessoais, a linguagem e nossos costumes, nossa maneira de ver o meio, inclusive a visão é processada no cérebro. Aliás, tudo o que ocorre com nosso corpo é processado no cérebro, e necessitaria escrever um livro para falar sobre tudo o que pode ser processado e apreendido no cérebro. Podemos dizer, sem medo de errar, que tudo o que sentimos, comemos, cheiramos, falamos e ouvimos, é processado pelo cérebro, e é o cérebro que faz a informação como nos a conhecemos e percebemos. 

O cérebro é composto de células, já discutidas neste blog em post anterior, e estas células fazem parte de núcleos e tratos, as fibras que vão de núcleos a outros. Os núcleos possuem os corpos celulares dos neurônios, as células que transmitem impulsos entre si, e são mantidas pela glia, as células de suporte. O cérebro possui grosseiramente falando uma substância branca, que na verdade é amarronzada, e uma cinzenta, que é bem mais escura que o cinza. A susbtância cinzenta possui os núcleos celulares, além dos núcleos que estão na profundidade do cérebro, enquanto que a substância cinzenta está bem na superfície. A substância branca contém as fibras dos neurônios, ou seja, os dendritos e os axônios, e células de suporte, a glia.

Observe abaixo um cérebro real cortado:

Esta figura veio daqui: http://kobiljak.msu.edu/WebGraphics/Pathgraph/17730.jpg

Observe que o cérebro possui dois hemisférios, o direito e o esquerdo, e essa divisão é particularmente importante, não somente do óbvio ponto de vista anatômico, mas também por que pessoas ditas destras, ou seja, que possuem dominância da mão direita, possuem a função da linguagem predominantemente no hemisfério cerebral esquerdo. Mas isto também ocorre com a maioria dos canhotos, ou seja, que possuem dominância da mão esquerda. Uma minoria da população mundial possui a linguagem predominantemente localizada no hemisfério cerebral direito. Qual a importância disso, você pode se perguntar? Bem, derrames localizados em áreas extensas, ou mesmo pequenas áreas, mas bem localizadas, do hemisfério esquerdo, podem levar à perda da linguagem, a capacidade de se comunicar, o que pode ser desastroso, enquanto que lesões pequenas do lado esquerdo ou lesões de vários tamanhos do hemisfério direito podem levar a alterações da articulação das palavras somente, com manutenção da linguagem.

O cérebro ainda possui sulcos, ou seja, fendas e mais fendas, e que o cérebro é todo dobrado, enrugado em si mesmo. Entre os sulcos temos a massa cerebral propriamente dita, os giros. O cérebro possui uma área de superfície muito grande (cerca de 1500 a 1200 cm2). Se pudéssemos pegar o cérebro de um adulto normal e abri-lo todo, estendendo-o sobre uma superfície lisa, ele cobriria duas folhas do seu jornal de domingo. Logo, as dobras, ou seja, giros, existem para fazer com que ele caiba dentro de sua cabeça. E o cérebro ocupa 70 a 80% do volume do seu crânio (Fonte: http://saude.hsw.uol.com.br/cerebro7.htm).

O cérebro de um adulto normal pesa em média 2% do peso total do corpo, e recebe cerca de 1/4 (25%) de sangue do corpo todo. Chega a pesar em média 1,2 a 1,4 kg, e tem cerca de 100 bilhões de neurônios (Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0284/bem_estar/conteudo_300900.shtml)

O cérebro masculino, pelo tamanho geralmente maior dos homens, pode pesar cerca de 100 a 200 gramas mais que o cérebro feminino, mas isso não mede a inteligência (Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0284/bem_estar/conteudo_300900.shtml).

O funcionamento do cérebro depende de substâncias que são liberadas nas fendas sinápticas, os espaços entre as células, entre dendritos e axônios, que funcionam como a comunicação entre os neurônios. Estas substâncias são os neurotransmissores. Os neurotransmissores mais conhecidos são a dopamina, a serotonina, a noradrenalina, a acetilcolina, o glutamato, o ácido gama-aminobutírico (GABA) e a glicina, mas há vários outros menos prevalentes, e mais localizados em áreas específicas do cérebro. Algumas doenças cerebrais podem ter na falta de seus neurotransmissores a causa de alguns sintomas, como a falta de dopamina na doença de Parkinson, por exemplo.

O cérebro possui áreas de processamento das informações, como uma usina que possui áreas para cada função. Assim, há áreas específicas para o processamento da visão, da audição, do equilíbrio, da memória, da concentração, dos movimentos e sensações do corpo, etc... Mas essa divisão não é tão ortodoxa assim, e áreas cerebrais podem ter mais de uma função, ou grandes áreas podem ser diferenciadas em áreas menores, que lidam preferencialmente, mas não somente, com uma dada função. Assim, a área occipital da visão pode ser dividida em áreas mais específicas para o processamento da velocidade de movimentação do objeto, da profundidade, da sensação de aproximação ou afastamento do objeto, da capacidade de perceber cores, etc...

Observe que o cérebro é dividido em áreas com números, as famosas áreas de Brodmann, em homenagem ao anatomista alemão Korbinian Brodmann, que as descreveu com base em estudos, em 1909. Além disso, Brodmann também, utilizando cérebros humanos, de macacos e de outras espécies, demonstrou a existência de camadas no córtex, ou seja, a substância cinzenta, com vários tipos celulares diferentes.  As áreas de brodmann, numeradas de 01 a 52, estão visualizadas em cores abaixo:

Esta figura veio daqui: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/90/Brodmann_areas_3D.png/220px-Brodmann_areas_3D.png.

 O cérebri pode ainda ser dividido em lobos, que são grupamentos maiores, que servem para facilitar o estudo do cérebro e de suas doenças. Temos os lobos frontal, parietal, temporal, occipital e insular

Observe abaixo:
Esta figura veio daqui: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_BOpC0Fw74CcETm4snZWpjI7-2TWKAe5BI5quFAGWU6M6RyiyzPqUg-iJ8QL6CTa_POl7O18nyX9TJBAyzxmQ5Jklxp_0qZtnr-vOgNHo_d5oSg0YAU-6lOAbPwjZtoCj0OywcOExWco/s400/Sinapsejjjj.JPG

O lobo insular fica dentro do cérebro, embaixo do lobo temporal. Observe abaixo:
Esta figura veio daqui: http://www.auladeanatomia.com/neurologia/sulcosinsula.jpg

Falaremos mais em próximo post.

quarta-feira, novembro 09, 2011

Para que serve a angiografia cerebral?

Este termo também refere-se ao que chamamos de cateterismo cerebral, ou seja, o acesso de uma artéria periférica (do braço ou da perna) para avaliação radiológica de vasos cerebrais (carótidas, vertebrais, e artérias do crânio). O médico, neste exame, insere um catéter bem fino por uma artéria (ou a artéria ilíaca, da coxa, ou a braquial, do braço), que é guiado até a aorta, e de lá para as artérias e veias cerebrais. Assim, injetando-se contraste iodado nos vasos, e tirando chapas de radiografias em vários ângulos e posições, o médico consegue determinar algumas coisas em relação aos vasos da cabeça do paciente.

Este abaixo é um aparelho de angiografia, que nada mais é do que uma máquina de raios X que pode rodar ao redor do paciente, e tirar radiografias de várias posições.

 http://radioactivityci2010.pbworks.com/f/1290007344/angio.jpg
Observe a figura abaixo:

http://www.arthursclipart.org/medical/circulatory/arteries%20of%20the%20body.gif 

Essa figura mostra as artérias principais do corpo, e por ela percebe-se que podemos alcançar as artérias cerebrais através de qualquer artéria periférica pela aorta, a grande artéria que sai do coração e desce até o abdome.

Certo. Você viu como é um aparelho de angiografia, o básico de como é realizado o exame, e como podemos abordar as artérias da cabeça através da perna ou do braço. Mas, como é uma imagem de uma angiografia cerebral?

Como disse antes, a angiografia é uma radiografia de sua cabeça, com os vasos todos cheios de contraste, tirada de vários ângulos diferentes. Assim, podemos ver seus vasos arteriais e venosos (sim, artérias e veias, por que as veias as comunicam com as artérias através através de pequeníssimos vasos chamados de capilares, e podemos ver as veias após o contraste ter saído das artérias e entrado nos capilares).

Observe a figura abaixo:

http://www.meddean.luc.edu/lumen/MedEd/radio/curriculum/Vascular/DSCN0099.JPG 

Observe esta grande artérias. Esta é a imagem de uma angiografia. Esta é a aorta, saindo do seu coração, indo para o tórax e abdome, mas antes dando ramos para os braços (os ramos laterais) e para a cabeça (os ramos que sobem). Os ramos laterais são as artérias subclávias, e os ramos que sobem são as artérias carótidas. As artérias subclávias também dão ramos para a cabeça, as artérias vertebrais. A sombra que você pode ver na parte esquerda da imagem é o coração, já esvaziando o contraste que estava nele.

Observe esta outra figura abaixo:

http://www.lakeshoretech.net/images_videos/angiography_cerebral_integration_4.jpg
Esta é uma angiografia cerebral mostrando a artéria carótida interna dentro do crânio (intracraniana), bifurcando-se em artéria cerebral anterior e média (leia o post sobre artérias da cabeça para saber mais).


Mas para que serve a angiografia cerebral?

A angiografia serve para que os vasos do corpo sejam visualizados de forma natural, in vivo. O médico consegue ver as artérias se enchendo e se esvaziando, e consegue assim dar um diagnóstico mais preciso de lesões arteriais ou venosas cerebrais, A angiografia, por ser um método de contraste invasivo, além de demonstrar o que queremos ver em vários ângulos, permite tirar todas as dúvidas quando pensamos em uma lesão de vasos cerebrais como a causa da doença do paciente.

Mas é um método que deve ser indicado de forma criteriosa somente pelo médico, explicando todos os riscos e benefícios ao paciente e aos seus parentes. Métodos como a angiotomografia (tomografia que consegue ver vasos melhor) e a angioressonância (técnica de ressonância magnética para ver vasos) têm boa sensiblidade, e conseguem ver as lesões mais comuns que podem afetar os pacientes.

Os principais motivos pelos quais o médico pode solicitar este exame são:

1. Obstrução de artéria carótida e das artérias vertebrais - Esta é a causa mais comum de derrame, e o médico deve poder estimar o grau de obstrução de um vaso (estenose) para que possa ditar o melhor tratamento, ou medicações ou cirurgia (endarterectomia, ou seja, a limpeza do vaso a céu aberto, ou colocação de stent no vaso).

http://brainavm.oci.utoronto.ca/images/malformations/carotid_stenosis/carotid_stenosis.jpg 

Nesta figura de cima, temos uma estenose carotídea grave pela angiografia. Sabendo-se do grau de estenose, pode-se propor o tratamento mais correto.

2. Diagnóstico da causa de lesões vasculares - Muitas vezes ocorre uma dor de cabeça súbita ou um derrame em um paciente com ou sem fatores de risco para derrames, como pressão alta ou fumo. O médico deve ir atrás da causa do derrame, para que evite um novo ou complicações mais graves. Em alguns pacientes, a angiografua torna-se importante para que possamos saber a caua exata do problema, e assim tratá-lo. Exemplos são dissecções arteriais, ou seja, quando a parede da artéria é destruída e sangue entra pela parede, produzindo uma segunda luz, podendo causar obstrução arterial e saída de um coágulo para cima, para o cérebro (embolia). Observe abaixo:

http://img.medscape.com/fullsize/migrated/497/907/smj497907.fig1.gif 
Esta figura mostra uma dissecção arterial da carótida, na figura à direita, e a lesão cerebral correspondente, na figura à esquerda, grande por sinal (a área branca e brilhante na imagem é a lesão aguda).


3. Obstrução dos vasos internos da cabeça, como as artérias cerebrais anterior, média e posterior, e a artéria basilar - Quando ocorre um derrame, e o doppler de carótidas não mostra lesão, isso pode ser verdade, apesar de que algumas vezes o doppler pode enganar, e haver sim uma lesão na carótida. Mas nas situações em que não há lesão carotídea, pode haver lesão em vasdos dentro do cérebro, como as artérias cerebrais ou a basilar. A angiografia pode auxiliar nesse diagnóstico, apesar de que técnicas como a angioressonância e a angiotomografia podem ser solicitadas no lugar, por serem menos invasivas e mais seguras.


4. Diagnóstico de aneurismas cerebrais e malformações artério-venosas - Aneurismas são dilatações como sacos das artérias, que possuem parede mais fina, e maior chance de rompimento. Têm como fatores de risco mais comuns o fumo (tabagismo), a hipertensão arterial mal controlada e fatores genéticos. Podem passar despercebidos por toda uma vida, mas podem romper causando dores de cabeça intensas e súbitas, e podem até mesmo levar à morte. Já as malformações artério-venosas (ou MAVs) são lesões cerebrais que se formam durante o desenvolvimento cerebral, formadas por uma artéria grande malformada, vasos malformados e de parede fraca dispersos pela lesão, e uma veia de drenagem. Também podem passar despercebidos, mas podem levar a derrames, crises epilépticas ou romper, levando a sangramento cerebral. Seus diagnósticos podem ser feitos pela angioressonância, pela angiotomografia ou pela angiografia cerebral. Veja abaixo:

http://www.methodsofhealing.com/Healing_Conditions/files/2008/10/Cerebral-Aneurysms.jpg 

Esta figura mostra os tipos de aneurismas cerebrais, e como se parecem.

Abaixo você vê a imagem de um grande aneurisma cerebral por auma angiografia:

http://www.drdavidlanger.com/what_we_treat/cerebrovascular/aneurysms/images/cerebral%20aneurism.JPG.

Uma malformação artério-venosa você vê abaixo, em uma angiografia:

http://www.aneurysm-stroke.com/images/AVM-before.jpg.

Mas veja que técnicas como a angioressonância também vêem malformações e aneurismas muito bem, neste caso abaixo marcado com uma seta vermelha:

http://www.totalfm.com.br/admin/images/3_saude_ciencia_203.jpg.g.jpg

Os aparelhos de programas de angioressonância estão ficando cada vez mais aperfeiçoados e conseguem ver mais coisas do que antes.

5. Diagnóstico de trombose venosa cerebral - Esta é uma causa relativamente rara de derrame. Ocorre quando há obstrução (trombose) das veias da cabeça. Veja abaixo as veias da cabeça:

 http://www.ajnr.org/content/25/5/787/F1.small.gif
Esta é uma imagem de uma angioressonância. Aqui vêem-se as veias cerebrais. Mas veja uma imagem pela angiografia:

http://images.radiopaedia.org/images/12553/9bf8184d23b558893314d160eb6cca.jpg 
Há algumas outras indicações mais raras para a realização de angiografia. Mas o que você deve ter percebido é que este exame é importante, dá várias informações valiosas, mas há exames que dão informações parecidas com menos riscos, como a angiotomografia ou a angioressonância. Mas a angiografia ainda tem o seu papel garantido quando estes exames não conseguem ver o que queremos, e sabemos que há lesão em algum lugar.

Mas a angiografia também serve para o tratamento de algumas lesões vasculares cerebrais. A passagem de um stent (molinha que abre o vaso), a colocação de molas dentro de um aneurisma para fechá-lo, ou o fechamento de uma malformação só podem ser conseguidos pela abordagem dos vasos através da angiografia cerebral. Até o tratamento de alguns tipos de tumores cerebrais podem ser feitos com a angiografia cerebral, como a abordagem de certos tumores cheios de vasos com medicações, por exemplo. Sem a angiografia, portanto, procedimentos salvadores de vida não poderiam ser feitos.

Um stent é o que você vê abaixo:

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJxFmbORpJfgk9kLyeMEghkIKhaUmDIElkZDtd5-SpGQToi-u6ArZcHlsHw8QD5x8xBMY8pSXGaYZbxgBPWbjNgTDhs5vjxRJC46a6GXGxfFjA7Jk6ixpc5CaZ1Cpktb8Xe9tG81EcXFQR/s400/Stent+V1150.jpg
O stent serve para abrir o vaso e rechaçar a placa de colesterol, a placa de ateroma. É uma das modalidades de tratamento vascular para derrames.

Já as molas de auerismas para fechamento dos mesmos são o que você vê abaixo:

http://www.brainaneurysm.com/assets/images/pic-3coils.jpg 
Ou seja, a angiografia cerebral tem vários, mas vários usos. Depende do seu médico a indicação criteriosa do exame, pois pode ser a técnica mais indicada no seu diagnóstico ou tratamento. 








Pequeno dicionário de termos médicos - Tiques

E o que seriam tiques? Em inglês, denominam-se tics, e referem-se a movimentos realizados de forma involuntária ou semi-involuntária de forma estereotipada e persistente. E o que quer dizer tudo isso? Vamos explicar.

Movimentos involuntrários são aqueles realizados pelo nosso corpo contra a nossa vontade, e que podemos, mas que geralmente são incontroláveis. Tremores, mioclonias, distonias são movimentos involuntários que nos não é possível controlar, ou como no caso da distonia, podemos controlar ocasionalmente (veremos isso em posts posteriores).

Os movimentos semi-involuntários podem ser parcialmente controlados como no caso dos tiques, onde a pessoa acometida pode conter os tiques por alguns segundos ou minutos, mas às custas de piora dos movimentos após.

Movimentos estereotipados são movimentos que ocorrem sempre da mesma maneira, no mesmo local. Tiques são assim, mas mioclonias e distonias também o são.

Os tiques podem ser classificados como segue:
1. Tiques transitórios da infância - Toda criança em desenvolvimento pode (não necessariamente vai) apresentar movimentos involuntários ocasionalmente, e tiques podem surgir no decorrer do crescimento e desenvolvimemento do cérebro da criança. Esses movimentos podem fazer parte do desenvolvimento da criança, mas estes movimentos devem ser investigados por um médico quando ocorrerem, para se ter certeza de que são movimentos que fazem parte do desenvolvimento normal da criança, e não doença. Tiques podem ocorrer em crianças pequenas, geralmente como abalos motores de um ou ambos os membros, ou outros movimentos do corpo, como do pescoço ou rosto, e que se repetem diariamente por alguns meses ou anos, e depois somem para sempre. São transitórios, temporários, como sugere a definição.

2. Tiques motores ou fônicos crônicos - Se houver tiques que durem mais tempo, e que ultrapassem o período da infância, pode acabar virando tiques crônicos, que podem persistir por alguns anos. Podem ser tiques motores ou fônicos, estes chamados por que produzem sons, como fungadas, tosses, limpeza da garganta, gritos, nomes, palavrões, ou sons animais, como miados, latidos ou outros.

3. Síndrome de Gilles de La Tourette -Será discutida em tópico a parte posteriormente.

terça-feira, novembro 08, 2011

Pequeno dicionário de termos médicos - Mioclonias

Mioclonias são contrações musculares súbitas, como choques, que podem ser localizadas a uma certa parte do corpo, ou generalizadas. Geralmente produzem contrações de vários músculos, levando a movimento de um membro, de forma súbita e rápida (segundos), ou mesmo de vários segmentos do corpo. Todos nós já sentimos mioclonias. Você já deve ter sentido uma sensação de queda súbita, bem rápida, ocorrendo logo ao pegar no sono ou ao acordar, e a sensação que você tem é que o seu corpo parece pular. Isso é uma mioclonia.

Mas o exemplo mais interessante é o que ocorre quando o seu diafragma, o músculo grande que separa o seu tórax do seu abdome, e que é o maior músculo da respiração, tem mioclonias. Você sabe o nome que se dá às mioclonias do diafragma? Soluço! Pois é, é o soluço. E ele é rápido, súbito. Pode ser parado respirando-se rápido (assim, distende-se o diafragna e melhora-se o soluço), ou deixando-o sem funcionar por alguns segundos (parando-se a respiração por alguns segundos). Mas alguns pacientes podem ter soluços repetidos, por várias doenças neurológicas ou não.

Veja abaixo a figura de um diafragma:

O diafragma é este músculo (em vermelho) que separa o tórax do abdome.